Por Bernardo Mello Franco
A
viagem de Michel Temer à Europa produziu um vexame internacional. Enquanto o
presidente passeava em Oslo, o governo da Noruega anunciou que cortará pela
metade a ajuda ao Fundo Amazônia. O motivo é o fracasso do
Brasil no combate ao desmatamento.
A
devastação da floresta avançou 29% na última medição anual, divulgada em
novembro. O país perdeu 7.989 quilômetros quadrados de mata tropical, o
equivalente a sete vezes a área da cidade do Rio de Janeiro. Foi o pior
resultado em oito anos.
A
Noruega é a maior patrocinadora do Fundo Amazônia. Já doou R$ 2,8 bilhões para
o Brasil proteger as árvores e reduzir a emissão de carbono. Isso equivale a
97% dos recursos do fundo, que também recebeu aportes da Alemanha e da
Petrobras.
Às
vésperas da chegada de Temer, os noruegueses repreenderam o
governo brasileiro pelo desmantelamento da política ambiental. O ministro Vidar
Helgesen criticou a aprovação de medidas provisórias que reduzem unidades de
conservação.
A
pressão internacional convenceu o presidente a vetar as MPs. No entanto, o
governo prometeu aos ruralistas que vai enviar ao Congresso um projeto de lei
com o mesmo teor.
Após
o anúncio desta quinta, o Fundo Amazônia deve perder ao menos R$ 166 milhões em
doações. "É uma decisão humilhante para os brasileiros. O país pediu
dinheiro para reduzir o desmatamento, mas o que está acontecendo é o
contrário", me disse Jaime Gesisky, da WWF.
O
secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, avalia que o
retrocesso ainda pode se agravar. "A aliança de Temer com a bancada
ruralista está saindo muito caro. O meio ambiente virou moeda de troca na
negociação para barrar o impeachment", afirmou.
Em
Oslo, onde desfilou com uma reluzente gravata verde, o ministro Sarney Filho
foi questionado se o Brasil vai reduzir o desmatamento. Sua resposta foi outro
vexame: "Só Deus pode garantir isso".
-----------------------
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/bernardomellofranco