terça-feira, 15 de março de 2016

Sobre Príncipes e Leviatãs.

Por Carlos Melo 
(Cientista político, INSPER)

“A condução coercitiva” de Lula tende a se tornar uma polêmica de longo prazo e um caso clássico da confusão entre Justiça e Política, que no limite será decidida pelos ministros do Supremo – quase nunca com unanimidade, tal sua complexidade de aspectos processuais, filigranas jurídicas, interpretações sutis de leis, artigos, parágrafos, alíneas e acórdãos requer uma vida de dedicação a isto.
E também por seu apelo político, é óbvio. Para o analista político isto tudo é interessante na medida em que expõe conflitos e disputas, à maneira em que conformam um quadro da realidade e expõe suas consequências. Assim como a política não é questão para advogados, o direito e o processo jurídico traz muita confusão para politólogos que não se especializaram nesse mister.
Nos limites do meu saber e de minha profissão, prefiro pensar nessa questão sob dois aspectos: 1) seus efeitos políticos; e, em paralelo, 2) a pouco saudável dependência que, hoje, a política demonstra em relação à Justiça.
Em relação ao primeiro ponto, parece-me óbvio que a condução coercitiva de Lula teve efeito na mobilização das ruas e na ainda maior radicalização do debate. Submeter uma liderança como Lula aos rigores a que outros foram submetidos sempre despertará queixas e aplausos.
Queixam-se aqueles que supõem que a folha de serviços prestados pelo ex-presidente seria um espécie de salvo-conduto; aplaudem os que acreditam que Lula não se distingue dos demais – o que é correto –, mas que também, ao mesmo tempo, não reconhecem qualquer eventual bom serviço prestado ao país pelo ex-presidente.
Os primeiros apontam o autoritarismo e a truculência judicial, a tentativa de humilhar o líder político, acuá-lo; os outros, que Lula se fez e se faz de vítima, tendo aproveitado com maestria as chances que lhe foram dadas pela 24a. fase da Lava Jato; voltando a comunicar-se com sua base social da formal emocional de que é mestre, dramatizando e politizando o processo jurídico; Lula deu seu espetáculo particular e esta será sua narrativa.
Não se trata de discutir qual dos lados têm razão, talvez tenham os dois. Certamente, eventuais erros de Lula não deveriam servir para negar seus acertos; e, tampouco, seus acertos deveriam justificar erros. O fato politicamente relevante é que, daqui por diante, tudo o que se passar na Operação Lava Jato, envolvendo Lula, será analisado com os óculos da política, a inescapável política, mesmo que os argumentos jurídicos sejam justos e os mais perfeitos. Tudo será política. Como disse Danton, às portas da guilhotina, “o processo é político”.
A conexão entre Justiça e Política está dada e ela me parece , de dificultado debate racional e moderado — dispensável discutir o caso dos promotores do MP de São Paulo, espetáculo à parte. Mas, o que mais perturba ao analista político, neste contexto, é a ausência e a fragilidade dos demais Poderes — o Executivo e o Legislativo –, onde, por essência a política deveria correr solta, muito mais do que na seara ou nos debates sobre a Justiça. Eis o segundo e mais fundamental aspecto que gostaria de levantar.
O Executivo, no entanto, afoga-se nas suas mazelas; na crise econômica, nos desatinos de gestão e em crimes praticados nessa interface nebulosa que são as relações empresa-governo no Brasil. O Legislativo, se perde no fisiologismo, no oportunismo eleitoral, na profusão de partidos e interesses menores, no nanismo de suas lideranças.
Os agentes políticos que comandam esses poderes, tanto em um caso como no outro, não demonstram estatura necessária para enfrentar os excepcionais desafios do presente, encontrar e apontar saídas para a crise e conduzir o processo político, arcando com suas implicações e consequências jurídicas. São arrastados pelos fatos, encontram-se na dependência do Poder Judiciário.
