Em Suave é a Noite (Tender is the Night, em inglês), Fitzgerald narrou aquilo que foi chamado de 'atmosfera de falsa euforia', para mostrar como o tédio e a hipocrisia buscam os seus disfarces. Abaixo, uma resenha do livro.
Lucas Deschain
Suave é a Noite (1934) é considerado por
muitos a obra prima de Francis Scott Fitzgerald, muito embora o autor seja
também muitíssimo conhecido por O Grande Gatsby (1925), ou, recentemente pelo filme O
Curioso Caso de Benjamim Button (2008),
adaptado de uma história sua (1922).
O romance de 1934 possui uma ambientação muito similar a de O
Grande Gatsby, embora se passe em grande parte na Europa, e conta a
história de Richard Diver, um psiquiatra que se apaixona por uma paciente sua,
Nicole Warren. É forçoso reconhecer que a trama não é marcada por grandes
reviravoltas nem por conter muita ação ou aventura. Além disso, Fitzgerald
mantém o tom de suas outras obras, o da chamada “geração perdida”, da qual é
considerado representante; e o desenvolvimento dos personagens no âmbito
psicológico, com menção especial, logicamente, de Dick Diver; refletem preocupações
muito características de um estrato muito específico da sociedade da época, uma
high society que ainda parecia sentir os eflúvios inebriantes da Belle
Époque, ao mesmo tempo em que se encontra às voltas com uma crise
econômica sem precedentes, a famosa Crise de 29.
Mesmo que a história de
Dick Diver se passe em 1926, principalmente, os desdobramentos catastróficos do crackda
Bolsa de Nova York ainda ecoavam na mente do escritor, que, usando dos
encontros e desencontros amorosos de um psiquiatra, consegue registrar o
espírito de um tempo, a essência de uma sociedade que se encontra ora
preocupada com seu status e com a saúde de seus negócios, ora gozando do
glamour e da classe de todo o luxo que o dinheiro pode proporcionar.
O balanço pendular que embala os magnatas e as exuberantes damas
que bebem gins tônicas e ouvem jazz em suntuosos salões de festa, leva-os a
preocupação financeira e ao gozo da vida intermitentemente, criando uma tensão
que marca vários dos livros de Fitzgerald, e que parece ter sido uma das
preocupações de sua geração. A hesitação, que parece perdurar no espírito de
Dick, se mantém tanto em sua vida profissional quanto em sua vida amorosa,
dando a impressão de que altos e baixos se sucedem com tanta fugacidade, que a
inércia acaba por guiar suas ações.
Alternando um belo itinerário europeu, que conta com a Riviera
Francesa e a bela Itália, com as idas e vindas de uma indefinição amorosa,
Fitzgerald criou sua própria e emblemática visão de uma sociedade marcada por
grandes incertezas. A separação entre América e Europa, entre a tradição
européia e o american way of life marca também o desenrolar da vida de Dick
Diver, aparecendo na obra como dois universos infinitamente distintos.
Apesar do clima do enredo ser ameno, o desenvolvimento psicológico
dos personagens aliado ao retrato pintado com tão belas tintas de uma sociedade
cujos homens de letras ficaram conhecidos como “geração perdida” fazem a trama
valer a pena. As reminiscências de suas outras obras, como Os
Contos da Era do Jazz (1922)
e O Grande Gatsby, contribuem para desfraldar os
horizontes da visão de um certo escritor sobre seu tempo e como seus livros
ajudam a desvendar uma série de questões que marcaram os Estados Unidos pré e
pós-Crise de 29.
Unindo a perspicácia da observação de seu tempo com uma
habilidade literária já tida como clássica, Fitzgerald conduz o leitor por uma
série de situações, em que a alternância de sentimentos e valorações retratam
com maestria os sentimentos daqueles homens e mulheres que viveram a célebre
Era do Jazz.
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