Por Ivonaldo Leite
Na
medida em que a questão ecológica e a crise ambiental foram ocupando um lugar
de destaque na agenda contemporânea, foi surgindo, por outro lado, uma posição
que, com origem nos Estados Unidos, tem se acentuado nos últimos tempos: a
negação do aquecimento global, pelos chamados deniers, conforme a expressão original em língua inglesa.[1] Dessa forma, as discussões
sobre a temática ambiental têm, ascendentemente, sido marcadas pela polarização
entre deniers e - utilizando também o
termo originário em inglês - belivers (os
que afirmam a existência do aquecimento global).
Sem menosprezo pelo debate e pela divergência
no confronto de ideias, não nos parece, contudo, que a tese dos deniers encontre respaldo empírico e que
a sua linha discursiva tenha sustentação lógico-argumentativa. Na verdade, o
que a realidade evidencia é que provavelmente
muitos dos cenários apresentados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC)/ONU, em relatórios
mais recentes, terão lugar não no ano de 2100 ou mesmo 2050. Poder-se-ão
efetivar antes disso, até porque já é possível verificar vários exemplos do
colapso ambiental. Acontecimentos como o
furacão Catarina, que arrasou Nova Orleans/EUA, em 2005, assim
como o primeiro ciclone tropical no litoral sul do Brasil, em 2004, bem como a
subida dos níveis dos oceanos e o aumento das temperaturas são fenômenos
concretos, e não invencionices de ambientalistas.
Isso não significa
desconhecer que, por vezes, a crise ecológica tem sido apropriada por “grupos
de interesses” com o nítido propósito de, a partir de um suposto discurso
politicamente correto, fomentar a constituição de um “mercado sustentável”,
onde a consciência ambiental é transformada em uma mercadoria que, no final das
contas, termina por alimentar a insustentabilidade sistêmica, visto que não é
possível existir sustentabilidade em sociedades insustentáveis. Muitas das
perspectivas do chamado desenvolvimento sustentável estão por aí, com empresas
estendendo a sua atuação a novos nichos de mercado sob o impulso do galope retórico
a seu respeito.
Por outro lado, um elemento
que depõe contra os negacionistas do aquecimento global, ou pelo menos parte
dos deniers, diz respeito, sobretudo
nos Estados Unidos, ao fato de eles terem o apoio de grandes corporações
(interessadas em avançar sobre o meio ambiente a qualquer custo, em busca de
lucro) na sua cruzada denegatória do aquecimento do planeta.
[1] Trata-se de uma posição assumida por
políticos (nos EUA, sobretudo do Partido Conservador), empresários e até
acadêmicos. A propósito destes últimos, aliás, já foi publicado até mesmo um
manifesto deles, em The Wall Street Journal, afirmando que não há razão para
preocupação em relação ao aquecimento global.
Nenhum comentário:
Postar um comentário