Sem entrar no mérito de um suposto desaparecimento de Belchior, noticiado há não muito tempo, o que vale mesmo é lembrar a qualidade da obra desse cearense. 'Uma obra, com personalidade', conforme definição do articulista do texto abaixo, e que tem rendido trabalhos na pós-graduação. Ele sabe o seu lugar, e bem o cantou na música com esta denominação: O que é que pode fazer o homem comum/neste presente instante senão sangrar?/tentar inaugurar a vida comovida/inteiramente livre e triunfante?(...)/Esta é minha canoa: eu nela embarco... A "toccata" completa abaixo, e excertos de um artigo.
Belchior, uma obra com personalidade
Aramis Millarch
BELCHIOR (Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes), cearense
de Sobral (...), está entre os mais inteligentes compositores brasileiros. Com
formação humanista - foi seminarista, quando aprendeu latim e grego -, estudou
música desde a infância e uniu as influências nordestinas a sua formação de
jovem que, nos anos 60/70, ouviu muita música internacional como programador de
uma rádio em Sobral. Interrompeu um curso de medicina, em Fortaleza, quando ligou-se
a uma emergente geração de jovens compositores que se reunia na capital
cearense - Ednardo, Fagner, Rodger, Teti, Cirano e outros - que, num disco da
antiga Continental, deixariam registradas suas primeiras composições.
Paralelamente ao seu parceiro e amigo Fagner, a partir dos anos 70, deslanchou
em sua carreira, especialmente catapultuada [catapultada] em 1971, quando
venceu o IV Festival da PMB, com "Hora do Almoço", cantado por Jorge
Melo e Jorge Teles, e com o qual ele próprio estreou em disco, em compacto da
Copacabana. Alto, bigodes sicilianos, uma voz gutural - como a de Fagner -,
longe da suavidade dos tempos da Bossa Nova, Belchior surgiria como uma espécie
de Bob Dylan tropical e seu primeiro elepê, pela Chantecler (1974), revelaria
um compositor de letras imensas, propostas semiconcretistas e muita
personalidade. Dois anos antes, Elis Regina já havia colaborado para torná-lo
um nome conhecido como "Mucuripe", sua parceria com Fagner (...). Romântico
agreste, com canções que só ele mesmo consegue interpretar - tal a extensão das
letras -, é social e cáustico muitas vezes.
Seu público é hoje nacional, "curiosamente numa faixa jovem que não
conheceu, inclusive, meus primeiros trabalhos" garante Belchior, antes de
tudo um autor que assume a interpretação de suas músicas. Reconhece que tem um
estilo, uma forma de dizer suas canções - de cantores(as) realmente
profissionais, como fez Elis Regina na clássica "Como Nossos Pais".
Mas, em compensação, um standard de
seu repertório, como "Apenas um rapaz latino americano", não pode ser
imaginado na voz de outro intérprete.
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Fonte: http://www.millarch.org/artigo/belchior-uma-obra-com-personalidade
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Fonte: http://www.millarch.org/artigo/belchior-uma-obra-com-personalidade
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