BERGER,
Peter L., BERGER, Brigitte. O que é
uma instituição social?
In : FORACCHI, M. M., MARTINS, J.S. (Orgs.). Sociologia
e sociedade. Rio de Janeiro : Livros
Técnicos e Científicos, 1977. p. 193-9
O que é uma instituição social?
Peter L. Berger e Brigitte Berger
Já definimos
a instituição como
um padrão de controle,
ou seja, uma programação da conduta
individual imposta pela sociedade. Provavelmente tal definição não
terá despertado qualquer oposição
no - leitor visto
que, embora difira da acepção comum
do termo, não
entra em choque direto com
o mesmo. No
sentido usual, o termo
designa uma organização
que abranja pessoas, como por
exemplo um hospital, uma
prisão ou, no
ponto
que aqui nos interessa, uma universidade. De outro
lado, também é
ligado às grandes entidades sociais que
o povo enxerga quase como
um ente metafísico a pairar sobre a vida do indivíduo,
como
"o Estado", "a economia",
ou "o sistema educacional". Se pedíssemos ao
leitor que indicasse uma instituição, ele provavelmente
recorreria a um desses exemplos e não
estaria errado. Acontece, porém, que
a acepção comum do
termo parte duma visão
unilateral. Em termos mais precisos, estabelece ligação por
demais estreita entre o termo e as instituições sociais reconhecidas
e reguladas por lei. Talvez isso constitua
um exemplo da influência que os
advogados exercem em nossa maneira de pensar. Seja como
for, no contexto deste trabalho, torna-se
importante demonstrar que,
sob a perspectiva sociológica,
o significado do
termo não é
exatamente este. É por isso
que desejamos ocupar
um momento da atenção do
leitor para, num capítulo pouco extenso,
demonstrar que a linguagem é uma
instituição.
Diremos
mesmo que muito
provavelmente a linguagem é a instituição fundamental da sociedade, além de ser a primeira instituição inserida na biografia do
indivíduo. É uma
instituição fundamental porque
qualquer outra instituição, sejam quais forem suas características e finalidades,
funda-se nos padrões de controle
subjacente da linguagem. Sejam quais forem
as outras características do Estado,
da economia e do
sistema educacional, os mesmos
dependem dum arcabouço lingüístico de classificações, conceitos
e imperativos dirigidos à conduta
individual; em outras palavras,
dependem dum universo de significados construídos através
da linguagem e que só por meio
dela podem permanecer atuantes.
Por outro
lado, a linguagem é a primeira instituição com
que se defronta o
indivíduo. Esta afirmativa pode parecer surpreendente. Se perguntássemos ao
leitor qual é a primeira instituição com
que a criança entra em contacto,
será provavelmente a família que lhe virá à mente. E de certa forma não
deixa de ter razão. Para a grande maioria das crianças a socialização
primária tem lugar no âmbito duma
família específica, que por sua vez representa uma faceta peculiar da instituição mais ampla do parentesco na sociedade
a que pertence. Não há dúvida de que a família é uma
instituição muito importante.(...)
Acontece, porém,
que a criança não toma
conhecimento desse fato. Ela de fato experimenta seus pais, irmãos, irmãs e outros
parentes que possam estar por perto
naquela fase da vida. Só mais tarde
percebe que esses indivíduos em particular, e os atos
que praticam, constituem uma
das facetas duma realidade social muito
mais ampla, designada como "a família". É de supor
que essa percepção ocorra no
momento em que
a criança começa a comparar-se com outras
crianças - o que dificilmente acontece na fase inicial da vida. Já a
linguagem muito cedo envolve
a criança nos seus aspectos macrossociais. No
estágio inicial da existência, a
linguagem aponta as realidades mais
extensas, que se situam além do
microcosmo
das experiências imediatas do indivíduo. É
por meio da linguagem que a criança começa a tomar
conhecimento dum vasto
mundo situado "lá fora", um mundo que
lhe é transmitido pelos
adultos que a cercam mas vai muito além
deles.