O exemplo mais evidente disto se dá em torno do caso de Eduardo Cunha. É justo que o Ministério Público Federal instrua com muito cuidado o processo contra o deputado – é um parlamentar no exercício do mandato; mais natural ainda que o Supremo avalie a julgue os pedidos do PGR com redobrada atenção os processos que envolvem o presidente da Câmara dos Deputados.
Todavia, do ponto de vista político, o caso de Cunha parece absolutamente claro e a demora de uma decisão a seu respeito só tem prejudicado o país. Acusado pelo MPF e considerado réu pelo Supremo, suas condições para presidir a Câmara e ser o segundo na linha de sucessão da presidente Dilma são absolutamente precárias; prejudicam a imagem e, mais, a dinâmica necessária do Congresso Nacional; decisões e encaminhamentos esperados por todos. A maioria do Parlamento, no entanto, se omite ou se dobra aos interesses delongatórios de Cunha. Não há visão nem decisão naquela Casa; ao que parece, espera-se que tudo se decida, afinal, pela Justiça. Uma perigosa omissão política que revela o caráter do Parlamento que se tem, neste momento.
No Executivo, deveria haver maior pró-atividade da presidente da República; o protagonismo presidencial, mesmo. O conjunto de problemas que hoje envolvem  — tanto ou mais que o governo – o sistema político nacional estão à espera de propostas, encaminhamentos, decisão; liderança, enfim. Dilma e seu ministério, no entanto, se anulam no emaranhado de conflitos e de interesses que os cercam; boquiaberto, esperam pelo quê?
Tudo, neste momento, no país, parece esperar as decisões da Justiça. Vendo isto, esse protagonismo judicial, alguns analistas afirmam que as instituições estão funcionando. Ora, não estão, se é que falamos em três Poderes, harmônicos e independentes; se é que Montesquieu ainda faz algum sentido.
Esta dependência em relação ao Judiciário para as questões que encobrem nosso quadro político implica num duplo perigo: paralisia e deturpação de funções, com o maior risco da judicialização da política, o que limita sua legitimidade. A cada um o seu cada um: juízes (e promotores) não podem e nem devem “pensar” e “agir” como políticos; políticos não podem abrir mão da responsabilidade e da iniciativa política que possuem.
A natureza da Justiça não reside na busca de consensos políticos, acordos e pactos; não faz leis, não reorganiza sistemas. Pelo contrário: juízes e promotores cumprem as leis – que podem ser anacrônicas, inclusive – e desmontam sistemas viciados, corrompidos, ilegais. Seu papel não é construir; seu papel não é pactuar; seu papel não é articular interesses. Não se pode esperar isto desses atores, sob risco de uma enorme confusão, de um grande conflito, no futuro.
Isto tudo deveria caber ao sistema político, que se omite. Se omite por que morreu? O país carece de políticos e eles não podem ser substituídos por uma burocracia pública – por mais qualificada que seja, por melhor que sejam suas intenções. Essa burocracia deve existir e cumprir seu papel de Estado, implementar políticas de Estado.
Mas, protagonismo político é outra coisa. Se não há bons políticos neste momento – o que é uma afirmação compreensível, mas desde sempre controversa –, temos um sério problema, cuja discussão e busca de solução não cabe a juízes, mas à sociedade, aos cidadãos. Não eliminemos a necessidade da cidadania, o seu papel e a sua obrigação. Um juiz transformado em herói nem sempre é sinal de instituições saudáveis.
------------------------------------------------
Fonte: http://jota.uol.com.br/


