Um ano que vai, uma geração que se conta. A certa altura da vida, vai se tornando possível dar um balanço no passado sem cair em autocomplacência. Digo isto repisando Antonio Candido, no prefácio que escreveu à 26ª edição do clássico Raízes do Brasil, de Sérgio Buraque de Holanda. Os homens e mulheres que, hoje, contam um pouco mais de 35 anos e menos de 45, na área das Ciências Humanas, por certo, tomaram contacto, em sua formação, com a obra-mestra do pai de Chico Buarque. Eu que, quando a li, já tinha tido treino anterior em Marx, de par com a abordagem de Caio Prado Júnior em Formação do Brasil Contemporâneo, nunca cheguei a abonar a tese-lugar-comum que convencionou o estabelecimento de fronteiras entre três livros clássicos da formação brasileira: além dos dois citados, também Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre. O valor das três obras parece hoje razoavelmente reconhecido. Mas só é assim porque, indo um ano, abre-se caminho para se contar uma geração. Ver o que não se via, dirão os historiadores analíticos da longa duração. E sem cair em complacência, pois, repetindo Antonio Candido uma vez mais, 'o nosso testemunho se torna o registro de muitos, de todos que, pertencendo ao que se denomina uma geração, julgam-se a princípio diferentes uns dos outros e vão, aos poucos, ficando tão iguais, que acabam desaparecendo como indivíduos para se dissolverem nas características gerais de uma época'. Por ser assim, registrar o passado já não é então falar de si; é, sim, falar dos que participaram de uma certa ordem de coisas, de interesses e de visão de mundo, no momento particular, específico, do tempo que se deseja evocar.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
domingo, 25 de dezembro de 2011
Em entrevista: Este nosso mundo social em perspectiva
Era um fim de tarde de Primavera, na cidade do Porto/Portugal, quando concedi a entrevida abaixo. O Porto, o Porto, cidade pela qual tenho muito apreço - por seu panorama histórico, o título de Capital Europeia da Cultua, em 2001, fez-lhe justiça.
É conhecido, ao fim e ao cabo, por ter uma formação interdisciplinar em teoria social e na área das humanidades, deambulando com propriedade pelos mais diversos campos intelectuais. Como define a sua formação?
Ivonaldo Leite: Eu venho de longe [tom de riso]. Penso que algumas referências intelectuais que adquiri na adolescência me acompanham até hoje. Ali entre os 15 e 16 anos, eu tomei contacto com o existencialismo e me acompanhei de leituras do movimento romântico-surrealista. E aderi ao marxismo alternativo. Deste, desde muito cedo, aprendi que o que importa é entender o todo, e daí há que se pôr de lado a fragmentação disciplinar. Depois, ao ler A Ideologia Alemã, marcou-me fortemente a seguinte afirmação de Marx e Engels: ‘só reconhecemos uma ciência, a ciência da História’. Então, para quem anda sob os impulsos juvenis, a História passa a ser o grande farol. E assim, inicialmente, comecei por estudar História, nomeadamente História Econômica e Social. Depois, mudei para a Sociologia.
E a sua juventude agora, fala como se fosse alguém que passou da casa do cinquentenário? Ou será que fez muito cedo o que geralmente as pessoas fazem mais tarde?
Ivonaldo Leite: Ora bem, estou na casa dos 41 anos. Mutatis mutandis, conservo muito das convicções de antes. Continuo achando que o surrealismo é a cauda da visão romântica do mundo. E da dialética marxista que ‘o que importa é o todo’, assim como tendo presente o axioma segundo o qual ‘se aparência e essência fossem a mesma coisa, a ciência seria desnecessária’. Sim, é possível que me tenha adiantado a fazer coisas que geralmente as pessoas só a elas chegam em idade mais avançada.
Retornando à sua formação, então tornou-se sociólogo?
