quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Rumos da universidade

O sociólogo Simon Schwartzman costuma despertar polêmica com algumas das suas posições. Contudo, não se pode desconhecer a sua vasta obra, construída com uma consistente sustentação empírica. Abaixo, extratos de uma entrevista por ele concedida ao Portal da Unicamp (http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/) a propósito das perspectiva do ensino superior. Apontamentos para um debate plural sobre a universidade brasileira. 


 

Como o senhor vê a questão da ampliação do acesso ao ensino superior no Brasil?
Nós últimos anos, tem ocorrido um aumento no número de matrículas no ensino superior. Gradativamente, a população tem ficado mais educada, mas temos duas barreiras que continuam limitando o crescimento do sistema. A dimensão do ensino médio ainda está longe do ideal, bem como a sua qualidade, que em boa parte é precária. A quantidade de pessoas capacitadas para entrar no ensino superior é pequena. Além disso, o Brasil não criou um sistema diferenciado de educação pós-secundária, como fez o Chile, que tem segmentos de ensino profissional e técnico, o que dá mais possibilidade de atendimento e de formação da população. Aqui, ou você faz a universidade convencional ou não tem alternativa.

Muito se tem falado sobre a necessidade de as universidades se internacionalizarem. Esse é um jogo para todos? Se não, como identificar as instituições vocacionadas para se tornarem escolas de classe mundial?
Alguns países, como Alemanha, fazem avaliação interna e decidem concentrar recursos nas instituições que possam jogar esse jogo. Evidentemente, não é para todo mundo. É uma posição que cada instituição pode até pretender, mas cabe o governo, federal ou estadual, identificar aquelas que têm condições para se transformar em instituição de classe mundial. É para estas que são concedidos os instrumentos legais e financeiros para que possam subir de patamar.

E que papel deve caber àquelas universidades que não disputarão esse jogo internacional?
O exemplo americano é bom. Os Estados Unidos têm 3 mil universidades, mas somente 300 fazem pesquisas. As outras são de formação. O país tem escolas de quatro anos, de dois anos e as que formam professores, para ficar em três exemplos. Nesse sistema de ensino superior, a grande maioria das pessoas vai adquirir uma formação profissional ou uma formação mais geral para a sua vida. Ou seja, grande parte das instituições não é de pesquisa e nem atua em nível mundial. As instituições têm que ter qualidade naquilo que elas se propõem a fazer. É possível, por exemplo, ter uma pequena universidade que atende alunos com baixa formação, mas que consegue fazer com que eles ampliem o conhecimento e se qualifiquem melhor. Ela não precisa fazer pesquisa e nem competir internacionalmente para realizar um trabalho que traga benefícios para a sociedade. Nem todo mundo precisa estar na ponta.

O que o senhor pensa sobre o programa Ciência sem Fronteiras?
A ideia é boa, mas tudo indica que as ações foram precipitadas A ênfase dada foi para cursos muito curtos de graduação. Para o aluno, é muito bom ir para o exterior por oito meses ou um ano. Do ponto de vista do aproveitamento acadêmico, porém, talvez não seja tão bom assim. Esse estudante vai levar pelo menos seis meses para poder entender onde ele está. Quando começar a aproveitar a experiência, já estará na hora de retornar. A ênfase que deveria ter sido dada é na formação de alto nível, sobretudo doutorado, que é a formação completa.

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