domingo, 13 de março de 2016

Bolsas de estudo no exterior - Canadá

Lançado em 2009, o Programa Futuro Líderes das Américas, do Canadá,  oferece bolsas para estudantes de graduação e pós-graduação, objetivando favorecer o aperfeiçoamento e desenvolvimento de recursos humanos. Abrange diversas áreas, como engenharias e tecnologias da informação, ciências sociais (em sentido amplo), educação, ciências biológicas, etc. As inscrições para seleção de bolsistas no presente ano encontram-se abertas até o dia 29/04. Mais informações aí abaixo. 

Bolsa de estudo no exterior: Programa ELAP no Canadá está com inscrições abertas


1. Quem pode se candidatar a uma das bolsas oferecidas pelo programa Futuros Lideres nas Américas?
Podem se candidatar à bolsa de estudo no exterior oferecida pelo programa Futuros Líderes nas Américas, cidadãos do Brasil, Bolívia, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela, entre outros.
2. Quais são as condições necessárias para que estes cidadãos possam se inscrever no processo?
Para concorrer a uma das bolsas desta edição (2016-2017) é preciso estar matriculado regularmente em uma instituição de ensino superior no Brasil. Além disto, há algumas exigências conforme o nível de estudo: 
§       estudantes de graduação: é necessário que haja um acordo de cooperação prévio entre a instituição brasileira e a instituição canadense.
§  estudantes de mestrado ou doutorado: caso não haja um intercâmbio formal entre as instituições, podem ser consideradas as candidaturas que envolvam uma nova ou já existente colaboração entre professores das instituições do Canadá e do Brasil.
É importante lembrar que, durante o período em que estiverem no Canadá, os bolsistas devem manter o vínculo com seus estabelecimento de ensino no Brasil.
3. Qual o valor da bolsa de estudo no exterior oferecida pelo programa?
O valor das bolsas de estudo oferecidas dependem do tempo de duração do programa: 
§  $7.200 dólares canadenses por quatro (4) meses; 
§  $9.700 dólares canadenses por seis (6) meses.
Estes valores compreendem o transporte aéreo, o visto para o Canadá, o seguro-saúde, livros e equipamentos (exceto computadores), bem como as despesas com moradia.
4. Como se inscrever para concorrer a uma das bolsas do programa?
Para obter todas as informações sobre o processo de candidatura ao programa Futuros Lideres nas Américas, basta acessar a página do International Scholarships

5. Qual o período para realização dos estudos/pesquisas no Canadá?
Os alunos de graduação e pós-graduação que forem aprovados no processo poderão iniciar seus estudos no Canadá entre Julho de 2016 e Fevereiro de 2017.


Manipulação

Tenho repisado nos debates em que participo, conforme a perspectiva das pesquisas sobre massificação, que, dos  fatores que desvirtuam o comportamento humano, dois, por certo, sobressaem logo de imediato: os de caráter ontológico e os de agregação. No primeiro caso, o ser humano pode ser tomado por três elementos que têm a propensão de originar três tipos de violência: 1) a competição, que gera o ataque aos outros; 2) a desconfiança, que ocasiona a violência para se defender; 3) o desejo de glória, nutrindo-se bastante da vaidade, que faz emergir a violência (simbólica ou não) por causa de ninharias, de coisas pequeninas. No segundo caso, temos o comportamento massificado. As respostas em relação ao que consiste a diferença entre o comportamento ‘estritamente individual’ e o comportamento massificado são diversas, mas podem ser congregadas sinteticamente, até porque as distinções são mais de grau do que de natureza. Se o medo, a alegria e a raiva são três emoções humanas fundamentais, quando relacionadas às ‘multidões massificadas e alienadas’, elas se tornam, respectivamente, pânico, júbilo e hostilidade. E assim prolifera a manipulação. Multidões repetindo mecanicamente as mesmas palavras. Tendo isso em atenção, o francês Sylvain Timsit, inspirado nos estudos do linguista Noam Chomsky, definiu como as estratégias de manipulação funcionam. Aí abaixo, estão descritas algumas delas.

 

 manipulação_massas

 


1. A estratégia da distração

O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio, ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes.
A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir o público de interessar-se por conhecimentos essenciais, nas áreas da ciência, economia, psicologia, neurobiologia e cibernética.
Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais

2. Criar problemas e depois oferecer soluções

Este método também é chamado “problema-reação-solução“. Se cria um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja aceitar.
Por exemplo: Deixar que se desenvolva ou que se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas desfavoráveis à liberdade.
Ou também: Criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos. (qualquer semelhança com a atual situação do Brasil não é mera coincidência).

3. A estratégia da gradualidade

Para fazer que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, por anos consecutivos. Foi dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990. Estratégia também utilizada por Hitler.  E comumente utilizada pelas grandes meios de comunicação.

