terça-feira, 13 de junho de 2017

A serenidade do equilíbrio da maturidade

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L'Inspiration, de Eugène Delacroix 

“Recordo-me que outrora, quando tinha essa idade que se diz ser a idade do entusiasmo e do ímpeto da imaginação, como me faltava a experiência para tornar mais fortes essas belas qualidades. Interrompia frequentemente o meu trabalho, que muitas vezes me desagradava. A posição em que a idade nos coloca é uma ironia da natureza. Quando chegamos à  maturidade, temos uma imaginação mais arejada e viva do que nunca e sobretudo sossegaram as inconstâncias que a idade arrasta consigo, mas já temos os  sentidos gastos - estes pedem mais o descanso do que a agitação. E, no entanto, apesar de todas estas agruras, como é grande a consolação que nos é comunicada pelo trabalho! Como me sinto feliz por não ter de ser feliz como tanto o desejava no passado! De que selvática tirania afinal não me acabou por libertar a serenidade do equilíbrio da maturidade?! 
Então, a pintura era o que menos me preocupava. Temos de nos adaptar às nossas forças: se a partir de certa altura a natureza se recusa a trabalhar, não a devemos violentar, mas contentarmo-nos com o que ela nos dá; não nos deixarmos dominar pela sede de elogios, que passam como o vento, mas aprendermos a saborear o próprio trabalho e as horas deliciosas que se lhe seguem - profundamente convictos de que esse lazer foi conquistado graças a uma salutar fadiga, que salvaguarda a saúde da alma. Inspiração. A alma, por seu turno, influi sobre a saúde do corpo - impedindo que a ferrugem dos anos embote os mais nobres sentimentos.”
(Eugène Delacroix – pintor, principal expressão francesa do Romantismo; in Diário)