Há 38 anos,
eclodia em Portugal a Revolução dos Cravos. O 25 de Abril de 1974 pôs fim a
cerca de meio século de ditadura fascista. A Revolução das flores na mão, tendo
a música de Zeca Afonso como hino (Grândola, vila morena/em cada esquina um
amigo/em cada rosto igualdade). Mas, o que dizer do 25 de Abril hoje? Há cerca
de 13 anos, o saudoso Francisco Martins Rodrigues colocou a questão exatamente
nestes termos - ele que produziu uma obra sobre o pós-25 de Abril sugestivamente
intitulada ‘O Futuro era Agora’. Rodrigues indicava os prenúncios da crise
europeia sobre Portugal, hoje confirmada. A sua pergunta foi ‘O que resta de
Abril?’, ao que apresentou o seguinte texto como resposta:
“Muito pouco,
quase nada (...). Ainda se pode falar livremente, é certo. Mas que é feito
daquela bela dignidade das pessoas comuns que (...) subitamente descobriram
já não haver motivos para temer a força armada e (...) e se reuniam em
assembleias para discutir e resolver espontaneamente as questões da sua vida
coletiva, ou para se manifestar espontaneamente nas ruas? Essa foi banida sem
deixar rastro, porque era a essência da própria democracia. Essa novidade
eletrizante, a que alguns chamam com condescendência a utopia, era simplesmente
a descoberta de que a democracia pode ser algo mais do que o espetáculo das
instituições (RODRIGES, Francisco Martins. Abril
Traído. Lisboa: Edições Dinossauro, p.8).
Mas, apesar
disso, vale lembrar o 25 de Abril e cantar o futuro agora, como forma de lembrar que, seja em que país for,
a dialética da mudança se faz presente. Na voz lusa do Madredeus:
Ai que ninguém volta
ao que já deixou
ninguém larga a grande roda
ninguém sabe onde é que andou
ao que já deixou
ninguém larga a grande roda
ninguém sabe onde é que andou
Ai que ninguém lembra
nem o que sonhou
(e) aquele menino canta
a cantiga do pastor
nem o que sonhou
(e) aquele menino canta
a cantiga do pastor
Ao largo
ainda arde
a barca
da fantasia
e o meu sonho acaba tarde
deixa a alma de vigia
Ao largo
ainda arde
a barca
da fantasia
e o meu sonho acaba tarde
acordar é que eu não queria.
ainda arde
a barca
da fantasia
e o meu sonho acaba tarde
deixa a alma de vigia
Ao largo
ainda arde
a barca
da fantasia
e o meu sonho acaba tarde
acordar é que eu não queria.
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