4. A estratégia de diferir

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como “dolorosa e necessária“, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura.
É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente.
Depois, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “amanhã tudo irá melhorar” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se à ideia da mudança e aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5. Dirigir-se ao público como crianças

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse uma criança de pouca idade ou um deficiente mental.
Quanto mais se tenta enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como as de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade.”

6. Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e finalmente no sentido crítico dos indivíduos.
Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar ideias, desejos, medos e temores, compulsões ou induzir comportamentos.

7. Manter o público na ignorância e na mediocridade

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão.
O pressuposto aqui é: “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores e as classes sociais superiores seja e permaneça impossível de ser revertida por estas classes mais baixas.”

8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade

Induzir as pessoas a acreditarem que é moda o ato de ser estúpido.

9. Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem

No transcurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado uma crescente brecha entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas elites dominantes.
Graças à biologia, à neurobiologia, à psicossociologia  e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado sobre a psique do ser humano, tanto em sua forma física como psicologicamente.
O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior que o dos indivíduos sobre si mesmos.


sexta-feira, 11 de março de 2016

Escola, ensino e professores: os caminhos contemporâneos da pesquisa

Do lume do Open Democracy Jornal. 


by Ivonaldo Leite

Every day, everywhere in the world, the educational adventure is being recreated by devoted teachers who are eager to help children, youth and adults to get educated even in the most adverse conditions. In universities, a lot of professors have spent a great deal of their professional lives trying to serve students with research and teaching, seeking the improvement of school systems and engaging in passionate public debates about educational policies.
Thus, the role of the researcher in education is not disconnected from practice educational.
Somehow, the educational researcher is a kind of lawyer for an educational system of quality and relevance in the lives of people. In this way, he seeks to expand the frontiers of knowledge considering it could be made a powerful democratic mean for social change.
But historically the workings of schooling and its relationships with politics have justified and reproduced social inequalities. Actually, the impacts of globalization on the public education systems have caused several situations of social exclusion. As Torres affirms, a number of elements intervene to produce this outcome, including school tracking, racist behavior, elite networking, disciplinary sanctions, lack of relevance of subject matter for people’s life, inefficient resource allocation and lack of efficacy of schooling as measured in drop out and repetition rates or irrelevant pro forma learning.
Traditional schooling usually reproduces, for instance, classists and patriarchal relationships. This is result of the authoritarianism of administrators and political projects, but also of the authoritarianism of knowledge production, distribution, exchange and consumption.
Therefore, contemporaneously, the educational research has several analytical challenges to focus. In this way, we can point out some of them, according to they are described below. 
The first challenge refers to the fact that schooling and knowledge has commodified social relations. Even in the radical camp there is a culture of consumption prevailing. Consequently, there is, for example, a cottage industry  of Paulo Freire’s. There is a large number of intellectuals, many of whom previously were advocating social transformation, that now act as a new class of managers and defended the dominant social order. These new intellectual managers cut across all races, ethnicities, sexual dispositions, genders, religions, and the like.
The second challenge is result of information technology revolution and its impacts on the education. Schooling is losing ground as part and parcel of socialization devices compared to the mass media.[1] The schools are losing relevance; the written word is losing relevance facing the hidden curriculum of the mass media There is a growing sense of fragmentation and isolation in terms of social relationships and relationships of learning and knowledge. There is a kid of solipsism, which may in the end result in political apathy, nihilism, and social disorganization. There is an increased power of unconventional relationships taking over everyday of people. There is, finally, a breakdown in family relationships, in the connections between youth culture and adult cultures, in the connections between teachers and pupils, in the structured mechanisms of social controls, in the rule of the law, and in community intimacy.
In several ways, the lack of relevance of schooling is being augmented with the phenomena of globalization. The dialectics of the global and local show that school, rather than being a space for emancipation is an space for control and social reproduction. The dynamics of the global are demolishing the dynamics of local control of educational establishments.
Last but not least, the third analytical challenge is related to a reality in developing actually. In short, schooling has been more valuable as a park lot for children and youth, helping their parents forget about taking care of them for few hours. Schools resemble more boarding warehouses than learning places. They have lost the edge as state instruments acting in locus parenti  helping children and youth to become socialize in morality, and cultivated in the disciplines of spirit and the body.   
One consequence of restricting the debate about school just pedagogical issues is that there has not sufficient attention paid by education theorists to the development of a more rigorous set of analytic categories that might enable us to make sense of the profound changes which characterize education actually. Consequently, this has tended to result in hyperbole and crude argument about impacts of globalization on education. Usually,  globalization is shown as a unicausal mechanism and a process without a subject. But this is not true. Globalization is the outcome of process that involve economic and political actors with real interests. So, the educational research can’t to analyze the contemporary school phenomena without taking this into account.




