O filme já é de há tempos, mas as análises a seu respeito continuam a ocorrer. O que bem diz do que ele é. 'Uma Mente Brilhante' (baseado na história do Professor/Prêmio Nobel John Nash, no tormento que lhe acompanhou e na luta, ao lado da sua companheira, para o superar) tem atravessado os anos alimentando discussões para além da crítica cinematográfica. Aí abaixo um texto neste sentido, com o sugestivo título de 'Uma Mente Brilhante: o drama de 2002 ainda emociona', do jornalista Darlino Dídimo.
Era
março de 2002. O ano anterior havia sido especial para o cinema
norte-americano, o que podia ser visto na lista de indicados a melhor filme. De
dramas independentes (“Assassinato
em Gosford Park” e “Entre Quatro Paredes”) à melhor parte de uma
grandiosa trilogia (“O
Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel”), passando pelo mais
estupendo musical das últimas décadas (“Moulin
Rouge – Amor em Vermelho”), a qualidade era evidente em todos eles.
Tratavam-se de obras diferenciadas, arriscadas, algumas delas visionárias. Mas
venceu a fórmula. O Oscar foi concedido ao pior dos concorrentes, aquele que
simplesmente atendia às expectativas. Aquele que sabia como derramar lágrimas
em seus espectadores. Aquele drama histórico bem filmado e atuado que surge a
cada ano.
“Uma Mente Brilhante”
saiu carregando quatro estatuetas, que a cada ano perdem mais o seu valor,
enquanto seus adversários são rememorados com maior prestígio. No entanto, não
se pode ignorar os diversos acertos do filme. Ron Roward, Akiva Goldsman, Russel
Crowe e Jennifer Connelly realizaram um longa extremamente correto, que
emociona como poucos e revela com sucesso o doloroso mundo da esquizofrenia,
além de contar uma linda história de amor entre um gênio e sua dedicada esposa.
Apenas não espere ser surpreendido em termos cinematográficos.
O personagem
principal é John Nash (Crowe), um matemático introvertido, mas bastante
inteligente. Para ele, a matéria está em cada ato do seu dia-a-dia, seja ao
observar a feia gravata de um colega de classe ou ao andar de bicicleta pelo
campus da Universidade de Princeton. O desenvolvimento de uma tese de doutorado
bastante pretensiosa no ramo leva o rapaz a mergulhar ainda mais nos números, o
que coincide com o início de um transtorno mental. A doença, porém, não o impede
de conhecer, nos anos 50, Alicia (Connelly), uma bonita estudante que vê em
Nash alguém além de um péssimo professor.
A paquera vira
casamento e a moça passa a ser a principal prejudicada com a piora na saúde do
marido. Alucinações tornam-se constantes, o que levam a fortes tratamentos,
como sessões de eletrochoques e a ingestão de remédios que limitam a
genialidade do matemático. A partir de então, Nash e Alicia começam uma luta
diária para conseguirem levar adiante suas vidas profissional e pessoal. A
inexistência de cura para a esquizofrenia tornam os desafios ainda maiores para
ambos.
Baseado em biografia
homônima escrita por Sylvia Nasar, “Uma Mente Brilhante” é um filme feito para
conquistar prêmios. Trata-se de um drama real e de época, contado da forma mais
didática e linear possível, deixando apenas as primeiras décadas da vida de seu
personagem principal de fora. O que mais incomoda, porém, não é a estrutura
narrativa e sim as opções comerciais feitas pelo roteiro de Akiva Goldsman. A
escolha é exibir quase que exclusivamente o homem que é John Nash, jamais o
profissional ganhador do Prêmio Nobel de 1994.
Logo, seus estudos
que resultariam em descobertas quanto aos equilíbrios não-cooperativos (teoria
que hoje leva o seu nome) são substituídos pelas dores e sofrimentos
resultantes da doença. É quase como explorar a desgraça alheia com a função
demasiadamente correta de alertar e informar o público sobre a enfermidade.
Diálogos artificiais e a falta de complexidade plena também impedem que adentremos,
por completo, a mente perturbada desse homem. Felizmente, Ron Roward e seus
atores transformam a apelação em algo charmoso e cheio de méritos.
Utilizando-se da
trilha sonora mágica de James Horner, o diretor incrementa o básico com cenas
que sabem como misturar imaginação com realidade, não escondendo nem revelando
precipitadamente a verdadeira natureza de alguns de seus personagens. Efeitos
especiais e truques de montagem também ajudam Howard a dar identidade a uma
formato comum de se contar uma história. Algumas cenas se destacam, como a ida
de Nash ao Pentágono ou a que cria uma teoria imediata sobre como conquistar
uma garota.
Mas as melhores
sequências são as que envolvem a relação de Nash com Alicia. Após a entrada da
personagem de Connelly, “Uma Mente Brilhante” transforma-se em um romance
inspirado, que sabe como idealizar o amor entre os dois sem se tornar piegas.
Ron Howard acerta no tom sublime, elevado ao máximo na cena em que ambos
desenham objetos no céu estrelado. A delicada performance de Jennifer Connelly
acrescenta um carisma extra que faz de Alicia uma mulher sensível, mas segura,
sem contar sua beleza.
Russel Crowe também
dá um show a parte, levando-nos às lágrimas na homenagem que Nash faz a esposa
já no desfecho do filme. Com essa conclusão, Ron Howard e Akiva Goldsman
atingem seu objetivo de fazer uma obra pouco original, mas dona de uma
emotividade eficiente que permanece na memória, principalmente na hora de votar
nos melhores do ano. E não precisa ir tão longe na história do Oscar para
perceber que o mesmo fenômeno e erro já se repetiu.
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009.
Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade
Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância,
mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.
Fonte: http://cinemacomrapadura.com.br/criticas/
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