Por Ana Macarini
Imaginemos uma pessoa
hipotética. Essa pessoa, no caso, seria alguém especial, superior a mim e a
você. Superior a todo o resto da humanidade. Ao contrário de nós, reles
mortais, a tal pessoa não possui telhados de vidro. O seu telhado é blindado;
seguro, forte, inviolável. E na segurança de sua suposta superioridade, este
ser elevado acredita – sem nenhuma dúvida -, que pode nos julgar a todos.
Não se trata de alguém sem
pecados, posto que isso não existe. Trata-se de alguém cuja crença não admite
erros em si mesma. Ou, na melhor das hipóteses, tem absoluta certeza de que
seus erros são pequenos deslizes; ao passo que os erros alheios são indubitavelmente
imperdoáveis.
Pecado é uma palavra
originada do latim; seu significado mais antigo tinha relação com “tropeçar”.
De acordo com a língua hebraica, pecar é algo como “mudar de direção”. Para os
gregos antigos, pecar refletia a ideia de “errar o alvo”. Mas foram os romanos
convertidos ao cristianismo que agregaram ao pecado o sentido mais carregado de
culpa; foi a partir de então que pecado passou a ser algo de cunho religioso,
“a violação das leis de Deus”. Foi neste ponto que o pecado passou a ser usado
pelos seres humanos para infringir ao outro o sentimento de dolo por seus atos.
Ocorre que nem tudo se
enquadra na categoria “pecado”. O que não deixa de ser extremamente curioso. Em
verdade, OS SETE PECADOS CAPITAIS – que já foram utilizados como tema de um
excelente e perturbador filme estrelado por Brad Pitt e Morgan Freeman -, são
tão difíceis de se lembrar quanto o nome dos sete anões ou as sete cores do
arco-íris.
Sendo assim, vai aqui uma
forcinha. Figuram na lista dos sete pecados capitais: a ira, a gula, a luxúria,
a preguiça, a avareza, a soberba e a inveja. Olhando assim, um de cada vez,
parecem tão inofensivos, não é mesmo? Ou será que não?
O fato é que os tais SETE
PECADOS CAPITAIS, são uma criação da Igreja Católica – mais precisamente do
Papa Gregório I, com o intuito de determinar a origem de todos os outros vícios
a que estamos sujeitos.
E o outro fato é que a tal
lista não faz nenhum sentido, posto que não há um único de nós que tenha a
mínima chance de passar por essa vida sem cometê-los. Eu, de fato, me
arriscaria a dizer que a mãe de todas as nossas mazelas é a hipocrisia; e o
pai… bem, o pai pode ser qualquer um, porque com uma mãe dessas, não há a menor
chance de se dar à luz qualquer coisa que preste.
Façamos, pois, um favor às
nossas gerações futuras: deixemos de ser hipócritas! Comecemos por admitir que
errar é inerente à nossa constituição embrionária e que a nossa luta para
sermos bons é diária e intransferível. Quem sabe, então, não precisemos mais de
tantas listas, placas, multas ou ameaças para nos manter na linha… na linha
imaginária que nasce em cada um de nós, e que constitui a fibra que há de nos
ligar uns aos outros, juntos, na intenção de sermos um pouco mais decentes do
que temos sido até hoje.
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Fonte: Contioutra