[1] Torres, C. A. (2000), Opening Adress, ISA’s RC0$ Midterm Conference of the Research Comittee on Sociology on Education-International Sociological Association on Outcomes and Governance of Schooling, University of Groningen, The Netherlands, July 3-5, 2000. 


quarta-feira, 9 de março de 2016

O adeus a Aldo Ferrer

Uma notícia triste para todos aqueles que se interessam pelos temas de estudo da América Latina e que buscam a afirmação da ciência social latino-americana: faleceu o argentino Aldo Ferrer, economista brilhante e um aguerrido defensor da integração regional e do Mercosul. Num evento há alguns anos em Buenos Aires, sensibilizou-me a força com que defendeu as suas convicções frente ao quadro geopolítico em nosso continente. Fará imensa falta. Aí abaixo, a nota emitida pelo Fórum Universitário do Mercosul a respeito da partida de Ferrer. Shanti, shanti, shanti. 

Aldo Ferrer (D), ao lado de Celso Furtado 


Foto do perfil de FoMerco - Fórum Universitário Mercosul

FoMerco - Fórum Universitário Mercosul



Nota de pesar pelo falecimento de Aldo Ferrer

Com enorme pesar registramos o falecimento de Aldo Ferrer. Sua morte representa uma perda irreparável não só para Argentina como para toda a América Latina. Brilhante economista, Aldo Ferrer foi presidente do Banco da Província de Buenos Aires, ministro da economia e embaixador da Argentina na França. Ferrer foi um aguerrido defensor do Mercosul e da integração latino-americana. Colaborou regularmente com o FoMerco e sempre que sua agenda o permitia participava de nossos Congressos. Nessas ocasiões proferiu memoráveis palestras sobre os grandes temas do desenvolvimento e da integração regional, assim como sobre os riscos da globalização para nossos países.
A América Latina necessita de homens como ele. Fará enorme falta. Nossos sentimentos a seus familiares, parentes e amigos.

