O texto aí abaixo, quanto a mim, tem passagens questionáveis, mas, de toda forma, vale a leitura.
Por Celso Rocha de Barros
(Doutor em Sociologia - Universidade de Oxford)
O quadro político brasileiro
se deteriora lenta e sonambulamente, sem enfrentar resistência das ruas. Mas há
um grande momento da verdade chegando, as eleições de 2018.
Pela
primeira vez desde o impeachment, a opinião do eleitor voltará a ter
importância. O eleitorado é fortemente pró-Lava Jato. As reformas econômicas
também terão que ser temperadas com concessões ou promessas críveis de
crescimento robusto. Não será fácil conduzir a política em 2018 só em gabinetes
de Brasília e congressos empresariais, como ela foi conduzida desde 2015.
Mas
2018 será mesmo uma ruptura? É difícil saber, e é aconselhável administrar bem
as expectativas.
A situação atual brasileira
é uma espécie de transição de sistema econômico, de um capitalismo de compadrio
para sabe-se-lá-o-quê. Nenhuma transição desse tipo rompeu inteiramente com os
quadros do antigo regime de uma hora para outra. Mesmo que haja uma renovação,
quadros do velho fisiologismo continuarão importantes, e será necessário tentar
converter gente que começou na política como picareta às novas regras.
O
crucial é que as novas regras sejam, de fato, implantadas, e que as
investigações (e punições) não parem.
No
caso das transições pós-comunistas, o cientista político Joel Hellman apontou
para o risco da sub-reforma, que foi o que acabou prevalecendo na região da
antiga União Soviética (mas não em outros países pós-comunistas): os vencedores
da primeira rodada de reformas podem parar o processo no meio, enquanto estão
ganhando.
Se,
como resultado da Lava Jato, algo como um grande PMDB passar a governar o
Brasil, teremos ficado presos na armadilha da sub-reforma. É notável, aliás,
como a crise de PT e PSDB fortaleceu muito mais as velhas estruturas que os
parasitavam do que alternativas reais e mais modernas.
Mas
digamos que, em 2018, um programa de renovação vença. O novo governo precisará
formar uma coalizão para governar. Com que apoio no Congresso, entre
governadores e prefeitos, entre empresários e sindicatos, administrará o país?
É absolutamente impossível que toda essa gente passe imediatamente para a
órbita do outsider (podem, é claro, mentir que passaram).
Devemos,
portanto, estar prontos para administrar uma série de equilíbrios temporários
entre o velho fisiologismo e a renovação política. Isso, aliás, também é
verdade caso PT e PSDB se renovem por troca de gerações. A esperança é que cada
equilíbrio seja mais favorável à renovação do que o anterior, e que o processo
ande tão rápido quanto possível.
O
primeiro critério para votar bem em 2018 é, portanto, escolher alguém disposto
a administrar essa tensão dentro das regras democráticas. Votar no sujeito que
vai quebrar tudo que está aí costuma ser votar pela última vez. A democracia é
bagunçada e confusa, mas é a única opção disponível para o brasileiro não
otário. Só na democracia juízes e policiais trabalham sem medo do governo.
A
transição para além do capitalismo de compadrio pode ser difícil, mas é
exatamente a que precisa ser feita no Brasil. Se estivermos falando sério sobre
construir um país desenvolvido, precisaremos administrá-la como adultos. Se,
sob Temer, o risco é nossa apatia, no pós-Temer o risco pode ser o excesso de
expectativas.
-------------------------------
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/celso-rocha-de-barros/