Como seria bom se, de modo geral, nas instituições educativas, superássemos certas falácias e "discurseiras' vazias, passando então a trilhar o efetivo caminho do conhecimento. E, neste sentido, é bem apropriado (re)lembrar Bertolt Brecht, na sua fala para operários-atores dinamarqueses sobre a importância da observação: "Observa os desconhecidos como se fossem familiares/E aqueles que conheces como se fossem estranhos". Como assim? A resposta é a busca do conhecimento - "Ele pensava dentro de outras cabeças/E na sua, outras, além dele, pensavam/Este é o verdadeiro conhecimento". Como assim? Melhor ler os excertos abaixo.
Bertolt Brecht - Fala
a operários-atores dinamarqueses sobre a arte da observação
(...)
Não importa
A forma como olhas.
Mas aquilo que viste
E aquilo que revelas, isso importa.
Vale a pena saberes aquilo que sabes.
Observar-te-ão
Para ver quão bem observaste.
Mas aquele que apenas se observa a si mesmo
Nada ganha do conhecimento dos homens.
Demasiadamente de si esconde a si mesmo.
E nenhum homem é mais sábio do que ele próprio.
Logo, a tua aprendizagem deve começar no meio
Das vidas das outras pessoas. Transforma na tua primeira escola
O teu local de trabalho, a tua casa,
O lugar a que pertences,
A loja, a rua, o comboio.
Observa todos quantos o teu olhar alcance.
Observa os desconhecidos como se te fossem familiares
E aqueles que conheces como se te fossem estranhos.
(...)
Para observares deves aprender a comparar.
Para poderes comparar
Deves já ter observado.
Da observação nasce o conhecimento.
Mas é necessário conhecimento para observar.
Aquele que não sabe
O que fazer da sua observação
Observará erradamente.
O cultivador olhará para a macieira
Com um olhar mais apurado do que o transeunte errante.
Mas só quem sabe qual é o destino do homem
Pode com exactidão ver o homem.
(...)
Observa tudo isto atentamente.
Depois, a partir de todos os trabalhos suportados
Cria, então, no centro do teu espírito imagens
Desabrochando e crescendo como movimentos na história.
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Fonte: Tradução inédita de Ricardo Castro
Ferreira a partir de uma versão inglesa. Existe uma versão portuguesa integral do poema de Brecht, da autoria de Paulo
Quintela, em Bertolt Brecht, Poemas, organização e prefácio de António Souza Ribeiro,
Asa, Porto, 2007, pp. 281-285; é desta versão portuguesa que se retira o título
desta nova tradução)
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