quarta-feira, 21 de maio de 2014

Alunos, ensino e aprendizagem

Um amigo lusitano repassa-me alguns extratos do livro The Schools We Need; And Why We Don´t Have Them ('As escolas que precisamos e por que não as temos'), de Eric Donald Hirsch Jr.  De determinado modo, fez-me lembrar um aluno que certa feita disse-me que algumas abordagens em sala de aula mais lhe pareciam lero-lero, com isso ele querendo dizer 'conversa vazia', uma forma de passar o tempo e de desprezo pelos conteúdos. É exatamente contra isso que o livro de Hirsh se volta. Contra a embroamação e o embuste no processo de ensino-aprendizagem, onde as avaliações e atribuição de notas, por exemplo, são tratadas de forma descriteriosa - e o que é mais grave, no caso dos professores da escola básica, trata-se de uma situação que é até mesmo impulsionada pelas condições de trabalho que eles têm. A seguir, reproduzo dois extratos do trabalho de Hirsch. 


"Sobre o ensino centrado no aluno", ou "escola centrada no estudante", para abranger níveis de escolaridade maiores. A expressão é a autodescrição da educação progressiva, tal como vem em "A Escola Centrada na Criança" de Rugg ("The Child-Centered School", 1928). A ideia é resumida na frase "ensine-se a criança, e não a matéria". A oposição entre ensino centrado na criança e ensino centrado na matéria implica que o ensino com foco na matéria tende a ignorar os sentimentos, os interesses e a individualidade da criança. Os progressivistas descrevem a instrução centrada no assunto como consistindo num formato de lições recitativas, escuta passiva, prática sem pensar e aprendizagem rotineira, e dirigida apenas para problemas académicos que não têm um interesse intrínseco para a criança.  A oposição entre matéria e criança implica que a tónica na primeira equivale a uma escolaridade desumana e ineficaz. Este quadro não passa de uma caricatura. A observação mostrou, pelo contrário, que as crianças estão mais interessadas num bom ensino de matéria programática do que num ensino de orientação afectiva centrado no aluno. A posição contra a matéria programática é essencialmente anti-intelectual. A dicotomia entre matéria e criança tem com excessiva frequência resultado no insucesso a ensinar às crianças as matérias e competências de que elas precisam. Um tal desaire não pode, sob nenhuma forma rigorosa de linguagem, ser descrito como "centrado na criança".» (p.244-245).

"Sobre descoberta e aprendizagem". Refere-se ao método de ensino que monta projectos ou co0loca problemas tais que os estudantes conseguem descobrir o conhecimento sozinhos, por meio de experiências práticas e resolução de problemas, mais do que através de manuais e lições. Os progressivistas fizeram desse ensino a principal ou mesmo exclusiva forma de ensino a começar pelo "método de projecto" . É inquestionável que a aprendizagem pela descoberta, feita pelo próprio e exigindo muito tempo e esforço,  é mais capaz de ser retida do que o conhecimento passado verbalmente. É também verdade que o conhecimento  adquirido num contexto realista como parte de um esforço para resolver um problema será provavelmente conhecimento bem compreendido e integrado. Sem dúvida que a aprendizagem por descoberta é um método efectivo - mas só quando funciona. Há duas contrariedades de peso à confiança preponderante ou exclusiva neste método. Em primeiro lugar, nem sempre os estudantes fazem sozinhos as descobertas que alguém julga que iriam fazer; de facto, por vezes fazem "descobertas" erradas. Portanto, é essencial seguir os estudantes para verificar se o objectivo desejado foi atingido e, se não, para o atingir por métodos directos. Em segundo lugar, a aprendizagem pela descoberta revelou-se um tanto ineficiente. Não só por  os estudantes não conseguirem, por vezes, sozinhos, ganhar os conhecimentos e competências que se esperava que ganhassem, mas também porque  não chegam lá suficientemente depressa. Ou seja, cabe ao professor coordenar o processo de ensino-aprendizagem, devendo ter a competência necessária» ( p.250). 

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