terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Deputado Sérgio Leite: missão impossível?

Dizia Otto von Bismarck que 'a arte da política não se faz com discursos, festas e canções; ela faz-se com sangue frio'. Analisando bem o quadro político brasileiro, em função das eleições presidenciais de 2014, percebe-se que essa divisa do antigo diplomata e estadista prussiano vem sendo seguida, com régua e compasso, em Pernambuco. Em movimentos silenciosos, feitos com precisão e de forma estratégica, entabulados pelo Governador Eduardo Campo e seu staff, o quadro político no estado se alterou profundamente. Primeiro, levou-se o PT a um processo de autofagia na escolha do seu candidato para Prefeitura do Recife, o que resultou numa derrota acachapante do partido e a perda do governo municipal. Depois, por vias não muito convencionais, praticamente apontou-se a porta de saída ao partido para desembarcar do governo estadual: saída dos petistas, entrada do PSDB. Foi esse o contexto que fez com que, há poucos dias, o Deputado Estadual Sérgio Leite (PT) se tornasse líder da oposição na Assembleia Legislativa pernambucana, oposição a um governo do qual, até à véspera, o seu partido era fiel aliado. Por suas credenciais, o deputado foi escolhido por unanimidade entre os seus pares. Membro dos quadros da polícia civil, Sérgio Leite é oriundo de uma estirpe de reconhecida linhagem política; diferente do padrão originário, situou-se na cena política à esquerda (seja lá o que isso signifique). Reconhecido por suas incursões nos 'complexos meandros' da questão da segurança pública, é ponderado, mas apto a ação quando necessário. Faz lembrar o lema confuciano a respeito do sábio e do tolo, cuja lição a extrair é: 'quem age com cautela raramente erra'. Pois bem, Leite não terá tarefa fácil na condição de líder da oposição ao Governo Eduardo Campos. A sua missão é impossível? O tempo há de dizer. De toda forma, ter presente a divisa de Bismarck pode ser de alguma utilidade. Sobretudo, quando o projeto presidencial do Governador Eduardo Campos faz valer a arte da política e alarga-se de forma imprevisível, como afirma o analista Ricardo Melo no texto abaixo. 

Deputado Sérgio Leite: indicado por unanimidade ao combate

O PS[D]B de Campos e Marina

Por Ricardo Melo

Aconteceu em 3 de janeiro, no Recife, o enterro de mais uma suposta tentativa de criar algo novo na política brasileira. Com pompa e circunstância adequadas, a data marcou o embarque dos tucanos do PSDB no governo de Eduardo Campos, do PSB. O discurso do anfitrião mais parecia um obituário envergonhado.
"Aprendi com meu avô, o ex-governador Miguel Arraes, o valor das alianças políticas. Mas não alianças feitas para interesse de políticos ou de partidos. Temos sempre de saber fazer alianças colocando os interesses do povo no centro do que está sendo feito. Esta é a distinção entre a velha e a nova política", comemorou o governador, no melhor estilo me engana que eu gosto.

Eduardo Campos, Aécio e Marina: movendo as peças do xadrez político
 
Todos sabemos a que "povo" interessa a cerimônia realizada no Centro de Convenções, sede provisória do governo estadual. Pergunte a algum cidadão comum pernambucano que grande diferença fará a entrada de um tucano na secretaria estadual do Trabalho e na presidência do Detran local ""cargos assumidos pelo PSDB.
A resposta é óbvia. Ou alguém sinceramente acha que o emprego no Estado vai disparar ou ao menos a carteira de habilitação local sairá mais rápido com tais mudanças? A própria (pouca) importância dos postos aceitos pelo PSDB escancara o sentido da barganha. O fato é que a cerimônia serviu para mostrar que, entre a velha e a nova política, o governador cravou sua opção: escolheu a velha, levando junto a ex-ministra Marina Silva.
Que fique claro: ninguém pode contestar o direito de Campos aliar-se com quem quiser. Se há alguma coisa em que o Brasil é insuperável é na, vamos dizer, elasticidade das composições partidárias. Do governo federal às administrações locais, é possível encontrar misturas que desafiam tanto a coerência de programas quanto os limites da análise combinatória. Alianças sempre, evidentemente, "em nome do interesse do povo".
O que se discute mais uma vez é a propaganda enganosa. Pouco tempo atrás, Campos e Marina firmaram um acordo para o ingresso da ex-ministra no PSB. No evento, anunciado como a aurora de um novo modo de fazer política, as duas figuras discorreram sobre a importância daquele momento. Lideranças da Rede usaram e abusaram do repertório sonhático para dourar o enlace.
Mas na prática a teoria é sempre outra. Como se viu, nem foi preciso muito tempo para sentir o cheiro de mofo na própria casa do anfitrião. Em mais um rasgo de sinceridade, a deputada Luiza Erundina, do PSB de Campos e Marina, foi direto ao ponto. "A lógica eleitoral se superpõe a tudo. Somos vítimas desta lógica", disse em entrevista publicada na Folha de ontem.
E a lógica eleitoral do momento, para Campos e cia., é impedir a reeleição de Dilma e ponto final. Nada de errado nisso: faz parte do jogo e é seu direito. Pede-se apenas ao pessoal que chame as coisas pelo nome, sem tentar vender como novidade as práticas mais gastas e requentadas da política brasileira.
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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/146522-o-psdb-de-campos-e-marina.shtml

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