Ivonaldo Leite: Pois então, como no mundo, o que me sinto mesmo, do ponto de vista académico, é um desenraizado. De facto, com a pós-graduação, a dimensão sociológica tornou-se uma componente acentuada em minha formação, bem como as ciências da educação, o diálogo com a pedagogia. Prefiro dizer, no entanto, que não há como estabelecer fronteiras fixas entre as ciências humanas. Elas tratam da mesma coisa, a vida social do ser humano, o seu fazer quotidiano, suas expectativas, tristezas e esperanças. Os sinos dobram, e a teoria social quer compreender esse dobrar. Mesmo que seja, como diz Fernando Pessoa, dolente na tarde calma, pois esse dobrar é sempre um dobrar na alma humana. That’s it.
Mudando um bocadinho, e sua relação com Portugal?
Ivonaldo Leite: Data de treze anos. Cinco vivendo permanentemente e oito em estadias anuais.
Algum laço, além dos académicos?
Ivonaldo Leite: Bom, numa relação tão longa, cria-se um vínculo que extrapola o profissional, estabelecendo-se então ligações afectivas. Tenho um razoável conjunto de amigos e amigas em Portugal. Mas, há um elemento que antecede a tudo isso, de natureza familiar. O meu bisavô paterno é de uma quarta ou quinta geração de portugueses que chegou a Pernambuco, rumou do litoral até o agreste do estado e se fixou na região de uma cidade hoje chamada Pesqueira, que, na época, abrigava uma espécie de instância administrativa da metrópole portuguesa, o Senado da Câmara de Cimbres. Pois bem, lá se estabeleceu num naco de terra e fez família com uma morena da serra, expressão que designava as caboclas indígenas da região. Dele herdei o sobrenome Leite, que é originário do Norte de Portugal. Então quando estava para fazer o doutoramento, tinha duas opções, uma era os Estados Unidos (Universidade da Califórnia) e a outra era a Universidade do Porto. Não pensei muito, cruzei o Atlântico e aportei em território luso.
Com esse histórico, por que então não se estabeleceu em definitivo em Portugal?
Ivonaldo Leite: Não há resposta monocausal para isto.
Também é conhecido pelo professor que mais muda de universidade, mas, pelo que tomamos nota, esteve à volta com um projecto de saúde coletiva na Universidade Federal de Pernambuco, com interlocução com a Universidade de Coimbra. Do que se trata?
Ivonaldo Leite: Já não mais estou ligado à UFPE. Mas, de facto, o Projeto foi levado a cabo. Bom, a saúde colectiva é um campo que agrega as ciências da saúde e as abordagens da teoria social, nomeadamente o background da história, sociologia e antropologia. Na verdade, isso é algo que vem de longe, quando lembramos, por exemplo, o trabalho clássico de Durkheim sobre o suicídio. Ou seja, em muitos casos, o suicídio terá pouco a ver com perspectivas médicas, e mesmo psicológicas. A tipologia durkheimiana é suicídio egoísta, altruísta e por anomia. As sociedades modernas, embebidas de urbanismo das tecnologias, de consumismo e do isolamento dos prédios, etc.,são tomadas por isso. De resto, no que toca à teoria social, importa entender questões como a construção social do corpo, os determinantes estruturais dos ambientes de saúde/doença, o caráctar das políticas públicas, etc.
O que pensa da dinâmica de pequenos grupos em saúde pública?
Ivonaldo Leite: É um objecto de estudo que merece atenção. Em determinados casos, parece-me que o problema em foco passa a ser construído socialmente como parte permanente da identidade da pessoa.
Como assim?
Ivonaldo Leite: Veja-se o caso de grupos como os alcoólicos anónimos. Por exemplo, a pessoa não bebe há quarenta anos, mas repete permanentemente que é alcoólatra, que é doente. Ou seja, o problema, sociologicamente falando, passou a compor o núcleo da sua identidade. Tenho dúvidas se há pertinência nisso.
Nas suas criações literárias, temas como o devir e o deambular do tempo são centrais. O que dizer do existir?
Ivonaldo Leite: Da minha parte, o de sempre: a existência precede a essência, com todas as decorrências aí pressupostas. A luz para transpor a grande insónia do mundo é cintilada não por metafísicas essencialistas, mas pelo existir em mutação. O encontro com o estar bem na vida, com prazer, deambula pelo inverso da acomodação e da rotina. É preciso imaginar Sísifo feliz.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
O que fizemos de nós?