José Renato Vieira Martins
Presidente

Vice-presidente
Edison Rodrigues Barreto

Neurociência e representação de memórias


terça-feira, 8 de março de 2016

Condições da existência humana





Conditions de la l’existence humaine 

Ivonaldo Leite

D’accord avec Hannah Arendt[1], le terme vita activa désigne trois activités humanines fondamentales : le travail, l’oeuvre et l’action. Elles sont fondamentales parce que chacune d’elles correspond aux conditions de base dans lasquelles la vie sur terre est donné à l’homme.
Le travail est l’activité que correspond au processus biologique du corpus humanin, dont la croissance spontanée, le métabolisme et éventualment la corruption, son liés aux productions élémentaires dont le travail nourrit ce processus. Sur l’oeuvre, elle est l’activité qui correspond à la non-naturalité de l’existence humanine, qui n’est incrustée dans l’espace et dont la moralité n’est pas compensée par l’éternel retourn cyclique de l’espace. L’ouvre fournit un monde artificel d’objets, nettement différent de tout millieu naturel. C’est à interieur de ses frontiers que se loge chacune des vies individuelles. En troisième lieu, l’action, la activité qui mette directtement en rapport les hommes, sans l’intermédiaire des objets ni de la matière, correspond à la condition de la pluralité, au fait que ce sont des hommens et non pas l’homme, qui vivent sur terre et habitent le monde. Si touts les aspects de la condition humanine ont de quelque façon rapport à la politique, cette pluralité est spécifiquement la condition de toute vie politique.
Alors, ces trois activités et leurs conditions correspondantes sont intimement liées à la condition la plus genrale de l’existnece humanine. C’est-à-dire, la vie et la mort, la natalité et la mortalité.
Le travail n’assure pas seulement la survie de l’individu mais aussi celle de l’espèce. L’ouvre et ses produits conferent une certaine permanence, une durée à la futilité de la vie mortelle et au caractère fugace du temps humain. La action, dans la mesure où se consacre à fonder et maintener des organismes poilitiques, crée la condition de souvenir.
La condition humanine dépasse les condiditions dans lesquelles la vie est donné à l’homme. Les hommes sont des êtres conditionées parce que tout ce qu’ils recontrent se change immédiatement en condition de leur existence. Le monde dans lequel s’écoule la vita activa consiste en objets produits par des activités hummanines. Mais les objets, qui doivent leur existence aux hommes exclusivment, conditionnent néanmoins de façon constante leurs créateurs.
Outre les conditions dans lesquelles la vie est donée à l’homme sur terre, et en part sur leur base, les hommes créent constamment des conditions fabriquées qui sont propres et qui, malgré leur origine humanine et leur variabilité, ont la même force de conditionnement que les objets naturales.
Enfin, tout ce qui touche la vie humaine, tout ce qui se maintient en relation avec elle, assume immédiatament le caractère de condtion de la l’existence humaine.
  


[1] Arendt, Hannah. The human condition. Chicago: University of Chicago Press, 1998.

domingo, 6 de março de 2016

Indivíduos e sociedade: o jogo do poder

Publiquei o artigo aí abaixo no periódico estadunidense Political Affairs, e nele estão bases da ciência social clássica úteis ao entendimento do jogo do poder político e econômico, como o que se verifica no Brasil atualmente. Nos jogos do poder, para se compreender o que está em questão, é necessário um esforço analítico que vá além da aparência do que é divulgado pela mídia, e capte as implicações das relações entre indivíduos, sociedade e economia. 


Individual and Society: The Dialectical Conception of History


362937046c2b6b8841eo2


by Ivonaldo Leite

Human beings and the process of production

The premise of all human society is the existence of living human individuals. The first fact to be established, therefore, is the physical constitution of individuals and their consequent relation to the rest of Nature. All historiography must begin from these natural bases and this modification in the course of history by human activity. 
According to Marx in his critique of political economy, the conception of history rests on the exposition of the real process of production. It starts from the simple material production of life and the form of intercourse, created by this mode of production, i. e., at civil society in its various stages as the basis of all history. Life involves before anything else – eating and drinking, a habitation, clothing and many other things. So, the first historical act is the production of material life itself.
Work is humanity’s basic form of self realization. We cannot live without work. The way in which human's produce their means of subsistence depends in the first place on the nature of existing means which they have to reproduce. It is a definite form of activity of these individuals, a definite way of expressing their life, a definite mode of life.
According to that perspective, history may be divided roughly into several periods, for example, ancient civilization, feudalism and capitalism. Each of these periods is characterized by a predominant mode of production and based upon it a class structure consisting of a ruling and oppressed class. The struggle between these classes, determines the social action and relation among the human beings. In particular, the ruling class which owes its position to the ownership and control of means of productions, controls also the whole moral and intellectual life of the people.
As the materialist dialectic affirms, people enter into definite relations that are independent of their will. In other words, we can follow the movement of history by analyzing the structure of societies, the forces of production, and the relations of production, and not by basing our interpretation on people’s ways of thinking about themselves. Secondly, in every society there can be distinguished the economic base or infra-structured as it has come to be called, and the superstructure within which figures the legal and political institutions as well as ways of thinking, ideologies and philosophies. Thirdly, the mechanism of the historical movement is the contradiction, at certain movements in evolution, between the forces and relations of production. The forces of production seem to be essentially a given society’s capacity to produce, a capacity which is a function of scientific knowledge, technological equipment and the organization of collective behavior or labor.  

