A Romênia, no seu isolamento de país com língua latina encravado na Europa Central, é a pátria de Emil Cioran, pensador solitário, introspecto e que deu "expressão ontológica" à tristeza. Pouco (ou nada) chega a outros países de base linguística latina, como o Brasil, do universo intelectual e cultual romeno. Talvez o folclore dos vampiros, designadamente Vlad. Transilvânia - no latim, 'além da floresta'. O paganismo ou a saga dos ciganos. Seja como for, contemporaneamente, os romenos têm a encantadora voz de Elena Moşuc, fazendo inclusive o encontro entre o fado luso e a opera. Por nostálgico que pareça a ode à solidão, ela, de certo modo, faz lembrar a seguinte passagem de um conto hindu:
"Do alto da montanha, Arjuna falou: o que caracteriza a sabedoria, o homem que a busca?
O que fala o homem generoso? Como descansa? Como vive?
Ouviu: É sábio o que se recolhe em si mesmo, quem desfruta serenamente as alegrias. É sábio quem renuncia ao prazer sem profundidade. A propensão se transforma em ânsia, a ânsia em fúria. Da fúria nasce a obsessão, depois a memória se perturba; logo o entendimento é perdido, logo o próprio ser humano se perde.
A mente serena fornece compreensão cada vez maior. Onde é noite para todos os seres, vela o que quer se disciplinar; onde todos estão despertos, é noite para o sábio que vê a verdade." (In: A Sabedoria da Índia, seleção de textos de Manfred Kluge, São Paulo: Editora Tecnoprint LTDA, 1984, p. 39-40).
Aí abaixo a solidão por Elena Moşuc. Claro, para além da floresta.