quinta-feira, 7 de abril de 2016

Ecologia da ideologia: o real invertido

Por Ivonaldo Leite

Na medida em que a questão ecológica e a crise ambiental foram ocupando um lugar de destaque na agenda contemporânea, foi surgindo, por outro lado, uma posição que, com origem nos Estados Unidos, tem se acentuado nos últimos tempos: a negação do aquecimento global, pelos chamados deniers, conforme a expressão original em língua inglesa.[1] Dessa forma, as discussões sobre a temática ambiental têm, ascendentemente, sido marcadas pela polarização entre deniers e - utilizando também o termo originário em inglês - belivers (os que afirmam a existência do aquecimento global).  
Sem menosprezo pelo debate e pela divergência no confronto de ideias, não nos parece, contudo, que a tese dos deniers encontre respaldo empírico e que a sua linha discursiva tenha sustentação lógico-argumentativa. Na verdade, o que a realidade evidencia é que provavelmente muitos dos cenários apresentados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)/ONU,  em relatórios mais recentes, terão lugar não no ano de 2100 ou mesmo 2050. Poder-se-ão efetivar antes disso, até porque já é possível verificar vários exemplos do colapso ambiental.  Acontecimentos como o furacão Catarina, que arrasou Nova Orleans/EUA, em 2005, assim como o primeiro ciclone tropical no litoral sul do Brasil, em 2004, bem como a subida dos níveis dos oceanos e o aumento das temperaturas são fenômenos concretos, e não invencionices de ambientalistas.
Isso não significa desconhecer que, por vezes, a crise ecológica tem sido apropriada por “grupos de interesses” com o nítido propósito de, a partir de um suposto discurso politicamente correto, fomentar a constituição de um “mercado sustentável”, onde a consciência ambiental é transformada em uma mercadoria que, no final das contas, termina por alimentar a insustentabilidade sistêmica, visto que não é possível existir sustentabilidade em sociedades insustentáveis. Muitas das perspectivas do chamado desenvolvimento sustentável estão por aí, com empresas estendendo a sua atuação a novos nichos de mercado sob o impulso do galope retórico a seu respeito.
Por outro lado, um elemento que depõe contra os negacionistas do aquecimento global, ou pelo menos parte dos deniers, diz respeito, sobretudo nos Estados Unidos, ao fato de eles terem o apoio de grandes corporações (interessadas em avançar sobre o meio ambiente a qualquer custo, em busca de lucro) na sua cruzada denegatória do aquecimento do planeta.





[1] Trata-se de uma posição assumida por políticos (nos EUA, sobretudo do Partido Conservador), empresários e até acadêmicos. A propósito destes últimos, aliás, já foi publicado até mesmo um manifesto deles, em The Wall Street Journal, afirmando que não há razão para preocupação em relação ao aquecimento global. 

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