Society and social classes
The relations of production which are not too precisely defined seem to be essentially distinguished by relations of property. However, relations of production need not be identified with relations of property; or at any rate relations of production may include in addition to property relations, distribution of national income which is itself more or less strictly determined by property relations.
Now it is easy to introduction the class struggle. A social class in Marx’s terms is any aggregate of persons who perform the same function in the organization of production. For instance, free person and slave, oppressor and oppressed. These classes are distinguished from each other by the difference of their perspective positions in the economy. A social class is constituted by the function, which its members perform in the process of production.
The position which the individual occupies in the social organization of production, indicates the class to which he or she belongs. The fundamental determinant of class is the way in which the individual cooperates with others in the satisfaction of his basic needs of food, clothing and shelter. Other index such as income, consumption, occupation are so many clues of his prestige symbols. Hence, according to Marx, the income or occupation of an individual is not an indication of his class-position i.e., of his or her role in the production process. The separate individual forms a class only in no so far as others have to carry on a common battle against another class; otherwise they are on hostile terms with each other as competitors. On the other hand, the class in its turn achieves an independent existence.
The development process of a social class depends upon the development of common conditions and upon the realization of common interests. Only when the members of a potential class enter into an association for the organized pursuit of their common aims, does a class in Marx’s sense exist. Economic conditions had first transformed the mass of the people of the country into workers. The determination of capital has created for this mass a common situation and common interests. This makes it already a class as against capital, but hot yet for itself. In this struggle this mass becomes united and constitutes itself as a class for itself. The interests it defends become class interests.
So, in that vision of history, revolutions are not political accidents, but the expression of historical necessity. Revolutions perform necessary functions and they occur when conditions for them are given. Capitalists relations of productions were first developed in the womb of feudal society. The French Revolution occurred when the new capitalists relations of production had attained a certain degree of maturity.

Dialectic and social change
It is not my consciousness that determines reality. On the contrary, it is the social reality that determines their consciousness. But the dialectical conception of history affirms that the law of reality is the law of change. There is a constant transformation in inorganic nature as well as in the human world. There is no eternal principle. Human and moral conceptions change from one age the next. Natural and social change occurs in accordance with certain abstract law. Beyond a certain point, quantitative changes become qualitative. The transformations do not occur imperceptibly a little a time, but at a given moment there is a violent, revolutionary shift.
As Marx wrote in his preface to Contribution to the Critique of Political Economy, at a certain stage of their development, the material productive forces of society come in conflict with the exiting relations of production within which they have been work hitherto. From forms of development of the productive forces these relations turn into their fetters. Then begins an epoch of revolution social. 
The dialectic conception of history comprehend the changes in the scope and social structure of advanced capitalism and the new forms of the contradictions characteristics of the latest stage of capitalism in its global framework. 

