domingo, 13 de maio de 2012

A transformação da Mãe

No dia das mães, uma saudação a todas que por aqui passam. E nada melhor do que fazer isto a partir da intersubjetividade da relação mãe-filhos. Assim sendo, é ainda melhor fazer a saudação a partir de um clássico da literatura universal - A Mãe, de Gorki. Uma amostra de o quanto uma mãe pode mudar em função de um/a filho/a.  Abaixo, uma recensão da obra (recomendo a edição da Expressão Popular - São Paulo, 2000). 



A Mãe (Gorki)



Por Ana Lucia Santana

A obra A Mãe, do escritor russo Máximo Gorki, é até hoje respeitada mundialmente como uma das publicações mais significativas não só do autor, mas de todo este período. O escritor teve intensa participação na Revolução de 1905. Com o fracasso desta incursão, decidiu escrever, dois anos depois, o livro que se tornaria um clássico da literatura. Isolado com a esposa em Staten Island, ele inicia seu processo de criação.

Desde cedo Gorki teve uma determinante vida política, seguiu sempre a doutrina marxista e era ligado ao Partido Social Democrata. Órfão, desde pequeno obrigado a trabalhar para se sustentar, conheceu precocemente a dura existência dos que experimentam a miséria e a opressão; apaixonou-se pela literatura aos 12 anos.
Sua narrativa se desenrola em princípios do século XX, retratando revoltas que o próprio escritor vivenciou no primeiro de maio de 1902, e acompanhando os posteriores julgamentos dos manifestantes. Este livro tem início com a explanação dos costumes e do cotidiano simples e sofrido do povo russo em um dos tantos bairros fabris localizados na Rússia.
Gorki retrata uma família profundamente transmutada pela emergência de novos e renovadores ideais. É tocante sua representação do trabalho na fábrica, da atmosfera densa, impregnada de fumaça, do ambiente completamente cinza. A história está centrada na atuação política do jovem Pavel, que vive ao lado da mãe, Peláguea Nilovna, depois da morte de seu pai, Mikhail Vlassov.
Apesar de habitarem a mesma moradia, os dois eram quase dois desconhecidos, praticamente sem maiores vínculos afetivos, até o princípio da militância do filho, e a gradual transformação ideológica materna.
A mãe descobre que o filho está cultivando leituras proibidas, e logo depois reunindo clandestinamente um grupo de trabalhadores em sua casa. Inicialmente ela se deixa dominar pelo medo, pelas crenças arraigadas, pelo sentimento religioso, embora cada vez mais se interesse pelas idéias que estão sendo discutidas.
Pavel começa a distribuir panfletos, e não se passa muito tempo até que ele seja preso. A esta altura a mãe já se encontra ligada definitivamente ao círculo considerado subversivo, e prossegue ocultamente a tarefa do filho, dissimulada como comerciante de marmitas. Sua identidade se define dentro do grupo, ela deixa de ser apenas a mãe de Pavel, que logo é solto e passa a atuar ao lado dela, na preparação das manifestações do Primeiro de Maio.
Esta insurreição é reprimida com extrema violência e Pavel é novamente preso como um dos comandantes do grupo. Certa de que seu filho será penalizado com o degredo e trabalhos forçados, como realmente ocorre, a mãe vai morar na residência de um companheiro do filho, e prossegue a distribuição de panfletos clandestinos, até ser presa e martirizada.
É genial a forma como Gorki descreve a transformação da mãe, de camponesa submissa, escrava dos seus medos e da brutalidade, a uma mulher que assume o domínio de suas novas crenças, se engaja na disseminação de idéias renovadoras, e até o último momento atua com extrema coragem e determinação, recusando-se a se desfazer do material comprometedor que a levaria a ser presa, pois era o único legado de seu filho.
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