L'Inspiration, de Eugène Delacroix |
“Recordo-me que outrora, quando tinha essa idade que se diz ser a idade
do entusiasmo e do ímpeto da imaginação, como me faltava a
experiência para tornar mais fortes essas belas qualidades. Interrompia
frequentemente o meu trabalho, que muitas vezes me desagradava. A posição em
que a idade nos coloca é uma ironia da natureza. Quando chegamos à maturidade, temos uma imaginação mais arejada
e viva do que nunca e sobretudo sossegaram as inconstâncias que a idade arrasta
consigo, mas já temos os sentidos gastos
- estes pedem mais o descanso do que a agitação. E, no entanto, apesar de todas
estas agruras, como é grande a consolação que nos é comunicada pelo trabalho!
Como me sinto feliz por não ter de ser feliz como tanto o desejava no passado!
De que selvática tirania afinal não me acabou por libertar a serenidade do
equilíbrio da maturidade?!
Então, a pintura era o que menos me preocupava. Temos de nos adaptar às nossas
forças: se a partir de certa altura a natureza se recusa a trabalhar, não a
devemos violentar, mas contentarmo-nos com o que ela nos dá; não nos deixarmos
dominar pela sede de elogios, que passam como o vento, mas aprendermos a
saborear o próprio trabalho e as horas deliciosas que se lhe seguem -
profundamente convictos de que esse lazer foi conquistado graças a uma salutar
fadiga, que salvaguarda a saúde da alma. Inspiração. A alma, por seu turno,
influi sobre a saúde do corpo - impedindo que a ferrugem dos anos embote os
mais nobres sentimentos.”
(Eugène Delacroix – pintor, principal expressão francesa do Romantismo; in Diário)
(Eugène Delacroix – pintor, principal expressão francesa do Romantismo; in Diário)