Adelmo Genro Filho, já dele falei aqui em outras oportunidades. Uma vida que se foi precocemente, mas que deixou, contudo, penso eu, uma contribuição teórica original - infelizmente, inteiramente desconhecida pelo establishment universitário oficial. Não é de estranhar, Adelmo pertence, como tantos outros, ao universo da Filosofia Profana. Gaúcho, um dos fundadores do Centro de Estudos de Filosofia e Política, ele escreveu atiladas páginas a respeito da Filosofia Profana-da Práxis. O filósofo húngaro Georgy Lukács, no Ensaio As Bases Ontológicas do Pensamento e da Atividade do Homem, realçou que o marxismo raramente foi entendido como uma ontologia. E aduz que o elemento filosófico fundamente da contribuição de Marx foi ter proposto, de modo geral, uma ontologia histórico-materialista que supera (teórica e praticamente) o idealismo lógico-ontológico hegeliano. Ora, então se o marxismo é uma filosofia que superou outra filosofia, ou dizendo de outro modo, se diz respeito a uma concepção que engloba um postulado totalizante, convenhamos, não pode ser reduzido a mero método, como, em princípio, o próprio Lukács assinalou, e outros continuam a sustentar. Não pode ser concebido como uma mera epistemologia da qual resultaria o método, pois estas duas dimensões (epistemologia e método) estão necessariamente articuladas a uma pressuposição ontológica. Sobre este terreno, Adelmo deixou um importante contributo ao debate no livro Marxismo, Filosofia Profana (Editora Tchê). Abaixo, extratos da apresentação do mesmo.
Por Tau Goulin
Em Marxismo, filosofia profana, o
autor trata a dialética como premissa que "põe o homem no mundo e, o
homem, através de sua apropriação prática e teórica desse mundo, se põe como
história e dentro desta a própria história do mundo passa a revelar-se como
processo da verdade". Estuda o "ecologismo libertário", onde
revela pontos de ligação com a filosofia burguesa, ao mesmo tempo em que aponta
as limitações de um certo marxismo tradicional em relação às problematizações
colocadas pelas agudas questões ecológicas.
Adelmo Genro
Filho discute o conceito de ideologia, polemizando com Marilena Chauí. Extrai
do leninismo uma conceituação não dissolvente de ideologia. Esse é um debate
que confronta com visões de ideologia como "falsa consciência" ou
como necessária negação da "verdade" teórica, com trânsito
predominante principalmente entre acadêmicos. Concomitantemente ao debate,
nesse particular, Adelmo também avança teoricamente na formulação do conceito
de ideologia. A oportunidade dos ensaios do autor é exatamente a possibilidade
de intervenção concreta na luta política, onde assume posições nos confrontos
ideológicos e teóricos.
Para o
autor, a conquista de um socialismo que realmente mereça esse nome requer um
marxismo militante e reflexivo. Onde a premissa seja a compreensão do homem
como ser "prático-pensante", o qual encontra-se na base da categoria
de práxis, tomada em seu conteúdo materialista. Propõe igualmente a reavaliação
e reconstrução das formulações teóricas. Nada mais estranho ao marxismo do que
a estagnação, o dogma e a religiosidade das explicações permanentes, usurpando
o lugar da dialética. "O marxismo é, no plano das idéias, um movimento de construção teórica presidido pela
categoria da práxis, sendo
enriquecido por ela e enriquecendo-a progressivamente".
A
honestidade sóbria do autor em enfrentar as questões aqui colocadas estabelece
uma disciplina igualmente inquietadora sobre os desafios postos aos marxistas,
os quais, certamente, não são respondidos pelo dogmatismo e pela apologia
arrogante de algumas inalteráveis e monolíticas categorias. Esse livro contém
uma energia revolucionária incontida contra o conformismo e um estímulo à
reflexão teórica.
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