Quando dois pesquisadores da estirpe de Greg J. Duncan (University of Califórnia) e Richard J. Murnane (University of Havard) fazem parceria, é quase certo que resulta em coisa boa. É isso que demonstra a publicação, por ambos, do livro Restoring Opportunity, com foco no que pode dar em certo em educação no contexto de alunos de baixa renda. A base empírica do estudo é a realidade estadunidense, mas, no caso, com muita similaridade em relação ao Brasil. Reproduzo uma espécie de recensão da obra, repercutida pelo Jornal da Ciência/SBPC.
Por Antônio Gois
Lançado no ano passado nos Estados Unidos, o livro
“Restoring Opportunity”, dos professores Greg Duncan (Universidade da
California) e Richard Murnane (Harvard), traz boas e más notícias para quem
acredita que a escola é capaz de reduzir desigualdades e garantir ensino de
alta qualidade para os alunos mais pobres. A boa é que essa é uma missão
possível, como demonstram iniciativas bem-sucedidas que passaram por rigorosas
avaliações. A má é que não é uma tarefa simples e, para dar conta dela, não há
bala de prata.
Sempre baseados num enorme arsenal de pesquisas
acadêmicas, os autores primeiro demonstram como a pobreza e o crescimento da
desigualdade estão ameaçando o sonho americano de mobilidade social. Famílias
mais ricas, cujas crianças já entram na pré-escola com um vocabulário muito
mais amplo que o das demais, estão investindo cada vez mais na educação de seus
filhos, desde a educação infantil até o ensino superior. Enquanto isso, os mais
pobres estudam em escolas de pior qualidade, exatamente como ocorre no Brasil.
Duncan e Murnane apresentam então três projetos com
ótimos resultados e destacam duas características comuns a todos. A primeira é
a existência de uma forte estrutura de apoio à escola e, principalmente, aos
professores, para que possam desenvolver um currículo de alto padrão, com
elevadas expectativas acadêmicas para todos os estudantes. A segunda é a
avaliação (não apenas por testes padronizados) e monitoramento constante desse
trabalho, de modo a garantir que os resultados estejam sendo alcançados,
detectar problemas, e corrigir rumos. Para os autores, essas duas dimensões são
essenciais. Avaliar e cobrar resultados das escolas sem que elas tenham apoio
para promover as mudanças é tão ineficiente quanto oferecer ajuda sem monitorar
se o projeto está sendo de fato bem executado.
Na educação infantil, o projeto destacado foi
implementado em pré-escolas na cidade de Boston, onde a secretaria de educação
estabeleceu um currículo de alto padrão, elevou significativamente os salários
dos professores dos primeiros anos para atrair bons profissionais, e ofereceu a
eles apoio e acompanhamento intensivo do trabalho em sala de aula. No ensino
fundamental, o livro retrata uma rede de escolas privadas que, mantida com
dinheiro público, atende alunos de baixa renda em Chicago. Aqui também o
destaque é para a forte estrutura de apoio criada para orientar diretores e
professores a desenvolverem seu projeto pedagógico. Já no ensino médio, os
autores contam a história de escolas públicas de Nova York que receberam apoio
de empresas e organizações educacionais contratadas pela prefeitura para dar
suporte a esses colégios.
Ao final, Duncan e Murnane se deparam com um
dilema. Por um lado, lembram que há ampla evidência de que simplesmente gastar
mais dinheiro na educação não garante melhoria da qualidade do ensino. Por
outro, reconhecem que os projetos destacados no livro demandaram significativos
recursos adicionais. Diante disso, concluem: “É errado dizer que dinheiro não
importa. Ele pode fazer a diferença, mas somente se usado efetivamente para
melhorar a qualidade da instrução e enriquecer as experiências de aprendizado
das crianças de baixa renda”.
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Fonte: http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/o-que-pode-dar-certo-15408214#ixzz3SaFj5qUa
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