quinta-feira, 28 de abril de 2016

Enigma, tempo e desperdício de vida



“Alguns disseram que a chave do enigma era a sorte, outros a terra, outros a luz. Zadig disse que era o tempo.
- Nada é mais longo – acrescentou –, porquanto é a medida da eternidade; nada é mais curto, porquanto falta a todos os nossos projetos; nada mais lento para quem espera; nada mais rápido para quem desfruta a vida; estende-se em grandeza até o infinito; divide-se até o infinito em pequenez; todos os seres humanos o negligenciam, todos lamentam a sua perda; nada se faz sem ele; faz esquecer tudo o que é indigno de posteridade  e imortaliza as grandes coisas.
A assembleia concordou que Zadig estava certo.
A pergunta seguinte foi: ‘Qual é a coisa que se recebe sem agradecer, que se usufrui sem saber como, que é entregue aos outros quando não se sabe onde é que se está e que se perde sem perceber?'
Cada um deu a sua explicação. Somente Zadig adivinhou que era a vida.”

(Voltaire - Zadig ou o destino, São Paulo: Escala, p. 108). 

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