Pois é. Olhando o tempo em retrospectiva, não há como, quem empenhou corações e mentes em modos alternativos de vida, em busca de um novo padrão societal ('viva a sociedade alternativa'), não há como, quem assim agiu, hoje se perguntar: 'O que fizemos de nós?'. Sem a interrogação, este é o título do livro de Zuenir Ventura, no curso do seu '1968: o ano que não terminou'. O que fizemos de nós? É de se refletir! Tantos pacifistas se tornaram bélicos... Tantos partidários da vida alternativa foram tragados pelas sociabilidades sistêmicas. Que nos continue a falar o Pessoa: 'navegar é preciso'. Seguimos. Uma resenha do livro do Ventura pode ser lida aqui: http://www.cchla.ufpb.br/ppgc/smartgc/uploads/arquivos/4dce5b58ef20101103091933.pdf, por iniciativa de Geanne Lima, mestranda em Comunicação na UFPB. E no espírito do navegar alternativo, vale, a seguir, relembrar o Let It Be, na voz de Paul MacCartney
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
O tempo da espera e do crepúsculo: Nick Cave e a passagem de Bunny Munro
Quem acompanha o Nick Cave musical, por certo tomará gosto pelo Cave literato. Há na vida o tempo da espera e do crepúsculo. Em A Morte de Bunny Munro, ele torna, digamos, a literatura face da realidade como ela é. Nua e crua. Abaixo, reproduzo uma resenha do livro - e para não esquecer o Cave musical, posto também a sua toccata 'Are you the one that I've been waiting for?'
Por Ana Death Duarte
Como diria o Nick Cave… “Eu não vou falar a vocês sobre uma garota…” (Im not gonna tell you about a girl…)
Não, por mais que eu pudesse me estender com uma bela introdução sobre quem é Nick Cave e sua importância musical e como ele também escreve boas histórias, agora no seu segundo livro – o primeiro lançado no Brasil, “A Morte de Bunny Munro”… Bem, não vou falar a vocês sobre o Nick Cave.
Eu vou direto ao ponto e discorrer sobre o livro em si, sua história, sua trama, enfim, os pontos altos que fazem com que tanto os fãs de Nick Cave quanto os fãs de uma boa obra de literatura descendente direta dos gênios como Bukowski e Henry Miller, os grandes malditos, desbocados e incríveis, que mostram os podres do ser humano e do mundo vão acabar amando.
Começo dizendo que concordo e discordo com a critica do THE TIMES. Não, não é o mais livro mais obsceno que já li na minha vida, como foi dito lá. Mas concordo que seja “engraçado, chocante e comovente, com uma narrativa rica e de tirar o fôlego.” Especialmente nas últimas cem páginas, chegando ao ápice com a morte do personagem principal (isso não é spoiler, afinal, está no título!), quando eu simplesmente não conseguia largar o livro!
Bunny Munro é um canalha. Decadente. O livro é um retrato de sua descida ao inferno na Terra após o suicídio de sua mulher.
Ignorando a decadência do mundo a seu redor, e sua própria decadência Bunny segue numa espécie de viagem em direção a seu próprio fim. Sim, Bunny é mesmo o nome dele. E do filho. Ele tem mania de fazer imitação de coelho, com as mãos no lugar das orelhas, balançando-as mesmo que nem um bobo… para suas clientes. Bunny Munro vende cosméticos… bom, dá para imaginar um pouco o quanto vai se dar mal depois que a esposa se mata (por causa dele) e ele começa a ver seu fantasma por todos os lugares aonde vai…
É um livro não indicado para quem não consegue lidar com histórias não felizes. Não é intenção na obra mostrar um “e foram felizes para sempre”, e isso fica claro desde o começo. Aliás, desde o título, não acham?
Quem busca histórias felizes, romances ‘água com açúcar’ apenas não vai gostar da história de Bunny Munro. Mas, por outro lado, quem curte o retrato da realidade nua e crua, sem máscaras, vai se deliciar com a história! As situações em que Bunny e seu filho se metem não são nada agradáveis – e isso porque a vida nem sempre é um mar de rosas.