A
linguagem: a objetivação da realidade
Antes de mais nada é o
microcosmo
da criança, evidentemente, que encontra sua estruturação através
da linguagem. Esta realiza a objetivação da realidade, o fluxo
incessante de experiências consolida-se, adquire estabilidade numa série
de objetos distintos
e identificáveis. Isso acontece com
os objetos materiais. O mundo
transforma-se num todo
orgânico formado por
árvores, mesas, telefones. Mas a organização
não se restringe à atribuição de nomes,
também abrange as relações
significativas que se estabelecem
entre os objetos.
A mesa pode ser levada para baixo da árvore
se quisermos subir nesta; e pelo telefone
podemos chamar o
médico se alguém
adoece. A linguagem ainda estrutura o ambiente humano
da criança por meio da objetividade
e por estabelecer relações
significativas. Por intermédio
dela a realidade passa a ser ocupada por seres distintos, que
vão desde a mamãe (que geralmente é uma
espécie de deusa reinante, cujo trono está erigido no
centro dum universo em expansão) até
o menininho malvado
que tem acessos de cólera no quarto
contíguo. E é
através da linguagem que se deixa claro que
mamãe sabe tudo e que menininhos malvados
serão castigados; aliás, só através da linguagem tais proposições
poderão continuar
plausíveis; mesmo que a experiência forneça pouca
ou nenhuma prova
em abono das mesmas.
Há outro detalhe importante. É
por meio da linguagem que os
papéis desempenhados pelos
diversos seres se estabilizam na
experiência da criança. Já aludimos aos papéis
sociais quando falamos
no aprendizado da criança para assumir o papel do
outro
- que constitui um passo decisivo
no processo
de socialização. A criança aprende a reconhecer os
papéis como
padrões repetitivos na conduta de outras
pessoas -- trata-se da experiência que já resumimos na frase "lá vai ele de novo"
(1). Essa percepção transforma-se numa
feição permanente da mentalidade infantil
e, portanto, da sua interação com
outras pessoas, realizada por meio
da linguagem. É a linguagem que especifica, numa forma
capaz de ser repetida, exatamente o que a outra
pessoa vai fazer de novo
- "Lá vai ele de novo com
esse jeito de papai castigador", "lá vai ele de novo
com essa cara de quem espera visita", e assim por diante. Na verdade, é só por
meio de fixações lingüísticas como
estas (através das quais a ação alheia adquire um significado definido
que será atribuído a cada ação do
mesmo tipo) que
a criança pode aprender a assumir o papel do
outro.
Em outras palavras, a linguagem
estabelece a ligação entre o "lá vai ele de novo"
e o "cuidado, que
lá vou eu".
A
linguagem: a interpretação e justificação da
realidade
O microcosmo da criança é estruturado em termos
de papéis. Muitos desses papéis, porém, estendem-se ao campo
mais amplo do macrocosmo
ou para usarmos a imagem inversa, constituem incursões do macrocosmo
na situação imediata da criança. Os papéis
representam instituições.(2) No momento
em que o pai assume aquele jeito
de castigador, podemos
presumir que essa ação será acompanhada
de boa dose de verbosidade. Enquanto castiga, o pai fala. Fala sobre o
quê? Parte de sua fala pode constituir apenas um meio de dar vazão à sua contrariedade
ou raiva. Mas, na maioria das vezes, grande parte da conversa constitui
um comentário ininterrupto sobre
o ato
incorreto e o
castigo tão merecido.
As palavras interpretam e justificam o
castigo. E é inevitável que isso
seja feito: duma maneira que ultrapassa as relações imediatas do próprio
pai. O castigo é
enquadrado num amplo contexto ético-moral;
em casos extremos, até
mesmo a divindade pode ser invocada como autoridade
penal. Deixando de lado a dimensão teológica
do fenômeno (sobre
a qual infelizmente a Sociologia
nada tem a dizer), cabe ressaltar que
as explanações sobre a moral e a ética
ligam o pequeno
drama que se desenrola naquele
microcosmo
a todo um sistema de instituições macroscópicas. Naquele momento, o
pai que aplica o castigo
é o
representante desse sistema (mais precisamente do sistema da moral e das boas maneiras como
tais); quando a criança voltar a situar-se no mesmo,
ou seja, no momento em que
repetir o desempenho de um papel identificável, esse papel
representará as instituições do
sistema moral.
