Igor Leite, delegado de polícia em Pernambuco, já aqui referido (http://ivonaldo-leite.blogspot.com.br/2014/06/igor-leite-no-veneno-da-bala.html), segue com o seu livro de ficção 'No Veneno da Bala', que, em verdade, em muito revela a situação da segurança pública no país. Desta feita, do que me chega, reproduzo, aí abaixo, uma passagem da parte IV da obra.
O Veneno da Bala, Parte IV - Igor Leite
"E todos olharam
boquiabertos … a confusão que tomava conta da rua. Nunca, na história
daquela via pública, tinha tanta gente perdido o juízo ao mesmo tempo. Talvez o
míssil não tivesse afetado os policiais, de forma mais gravosa, em razão do
costume de enfrentar situações tensas e de crise. Pelo visto, o mesmo não se
passava com os cidadãos comuns. A explosão tinha afetado o povo além do que se
poderia imaginar. Talvez por isso também o prefeito Silas tivesse reagido
daquela forma alucinada e vingativa – isso e a morte de quase todos os seus
familiares. As pessoas gritavam aos telefones celulares, na tentativa de
conseguir alguma comunicação ou sinal. Gesticulavam alucinadas, soltando frases
sem qualquer nexo. Corriam em todas as direções, derrubando mercadorias e
objetos pessoais, esbarrando uns nos outros e trocando agressões verbais e
safanões.
– Que loucura é essa? – indagou Espiga
com os olhos esbugalhados. Será que essa bomba caiu aqui na rua e nós não
vimos?
Sônia parecia mais compreensiva – Ninguém está
acostumado a lidar com isso, Espiga. O povo não entende nem o que é um míssil!
– justificou.
– São tempo de guerra e insanidade. – completou
Espiga.
Aguiar olhou curioso, mas apesar de espantado
com as reações, sabia que tinham que seguir em frente:
– A polícia militar vai ter que se virar com
essas confusões. Não podemos ficar nesse circo. Tem uma viatura dos fardados
encostando mais na frente. Vamos embarcar e sair logo daqui, antes que o
trânsito pare de vez.
A equipe obedeceu o comando e entrou na viatura.
Mas a delegacia só tinha três carros e um sério problema. Eram todos uma
porcaria! O primeiro era uma caminhonete toyota que estava sem gasolina, pois a
cota de combustível do Estado tinha sido insuficiente para as investigações do
mês. O segundo era uma brasília amarela, mas estava na revisão há 4 meses, com
a rebimboca da parafuseta estourada (sabe-se lá o que é isso). E o único carro
disponível era um celta, na cor preta, que aparentemente era bom, mas o fato é
que algumas lambretas andavam mais rápido que essa viatura, que tinha 200 mil
quilômetros rodados e motor 1.0. As viaturas institucionais sempre foram um
sério, conhecido e batido problema.
– Chefe, vou dirigir essa lata velha de novo? –
perguntou Johnny já de péssimo humor.
– É o jeito, Johnny. Não temos outra. –
respondeu o delegado balançando a cabeça afirmativamente.
– Se eu pegar tétano ou tiver uma úlcera
gástrica, quero ver o governador emprestar aquele carrão 2.0 dele, pra gente
botar pra rodar nos buracos dessa nossa selva de pedra. – replicou o policial.
– Johnny, meu filho, as bicicletas vão
continuar te ultrapassando. – disse Espiga sorrindo – Estou nessas polícia há
mais de 20 anos e o problema continua o mesmo. Aguiar apenas sorriu. Conhecia o
drama e sabia que era a mais pura verdade."
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