E por isso eu não recomendo esse livro? CLARO QUE RECOMENDO!
Quem gosta de uma história poética, apesar de muitas vezes obscena, quem curte uma realidade desnudada em palavras… ah, quem gosta desse estilo VAI AMAR esse livro! E os fãs da música e das letras de Nick Cave também, assim como os amantes da literatura desbocada e humana de Bukowski e H. Miller.
No começo, o personagem principal parece um ser desprezível. Ele é, como eu comecei a dizer, basicamente um canalha! Mas Nick Cave consegue (pelo menos eu me senti assim) fazer, com o decorrer da história, com que o leitor sinta piedade de Bunny, por sua vida triste e sem sentido. E é na morte que talvez ele acabe encontrando uma forma de redenção por sua canalhice. Ou não.
Morte essa que chega como surpresa, apesar de ser declarada logo no título. E é nessa hora que toda a verve poética de Nick Cave transborda em belas páginas pelas páginas finais. Momento esse em que conseguimos visualizar seu fim como o final perfeito para um livro (em uma linguagem tão visual, tão poética e cheia de detalhes que daria um ótimo final de filme também).
Bem, esse final digno de filme me fez lembrar da participação épica de Nick Cave em “Asas do Desejo”, de 1987. Um filme sobre anjos nada clichê do alemão Wim Wenders. Não viu? Corra atrás e veja. E não aquela versão Hollywoodiana ruim “Cidade dos Anjos”. E eu ainda faço um post sobre “Asas do Desejo”, porque esse filme merece um post só pra ele!
“A Morte de Bunny Munro”, mais as músicas do Nick Cave, pra matar a saudade… mais “Asas do Desejo”. Uma espécie de kit para deixar os fãs de Nick Cave and the Bad Seeds bem feliz. E os fãs de boa literatura, com uma magnífica obscenidade artística… também!
Confiram o primeiro capítulo a seguir. Mas antes, alguns trechos que selecionei, só para atiçar a vontade:
No entanto, Bunny percebe que houve uma mudança na voz de sua mulher; os violoncelos suaves deram lugar a um violino agudo e estridente, tocado por um macaco em fuga ou algo do gênero.
Que descrição belíssima, não? A maestria do texto é incrível. Prosa poética da mais alta qualidade.
Uma prova do otimismo irreprimível de Bunny é que os dias de glória do namoro dos dois se recusam a ser suprimidos pelas tribulações do presente, de modo que, independentemente de quanta merda entre em contato com o ventilador matrimonial, quando Bunny pensa em sua mulher, o traseiro dela é sempre mais firme, os peitos têm formato de torpedos e ela ainda tem aquela mesma risadinha de menina e aqueles olhos alegres, cor de alfazema. Uma bolha de alegria explode na sua barriga quando ele sai do estacionamento e desemboca no glorioso sol litorâneo. O dia está bonito, e sim, ele ama sua mulher.
Eu havia selecionado muito mais trechos, mas não quero estragar o prazer da surpresa e do deleite do leitor quando estiver com o livro em suas mãos.
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domingo, 18 de dezembro de 2011
Dialética das ciências sociais: A vida perante o inverso (e o perverso) do real
Escrevi o artigo abaixo para o Jornal (agora Revista) A Página da Educação/Portugal, nº 179. Trata de alguns dos dilemas que, sobretudo no Brasil, as ciências sociais precisam superar.
Por Ivonaldo Leite
O que são as ciências sociais? Esta pergunta, nalgumas realidades, recebe desde logo uma resposta bastante simplista: é a sociologia, a ciência política e a antropologia, visto que existe até mesmo um curso, sob tal denominação, agregando a tríade, como ocorre no caso brasileiro.