Dessa forma,
a criança, ao defrontar-se com
a linguagem, vê nela uma realidade de
abrangência universal. Quase todas as
experiências que sente em termos reais estruturam-se sobre a base dessa realidade subjacente - são filtradas através dela, organizadas
por ela, entram em expansão por
meio dela ou, ao
contrário, por
ela são relegadas ao esquecimento - pois
uma coisa sobre
a qual não podemos
falar deixa uma impressão muito
tênue na memória. Isso acontece com
toda e qualquer experiência, mas principalmente com as experiências ligadas ao próximo
e ao mundo social.
Características
fundamentais de uma instituição: a
exterioridade
Quais são
algumas: das principais
características de uma instituição? Tentaremos elucidá-las por meio
do caso da linguagem.(3) Neste ponto
queremos formular
uma sugestão. Sempre que
o leitor se defrontar
com alguma afirmativa sobre instituições, sobre o
que são e como funcionam,
sobre como
mudam, poderá seguir a norma prática de indagar em primeiro lugar qual á impressão que
se colhe dessa afirmativa se a mesma for aplicada à linguagem. Evidentemente
existem instituições totalmente
diversas da linguagem – pense-se, por exemplo, no
Estado. Todavia, se uma afirmativa formulada em termos bastante amplos, mesmo
depois de adaptada convenientemente a outro
caso institucional, for
totalmente absurda quando aplicada à linguagem, teremos boas
razões para supor que há algo
de muito errado com
a mesma.
As instituições são experimentadas como
algo dotado
de realidade exterior; em outras palavras, a instituição é
alguma coisa situada fora do
indivíduo, alguma coisa
que de certa maneira (duma maneira bastante árdua, diríamos) difere da realidade formada pelos
pensamentos, sentimentos e fantasias do indivíduo.
Por esta característica, uma instituição assemelha-se a outras entidades da realidade exterior, guarda certa semelhança até mesmo
com objetos tais como árvores,
mesas e telefones, que estão
lá fora, quer o
indivíduo queira, quer
não. O indivíduo
não seria capaz de eliminar uma árvore
com um movimento
da mão e nem uma instituição. A linguagem é experimentada desta maneira. Na verdade,
sempre que o indivíduo
fala, está como que
"pondo para fora"
alguma coisa que
estava "dentro" dele - e o que
põe para fora não são
apenas os sons de que
é feita a linguagem, mas os pensamentos que
a linguagem deve transmitir. Acontece que este "por pra fora"
(para exprimirmos o fenômeno
de maneira mais elegante, poderíamos usar o
termo "exteriorização")
realiza-se em termos que não
resultam da idiossincrasia criadora de quem
fala. Suponhamos que
ele esteja falando inglês. A língua
inglesa não foi criada nas profundezas de sua consciência individual. Existia lá fora muito
antes do momento
em que o indivíduo
a usou. Ele a experimenta como
alguma coisa que
existe fora dele, e a mesma coisa acontece
com a pessoa à qual se dirige, ambos experimentam a língua inglesa como
a realidade exterior no momento em que
começaram a aprendê-la.
Características
fundamentais de uma instituição: a objetividade
As instituições são experimentadas como
possuidoras de objetividade.
Esta frase apenas repete, de forma um
tanto diferente, a proposição anterior.
Alguma coisa é
objetivamente real quando todos (ou
quase todos) admitem que de fato
a mesma existe, e que existe duma maneira determinada. Este último aspecto
é muito importante.
Existe um inglês correto e um inglês incorreto
–e isso permanece assim, objetivamente assim, mesmo se o
indivíduo pensasse que as regras que disciplinam a matéria são
o cúmulo da tolice,
e que ele mesmo poderia
encontrar uma forma
muito melhor e mais racional de organizar
a linguagem. É evidente que, via de regra, o indivíduo
não se preocupa com
esse fato, aceita a linguagem da mesma
forma que aceita outros
fatos objetivos
por ele experimentados. A objetividade
da linguagem inicial do indivíduo assume uma
intensidade extraordinária. Jean
Piaget, o psicólogo
infantil e suíço, relata que, em certa oportunidade,
perguntaram a uma criancinha se o sol
poderia ser chamado por
outro
nome que não
fosse "sol". "Não", respondeu a criança. Perguntaram-lhe como
sabia disso. Por um instante a questão
deixou-a intrigada. Finalmente apontou
para o sol e disse - "Ora, basta olhar para ele".
