Por Ricardo Melo
Parece
paradoxal, mas quanto mais se aprofunda a investigação sobre a Petrobras, mais
o PT ganha músculos para tentar se manter vivo. Resta saber se ele quer --e
pode-- seguir este caminho.
Seis de fevereiro de 2015. Neste dia,
praticamente todos os jornais do país estamparam na manchete que o PT teria
recebido US$ 200 milhões de propina em dez anos. A afirmação vinha do
ex-gerente da estatal Pedro Barusco, o showman da moda na Lava Jato, My Way ou
outro nome qualquer.
Conforme somos informados, o depoimento de
Barusco, um doente terminal, foi colhido em 20 de novembro de 2014. Por que
veio a público apenas agora cabe à turma do juiz Sérgio Moro explicar.
O mais intrigante não é isso. Nas páginas
internas dos jornais, a salvo as manchetes, deparamos com outras declarações de
Barusco. "Afirma que começou a receber propina em 1997 ou 1998 da empresa
holandesa SBM, enquanto ocupava cargo de gerente de tecnologia de instalações,
no âmbito da diretoria de Exploração e Produção (...) Sendo uma iniciativa que
surgiu de ambos os lados e se tornou sistemática no segundo contrato (...)
firmado entre a SBM e a Petrobras no ano 2000." (Folha, pág. A8, 6/2).
Barusco nada mais faz do que afirmar: o
esquema da Petrobras é velho de guerra. Aliás, foi facilitado por uma lei de
1998. "Esse modelo de concorrência passou a ser usado a partir de 1998,
após o fim do monopólio do petróleo, quando um decreto livrou a estatal da lei
de licitações que rege o setor público.
A intenção era dar mais agilidade à companhia
para enfrentar concorrentes. Uma das inovações foi a licitação por convite, na
qual a Petrobras não é obrigada a divulgar edital nem a aceitar propostas de
qualquer interessado. Ela decide quem pode se candidatar. Depoimentos das
delações premiadas de Pedro Barusco, ex-gerente executivo de Engenharia da
Petrobras, e de Augusto Mendonça, executivo da Setal, revelados na semana
passada, apontam que o uso desse tipo de licitação fortaleceu o cartel que
direcionava licitações e superfaturava contratos, segundo as
investigações". ("O Globo", 8/2).
Nem é preciso um calendário para saber quem
governava o país nos momentos citados por Barusco. De tudo o que ele
supostamente falou, descontando os interesses na delação premiada, fica a
evidência de que a Petrobras sempre foi alvo de um esquema combinando cobiça do
grande empresariado e os políticos/executivos de turno. A roda da fortuna, como
lembra a reportagem acima, foi azeitada em 1998. O PT assumiu o governo em 2002...
Nada disso isenta o partido no poder de
acusações que, se comprovadas, merecem uma justa punição nos tribunais. Situam,
no entanto, a extensão dos delitos pelo tempo e seus personagens.
O que está em questão, quanto mais o juiz
Moro extravasa na cenografia, é a relação promíscua histórica entre os donos do
dinheiro e o aparelho estatal. O PT tem responsabilidade pela falta de coragem,
ou vontade, de romper com este círculo vicioso. Ao mesmo tempo, as provas de
que o esquema envolve "todo o mundo" mantêm Dilma acima da linha
d'água.
Por quanto tempo? Não há resposta para esta
pergunta. Mas de nada adiantam discursos inflamados de Lula convocando
militantes a reagir enquanto o governo que ele defende, desde a reeleição de
2014, só tem feito atacar conquistas do povo humilde. Seta à esquerda e rumo à
direita: eis uma mistura que não costuma dar certo.
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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/207551-seta-a-esquerda-caminho-a-direita.shtml
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