Todavia, ao se realizar uma espécie de “privatização” da abordagem sobre o social pelas três disciplinas referidas, não só se comete um grave equívoco analítico como se difunde um entendimento que padece de alguns problemas. Primeiro, por a delimitação de territórios da sociologia, ciência política e antropologia se apoiar na distinção entre ciência nomotética e idiográfica, continua-se a pagar tributo à concepção positivista de ciência. Ou seja, procura-se fundamentar a existência dessas disciplinas - de modo nomotético - no mesmo estatuto epistemológico das ciências naturais: trata-se de uma busca de aproximação entre o social e o natural, apoiando-se na quantificação, no controle estatístico e de variáveis, etc., como forma de gerar conhecimentos e leis universais. Ora, por mais que se admita a utilização da quantificação/estatística no campo de estudos sobre o social, sabe-se hoje, com consistente segurança (após a devastadora crítica ao positivismo), que é imprópria a generalização no aludido campo dos métodos/procedimentos da esfera das ciências naturais, pois são dois âmbitos científicos com objetos diferentes: um diz respeito ao físico e o outro ao humano, que é detentor de subjetividades e não é passível de, inertemente, ser manipulado em laboratório.
O segundo problema de que padece a “privatização” da abordagem sobre o social pelas três disciplinas em questão diz respeito ao que a constituição delas significou. Sinto-me até constrangido em repisar o óbvio, mas se faz necessário: todas as ciências têm uma história, e é essa historicidade que mostra que as ditas ciências sociais surgem, como bem realça Carlos Nelson Coutinho, quando, com a ascensão da modernidade capitalista, ocorre o eclipse da reflexão totalizante sobre o social, emergindo então uma fragmentação disciplinar que posteriormente forneceu etiqueta aos vários departamentos universitários que, ao estabelecerem os territórios do conhecimento na universidade, são responsáveis, como se sabe, pelas “posses cognitivas”. Antes da mencionada ascensão, de Nicolau de Cusa a Hegel, o princípio da totalidade era característico do pensamento social. Figuras, por exemplo, como Spinoza, Rousseau e Kant refletiram sobre a totalidade da vida social, quer dizer, refletiram sobre temas que hoje são “propriedades” da ciência política, da antropologia e da sociologia. Em verdade, eles estavam preocupados era com a compreensão da totalidade do ser social, e não com as suas partes específicas. Por que ocorreu o eclipse da reflexão totalizante sobre o social?
Talvez tenha sido Georgy Lukács, no clássico A Destruição da Razão, quem mais acuradamente se empenhou em aportar uma resposta à referida questão. Sintetizando a sua dérmarche, pode-se dizer que ele mostra, de maneira categórica, que o eclipse da reflexão sobre a totalidade social e a consequente difusão da fragmentação disciplinar resultam de uma necessidade da emergente sociedade capitalista como forma de ela reproduzir sistemicamente um padrão societal reificado. Mesmo admitindo-se que o grau de ‘complexificação’ do mundo social, evolutivamente oriundo da modernidade, demanda atenção epistemológica específica para os seus diversos níveis, o argumento de base de Lukács mantém-se.
Last but not least, o terceiro problema de que padece a “privatização” da abordagem sobre o social pela sociologia, ciência política e antropologia, a partir de uma perspectiva nomotética, diz respeito às consequências educacionais, isto é, ao aprendizado que o ensino delas gera. Dois exemplos ilustrativos: 1) a não-realização da necessária diferenciação entre as focagens sobre o mundo físico-natural e o mundo social; 2) a promoção da fragmentação disciplinar e das disputas teóricas, por vezes alimentadas pela imprópria ideia de que determinadas categorias dão conta de toda a realidade, como se, diante da ‘complexificação’ da vida social, um único enfoque tivesse, digamos assim, esse “poder demiúrgico”. De resto, esta é uma postura paradoxal, sobretudo, quando consideramos que vivemos num tempo em que cada vez mais se fala em inter/multi/transdisciplinaridade.
Não é fácil, entretanto, escapar aos impulsos de manifestação de imperialismo dos campos científicos. Mesmo Marx, que deu expressão material à totalidade dialética hegeliana, não esteve imune a isso. A este respeito, é conhecida a sua expressão em A Ideologia Alemã : “Quanto a nós, só reconhecemos uma ciência, a ciência da História”. É certo que ele estava a conceber a História como totalidade dos fenômenos materiais, mas parece uma compreensão um tanto excessiva.