Características
fundamentais de uma instituição: a
coercitividade
As instituições são dotadas
de força coercitiva. Em certa medida, esta qualidade
esta implícita nas duas que já
enumeramos: o poder
essencial que a instituição exerce sobre
o indivíduo consiste
justamente no fato de que
a mesma tem existência objetiva e não pode
ser afastada por ele. No entanto,
se acontecer que este não note
o fato, esqueça
o mesmo - ou,
o que
é pior
- queira modificar o
estado de coisas existentes, é nesta oportunidade que muito
provavelmente a força coercitiva
da instituição se apresenta de forma bastante rude. Numa família esclarecida da classe média, e numa
idade em que todos
concordam
que tais deslizes são de, esperar, a criança geralmente é submetida a uma persuasão suave enquanto ofende
os padrões do inglês correto. Essa persuasão suave poderá
continuar a ser aplicada numa escola
progressista, mas raramente o será pelos
colegas que a criança encontra na mesma. Estas provavelmente reagirão a qualquer
infração ao seu código de inglês correto
(que evidentemente não é
o mesmo do
professor), por
meio duma zombaria
brutal e possivelmente de represálias
físicas. Se o adulto insiste nessa atitude de desafio ficará sujeito a represálias partidas de todos
os lados. O
jovem de classe operária poderá
perder a namorada se não quiser falar "bonito",
e por esse mesmo motivo poderá
perder a promoção.
O dicionário
Webster e o manual Modern English Usage, de Fowler, montam
guarda em cada degrau da escada de ascensão
social. Mas ai do jovem
da classe média que continue
a falar bonito no
exército! E ai também do
professor de meia idade que pretenda captar as simpatias dos jovens,
falando a linguagem deles;
evidentemente, estará sempre ao menos dois
anos atrás das convenções destes, sujeitas sempre a mudanças
rápidas, e seu choque com o
poder coercitivo
da linguagem atinge as feições patéticas
duma tragédia de Sófocles.
Reconhecer
o poder
das instituições não é o
mesmo que afirmar que elas não podem
mudar. Na verdade, elas mudam constantemente
– precisam mudar pois não passam de resultados necessariamente difusos da ação
de inúmeros indivíduos que
"atiram” significados para o mundo.
Se de um dia para o outro
todos
os habitantes dos Estados
Unidos deixassem de falar Inglês, a
língua inglesa deixaria de existir abruptamente como
uma realidade institucional do
país. Em outras palavras, a existência
objetiva da linguagem depende da fala
ininterrupta de muitos indivíduos que,
ao se comunicarem, exprimem suas intenções,
significações e motivos de ordem
subJetiva.(4) É claro que
essa objetividade, ao contrário da objetividade
dos fatos da natureza, nunca pode assumir caráter estático. Muda constantemente,
mantém-se num fluxo dinâmico,
e às vezes sofre convulsões violentas. Mas para o indivíduo
não é
fácil provocar mudanças deliberadas. Se depender
exclusivamente dos seus esforços
individuais, as possibilidades de êxito num empreendimento desse tipo serão
mínimas. Imaginemos que o
leitor se lance à tarefa de reformular a gramática ou de renovar
o vocabulário. É
possível que tenha algum êxito no
microcosmo
que o
rodeia. Ê até provável
que tenha conseguido
êxito no tempo
de criança: talvez sua família tenha adaptado
algumas das criações mais extravagantes
de sua fala de bebê, incorporando-as
à linguagem intragrupal da família. Como adulto,
o indivíduo poderá
alcançar pequenas vitórias como
estas quando fala à esposa ou
ao círculo de seus amigos mais íntimos.
