Da pena de Roberto Schwartz saíram argutas páginas do que ele, analisando o consumo de formulações intelectuais importadas, viria a denominar de ideias fora do lugar. Trata-se este de um debate constante entre os críticos da cultura na América Latina. Além de Schwartz, outros teóricos da literatura brasileira, como Antônio Cândido, trataram do assunto. Ideias fora do lugar. Machado de Assis, como assinala Schwartz, fez sutilmente a crítica a este estado de coisas e a sua novelística se desenvolve num mundo do “como se”. Ora bem, lembrei desta discussão ao receber um post de um leitor que, ao fazer uma espécie de hermenêutica de uma entrevista que concedi há cerca de seis anos ao Jornal (agora Revista) portuguesa A Página da Educação, saiu a terreiro para, digamos, uma peculiar “polêmica retroativa”. A entrevista está disponível aqui http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=156&doc=11549&mid=2, e o que o leitor, com “ares de oficialismo governamental”, põe em causa é a tese segundo a qual o descenso dos movimentos sociais, no Brasil, tem relação com o fato de dirigentes seus se terem incorporado à esfera estatal, ocupando cargos na máquina governamental. Muito bem, apenas duas notas: 1) ter relação, claro está, não significa ser a causa única; 2) querer negar a realidade por conta de uma opção política, tem nome: manipulação ideológica. Colocar ideias fora do lugar. Mais ainda: dizer de modo inverso a configuração da realidade é algo como falsificar uma cópia. Ora, não é necessário um esforço analítico de maior fôlego para demonstrar, por exemplo, que o sindicalismo brasileiro transforma-se, cada vez mais, num aparato burocratizado sustentado pelo Estado. A propósito das bases teóricas e ideológicas nas quais esta situação assenta-se, eu já as enfoquei em outro lugar, num texto em parceira com o meu amigo Carlos Machado (Universidade Federal do Rio Grande/RS), e pondo em realce a perspectiva de Robert Michels, aqui: http://www.rebelion.org/hemeroteca/izquierda/040224ms.htm
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