segunda-feira, 2 de julho de 2012

Belchior, uma obra com personalidade

Sem entrar no mérito de um suposto desaparecimento de Belchior, noticiado há não muito tempo, o que vale mesmo é lembrar a qualidade da obra desse cearense. 'Uma obra, com personalidade', conforme definição do articulista do texto abaixo, e que tem rendido trabalhos na pós-graduação. Ele sabe o seu lugar, e bem o cantou na música com esta denominação: O que é que pode fazer o homem comum/neste presente instante senão sangrar?/tentar inaugurar a vida comovida/inteiramente livre e triunfante?(...)/Esta é minha canoa: eu nela embarco... A "toccata" completa abaixo, e excertos de um artigo. 








Belchior, uma obra com personalidade

Aramis Millarch 

BELCHIOR (Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes), cearense de Sobral (...), está entre os mais inteligentes compositores brasileiros. Com formação humanista - foi seminarista, quando aprendeu latim e grego -, estudou música desde a infância e uniu as influências nordestinas a sua formação de jovem que, nos anos 60/70, ouviu muita música internacional como programador de uma rádio em Sobral. Interrompeu um curso de medicina, em Fortaleza, quando ligou-se a uma emergente geração de jovens compositores que se reunia na capital cearense - Ednardo, Fagner, Rodger, Teti, Cirano e outros - que, num disco da antiga Continental, deixariam registradas suas primeiras composições. Paralelamente ao seu parceiro e amigo Fagner, a partir dos anos 70, deslanchou em sua carreira, especialmente catapultuada [catapultada] em 1971, quando venceu o IV Festival da PMB, com "Hora do Almoço", cantado por Jorge Melo e Jorge Teles, e com o qual ele próprio estreou em disco, em compacto da Copacabana. Alto, bigodes sicilianos, uma voz gutural - como a de Fagner -, longe da suavidade dos tempos da Bossa Nova, Belchior surgiria como uma espécie de Bob Dylan tropical e seu primeiro elepê, pela Chantecler (1974), revelaria um compositor de letras imensas, propostas semiconcretistas e muita personalidade. Dois anos antes, Elis Regina já havia colaborado para torná-lo um nome conhecido como "Mucuripe", sua parceria com Fagner (...). Romântico agreste, com canções que só ele mesmo consegue interpretar - tal a extensão das letras -, é social e cáustico muitas vezes.
Seu público é hoje nacional, "curiosamente numa faixa jovem que não conheceu, inclusive, meus primeiros trabalhos" garante Belchior, antes de tudo um autor que assume a interpretação de suas músicas. Reconhece que tem um estilo, uma forma de dizer suas canções - de cantores(as) realmente profissionais, como fez Elis Regina na clássica "Como Nossos Pais". Mas, em compensação, um standard de seu repertório, como "Apenas um rapaz latino americano", não pode ser imaginado na voz de outro intérprete.
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Fonte: http://www.millarch.org/artigo/belchior-uma-obra-com-personalidade



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