Há que se concluir, portanto, que a afirmação ontológica das ciências sociais, no Brasil, tem uma dupla perspectiva: descentrar o postulado nomotético do seu estatuto e ampliar o seu corpo, pondo sob sua rubrica, como já tem ocorrido em outros contextos, a história e a economia, por exemplo. Só assim elas legitimar-se-ão pelo que efetivamente são: probabilísticas, mas sem abrir mão de, objetivamente, mostrar que, em muitos casos, o que é apresentado como verdade o que faz é tão-somente reflectir de forma inversa – e, às vezes, perversa – partes do real.
sábado, 17 de dezembro de 2011
Madredeus e o Labirinto Parado
Sim, sim, eles estão de volta. O Grupo português Madredeus, que tanto cantou e encantou, está de regresso com uma nova formação, embora sem a voz inigualável de Teresa Salgueiros. Deste lado de cá do Atlântico, a notícia é praticamente desconhecida, embora o reencontro tenha ocorrido há já algum tempo. Da antiga formação, a meu ver, o Álbum Movimento é a obra prima do Grupo. Mas, mesmo sem Teresa Salgueiros, a volta dos Madredeus é um ótimo acontecimento para os apreciadores da boa música. Abaixo, o informe da boa nova e o 'Labirinto Parado', na voz de Teresa.
«Os Madredeus de Pedro Ayres Magalhães estão de regresso com uma nova formação que pretende revisitar o seu legado original. Este retorno acontece no ano em que comemoram 25 anos de uma brilhante carreira.
«Os Madredeus de Pedro Ayres Magalhães estão de regresso com uma nova formação que pretende revisitar o seu legado original. Este retorno acontece no ano em que comemoram 25 anos de uma brilhante carreira.
Juntamente com os teclados de um membro de longa data, Carlos Maria Trindade, e com as cordas de Jorge Varrecoso, António Figueiredo e Luís Clode (dois violinos e um violoncelo, respectivamente), Pedro Ayres Magalhães reactiva o projecto Madredeus com a descoberta de uma voz impressionante: a de Beatriz Nunes.
Tanto as cordas como a voz vêm da área clássica. Os músicos fazem parte do conceituadoLusitânia Ensemble e estão, por isso, habituados a misturar os ambientes clássicos e pop, estando assim à altura de corresponder aos altos standards de Pedro Ayres Magalhães eCarlos Maria Trindade.
A jovem Beatriz Nunes contribui com um talento único para este projecto. Estudou música clássica e jazz e enquadra-se na perfeição nos parâmetros de exigência deste histórico grupo.
Pedro Ayres revela os planos para esta nova formação dos Madredeus "tencionamos apresentar um espectáculo que viaja por todo o reportório do projecto”. O músico que lidera os Madredeus desde o seu início, diz ter mais de 30 canções, que revisitam todas as fases da banda, prontas para pôr em palco.
Os Madredeus estão a preparar uma tournée nacional e internacional, mas também estão a preparar discos novos. Há planos para um album que incluirá novas canções e ainda novas versões de alguns clásscos. Este disco deverá ser editado em 2012.»
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Between Globalization and Glocalization: Brazilian perspectives about education
Síntese do meu paper aoWorking Group on Sociology of Local-Global Relations /International Sociology Association (ISA).
The paper has as objective to discuss the concepts of globalization and glocalization taking in consideration the Brazilian perspectives about education. Globalization as a concept in social sciences has a short history. Probably, Roland Robertson was one of the early users of the term. Globalization theory examines the emergence of a global cultural system. Though globalization means many things to many people, it’s one of the master processes of our time. It means the connectivity of broad processes of technological, economic, political, cultural interrelationships. For Giddens, globalization is the reason for the revival of local cultural identities in different parts of the world. So, local would be the provider of the response to the forces that are global. This view is somewhat different of the glocalization’s thesis, because in its perspective the local itself is constituted globally. It’s a process of macro-localization and micro-globalization. Macro-localization involves expanding the boundaries locality as well as making some local ideas, practices, institutions global. The rise of world wide religious or ethnic revivalist movements can be seen as examples of macro-localization. Micro-globalization involves incorporating certain global process into the local setting. Glocalization involves blending, mixing adapting of two or more process one of which must be local. It’s the notion that removes the fear from many that globalization is like a tidal wave erasing all the differences. This in education is very important. But, in Brazilian case, the educational policy doesn’t have taken into account glocalization’s perspective. Hence, the Brazilian educational policy sometimes understands globalization like Westernization and the Ministry of Education defines some macro orientations to schools without considering the local realities.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Professor-educador ou babá?