sábado, 5 de março de 2016

O dia que principiava: as coisas deixam atrás de si um nome

O amanhecer em Cabo Branco - João Pessoa 

Por Leont Etiel

Era um mês que principiava  lentamente, e em que, embora no começo, trazia em si a surpresa de um cansaço visionário. Há situações da vida que se revelam assim: a surpresa está onde não há hipótese para ela, por isso surpresa, grandes, outras pequenas e médias. O fato é que as surpresas não boas têm mais propriamente os nomes de decepção e frustração, ao passo que as agradáveis abrem frestas no tempo para oxigenar a existência e fazer a eternidade de momentos chamados de felicidade.
O tempo de outono recuava dando lugar às chuvas frias de um inverno com ventos fortes e ásperos que estiolavam a calma de folhas ternas das árvores, estas confiante demais, indefesas, perante o ciclo convencional da natureza. Pássaros, assustados, voavam  por sobre o parapeito da janela, onde  habitualmente pousavam na busca de comida, ao mesmo tempo em que cantavam observando o oceano. Um mês que principiava lentamente com chuva. Os bem-te-vis tinham a sua ousadia desafiada pelo cair da água, sendo jogados para um lado e para outro, desviados do seu ordinário trajeto e do seu alvo, e protestavam, com o canto, contra o clima inconstante.
Era um dia de um mês que principiava, daqueles em que, muitas pessoas que convivem em proximidade, são obrigadas a disfarçar a insatisfação, a conter palavras, por trás do silêncio ou de um sorriso pela metade, forçado. O que vai nos pensamentos está em outro local, mas o corpo se faz presente é ali, naquele momento, naquela situação que se apresenta, que se está a viver, e então, como forma de testemunho da presença do corpo na situação em pensamento ausente, palavras são trocadas em monólogos, seguidos estes de sorrisos sem riso interior. E assim se vão os dias.
Tratava-se de um ano com um mês que principiava, num dia em que se fica, sob o cinzento do nublado, a pensar na postura das pessoas que dizem não ter tempo para pensar. E então pensamos em dobro. Porque nada impede uma segunda camada de pensamento e de conjecturas por trás da vivencia da existência ordinária, dos acontecimentos corriqueiros, do comportamento das gentes com as quais se convive, da rotina cotidiana, enfim.
De modo geral, cada um tem certas regiões desconhecidas e não mapeadas que, quando descobertas, fervilham, inquietam-se, caem em dúvidas, e ao mesmo tempo desencadeiam um impulso de luz incandescente. Trazem coisas, trazem situações, trazem os seus nomes.
Stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus. Eco dos ecos: ‘a rosa antiga permanece no nome, nada temos além do nome’. Era um dia de um mês que principiava, daqueles que dizem que as coisas deixam atrás de si um nome.


Batalha final?

Por André Singer 
(Universidade de São Paulo - USP) 

Ao que parece o comando da Lava Jato, cujas formas decisórias ainda estão para ser esclarecidas, resolveu acelerar o passo e deflagrar o ato final da luta iniciada após a reeleição de 2014. A absurda condução coercitiva do ex-presidente Lula para depor na manhã de ontem tenta mobilizar e compactar, numa ofensiva final, os que desejam derrubar Dilma e extinguir o lulismo. Veremos nas próximas semanas se será vitoriosa.
A investigação a respeito do ex-presidente pode estar embasada em critérios técnicos, conforme o defendido pelo representante do Ministério Público (MP) no Paraná para explicar o que está em curso. Só o tempo dirá. Mas a justificativa a respeito da condução coercitiva não para em pé.
Disse o delegado da PF, encarregado de expor as razões da medida, que a mesma foi tomada com vistas a preservar a segurança do próprio Lula. Mas é o contrário. Os confrontos em São Paulo teriam sido evitados se o ex-mandatário fosse convidado a depor com toda a tranquilidade em Brasília, como o fez de outras vezes. Afirmar que se procurava preservar a integridade do depoente não faz o menor sentido.
O juiz Sergio Moro certamente sabe o que se produziria se autorizasse o que autorizou. Era óbvio que haveria repercussão midiática nacional e internacional equivalente à da prisão de uma celebridade. Era esse efeito imagético que buscava.
Com todas as atenções voltadas para o factoide, houve difusão extraordinária das acusações formuladas pelo MP, associando Lula de maneira central ao escândalo da Petrobras. Fazê-lo um dia depois de, com o mesmo sentido, os meios de comunicação serem tomados pela suposta delação de Delcídio do Amaral criou massacre noticioso, o qual açula os ânimos antipetistas.
Na outra frente do tabuleiro, numa vingança clássica, o ex-líder do governo ressuscitou o impeachment. Ao afirmar que a presidente tentou interferir na Lava Jato, abre a porta para a oposição acusá-la de obstrução da Justiça. Até aqui era flagrante a inconsistência dos crimes de responsabilidade atribuídos a Dilma.
Por enquanto não há prova de que a acusação proceda. Por mais credibilidade que tivesse o delator, pelo cargo antes ocupado, trata-se só de sua palavra. Talvez por isso o esforço do Partido da Justiça (PJ), via João Santana, obter a incriminação das contas eleitorais.
O desfecho desta que parece ser a mãe de todas as batalhas dependerá de dois fatores. De um lado, a capacidade de o PJ dar materialidade às imputações lançadas contra Dilma. De outro, da temperatura das ruas, aquecidas pelas manifestações programadas pela direita e pela disposição de luta demonstrada por Lula ao se livrar da injustificada coerção policial.