Aí abaixo você tem um artigo de Alexandre Rands Barros, Professor da Universidade Federal de Pernambuco, e um pesquisador em acensão no quadro de renovação do pensamento social brasileiro. No texto, ele traz à baila uma expressão carregada de "significação comportamental", em língua inglesa, e que tem muito a dizer à realidade brasileira: accountabilitty. Compromisso, prestação de contas. Vale a pena conferir.
Os indivíduos e a necessidade de prestação de cotas dos seus atos |
Por Alexandre Rands Barros
"Accountability"
é uma palavra inglesa sem tradução literal para o português. Define a obrigação
de indivíduos de prestar conta de seus atos a outros indivíduos.
Responsabilização talvez seja um termo
similar. Ausente em nosso idioma, "accountability" é um atributo que
falta também ao setor público brasileiro, o que se constitui em uma das
principais fragilidades microeconômicas do país, da qual decorrem várias outras.
Dois problemas reduzem a competitividade do
Brasil: a lerdeza do setor público e a seleção adversa que ele promove entre
empresas. O primeiro problema diz respeito à lentidão com que toma decisões e o
fato de impor seu ritmo aos processos, mesmo quando agentes privados estão
envolvidos.
O segundo é menos óbvio. Suponha que haja
duas empresas: uma com maior eficiência relativa em introduzir tecnologias e
administrar processos produtivos e outra com maior eficiência relativa em ter
bom relacionamento com o setor público e capacidade de encontrar os caminhos
facilitadores da corrupção.
Infelizmente, no nosso país, é maior a
probabilidade de a segunda empresa sobreviver, mesmo sendo menor sua potencial
contribuição à sociedade.
Para reduzir o efeito perverso desses dois
problemas, precisamos de mais "accountability" do setor público. Eis
uma sugestão de como isso poderia funcionar.
Todos os processos que envolvem ações do
setor público seguiriam um cronograma. Se, por exemplo, uma prefeitura quisesse
aprovar planos para construção de prédios, ela teria um prazo para concluir os
procedimentos. Se o prazo não fosse cumprido, as demandas do setor privado
seriam automaticamente aprovadas e o responsável pela atividade do lado do
setor público seria responsabilizado pela aprovação.
Além disso, criar-se-ia um tribunal bipartite
para assegurar que os funcionários públicos respondessem por seus atos. Os
juízes teriam seleção semelhante aos classistas do passado, com escolha dos
sindicatos patronais e de empregados.
Qualquer indivíduo que se considerasse
prejudicado por uma ação de servidor público poderia recorrer a esse tribunal.
Se ganhasse a causa, o réu teria duas opções: pagar o prejuízo ou perder seu
vínculo empregatício com o setor público.
Isso evitaria, por exemplo, que membros dos
tribunais de contas embargassem obras sem motivos relevantes e bem embasados,
pois teriam que estar dispostos a responder pelos prejuízos.
Funcionários públicos, fossem eles fiscais ou
gestores de serviços ofertados ao setor público, poderiam ser responsabilizados
por multas e autuações aplicadas ou custos processuais, caso esse tribunal,
tendo sido acionado, julgasse sua ação improcedente.
Tais medidas trariam maior equilíbrio nas
relações entre os setores privado e público, pois os funcionários públicos
teriam mais responsabilidade com o primeiro por conta da possibilidade de
enfrentar os tribunais. Além disso, as medidas reduziriam a seleção adversa
entre empresas, que muitas vezes acaba por beneficiar as menos eficientes.
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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2013/12/1382475-alexandre-rands-barros-responsabilizar-a-pessoa-certa.shtml
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