Mas, se não
for considerado
um "grande escritor" ou um estadista, nem realizar esforço
imenso para congregar as massas em torno
de sua bandeira de revolução lingüística (neste ponto
poderíamos evocar
o reavivamento do
hebraico Clássico no
sionismo moderno ou
os esforços
menos bem sucedidos de fazer a mesma coisa com
o gaélico da Irlanda), o impacto
alcançado sobre a linguagem de seu macrocosmo será provavelmente
nulo no dia em que
abandonar este vale de palavras.
Características
fundamentais de uma instituição:
autonomia moral
As instituições têm uma autoridade
moral. Não se mantêm apenas através da coercitividade.
Invocam um direito à legitimidade; em outras palavras, reservam-se o direito
de não só ferirem o indivíduo
que as viola mas ainda o de repreendê-lo no
terreno da moral. É
claro que o
grau de autoridade moral atribuído às instituições varia de caso para caso.
Geralmente essa variação se exprime
através da gravidade do castigo
infligido ao indivíduo
desrespeitoso. O
Estado, no caso
extremo, poderá matá-lo enquanto
a comunidade duma área residencial talvez se limite a
tratar friamente sua esposa, quando esta freqüenta o clube. Num caso como noutro, o
castigo é acompanhado dum sentimento de honradez
ofendida. Raramente a autoridade moral
da linguagem encontra expressão na violência
física (muito embora por
exemplo existam situações no Israel moderno onde
a pessoa que não
fala o hebraico pode
ficar sujeita a certo desconforto físico).
Geralmente exprime-se um estímulo
bastante eficiente, representado pela
sensação de vergonha e, por
vezes, de culpa que se apossa do
infrator. A criança estrangeira que continuamente
comete erros de linguagem, o pobre
imigrante que carrega o fardo
do sotaque, o
soldado que
não consegue superar o hábito
arraigado da fala polida, o
intelectual de vanguarda cujo falso jargão
mostra que não
está "por dentro", todos eles são
indivíduos que experimentam um sofrimento
muito mais intenso que
o das represálias externas; quer queiramos, quer
não, temos que
reconhecer neles a dignidade do sofrimento moral.
Características
fundamentais de uma instituição: a
historicidade
As instituições têm a qualidade da historicidade. Não são
apenas fatos, mas fatos históricos; têm uma
história. Em praticamente todos os
casos experimentados pelo
indivíduo, a instituição existia antes que ele nascesse e continuará a existir depois de sua morte. As idéias corporificadas na instituição foram
acumuladas durante um longo período de tempo,
através de inúmeros indivíduos cujos
nomes e rostos
pertencem irremediavelmente ao passado. A pessoa
que fala o inglês contemporâneo
dos Estados Unidos,
por exemplo, reitera sem o saber as experiências verbalizadas de
gerações mortas - os conquistadores normandos, os
servos saxões, os escribas eclesiásticos, os
juristas elisabetanos, além dos
puritanos, dos homens
da fronteira, dos gangsters de Chicago e dos
músicos do jazz que
viveram em épocas mais recentes.
A linguagem (e, de fato, geralmente o mundo
das instituições) pode ser concebida como um grande rio que
flui através do tempo.
Aqueles que por
um momento viajam em suas águas ou vivem às suas margens continuamente atiram objetos
nele. Na sua maioria, estes vão ao
fundo ou se dissolvem
imediatamente. Mas alguns deles se consolidam e são carregados
por um período
mais curto ou mais longo. Apenas uns poucos
percorrem todo
o trajeto, chegando
à foz, onde este rio, tal qual todos
os outros, se despeja no oceano do
olvido, que
é o
fim de toda história empírica.
Para Karl Klaus, um escritor austríaco, a linguagem é a habitação do
espírito humano.
É ela que proporciona
o contexto vitalício
das experiências dos outros,
do próprio indivíduo,
do mundo. Mesmo
ao imaginarmos mundos
situados além deste, somos
obrigados a formular
nossos
temores e esperanças em palavras. A linguagem é a instituição social
que supera todas as outras.
Representa o mais poderoso instrumento de controle da sociedade
sobre todos
nós.
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