Tal como o autoritarismo, o paternalismo assistencialista é algo extremamente nocivo para a formação dos estudantes. O primeiro desconsidera o educando em si; o segundo, atrofia o desenvolvimento autônomo dos estudantes, não os preparando para os desafios da atuação profissional e da vida. O paternalismo assistencialista afrouxa as exigências necessárias para uma formação acadêmica competente (servindo também, às vezes, para enrolar aula) e tende a uma permanente infantilização da relação educativa, mesmo quando os estudantes não são criancinhas, e sim adultos, como ocorre em certos ambientes universitários. Daí tem-se mais ou menos a seguinte situação: fora da sala de aula, os alunos são tão adultos como o professor (muitos inclusive têm filhos) e o seu universo de sociabilidade nada tem de criancice (das coisas do mundo, já sabem a fundo, poder-se-á dizer). Porem, o paternalismo assistencialista descarrega tintas na infantilização da relação pedagógica, como se estivesse lidando com crianças inocentes. Quanta bobagem! (nalguns casos é hipocrisia mesmo). Disto, pode-se entender uma certa aversão que há, na EJA, a determinadas posturas docentes que teimam em tratar adultos como infantes. Pois bem, por estas e outras, o Prof. estadunidense Ron Clark, numa atitude sensata e de coragem acadêmica (coisa tão em baixa cá pelos trópicos), saiu a terreiro com um artigo afirmando o seguinte: "Professores são educadores, não babás'. Transformou-se num dos artigos mais compartilhados no facebook em 2011. Disse o que tinha de ser dito. Abaixo, reproduzo uma entrevista com ele.
Professores são educadores, não babás
Ron entre alunos
"Hoje, existe uma preocupação grande com a autoestima da criança. Por isso, muitas pessoas se veem obrigadas a dizer aos pequenos que eles fizeram um ótimo trabalho e que são brilhantes, mesmo quando isso não é verdade"
O segundo artigo mais compartilhado em 2011 por usuários americanos do Facebook foi escrito por um professor, Ron Clark (o primeiro trazia fotos da usina de Fukushima). Mais de 600.000 pessoas curtiram o texto na rede, escrito a pedido da rede de TV CNN e intitulado "O que os professores realmente querem dizer aos pais". O artigo descreve um cenário de guerra, travada entre pais e professores. Na visão de Clark, os pais vêm transferindo suas responsabilidades para a escola, sem, contudo, aceitar que seus filhos se submetam de fato às regras da instituição. Por isso, assim que surge a primeira nota vermelha ou uma advertência, invadem a sala de aula culpando os professores – a pretexto de preservar a reputação e o orgulho de seus filhos. "Precisamos estar mais atentos à excelência acadêmica e menos preocupados com a autoestima das crianças", diz o professor, na entrevista concedida a VEJA.com e reproduzida a seguir. "Essas crianças deixam de aprender que é preciso se esforçar muito para conseguir bons resultados. No futuro, elas não terão sucesso porque, em nenhum momento, exigiu-se excelência delas." Clark conhece sua profissão. Aos 39 anos, vinte deles dedicados à carreira, o americano já lecionou na zona rural da Carolina do Norte, nos subúrbios de Nova York e atualmente comanda uma escola modelo no estado da Geórgia que oferece treinamento a educadores. Graças à função, manteve, desde 2007, contato com cerca de 10.000 educadores de diversas partes do mundo, incluindo brasileiros.
Em seu artigo, o senhor fala de um ambiente escolar em que pais e professores não se entendem mais. O que tornou a situação insustentável, como o senhor descreve? A sociedade se transformou. Hoje, vemos pais muito jovens, temos adolescentes que se veem obrigados a criar uma criança sem ao menos estarem preparados para isso. São pessoas imaturas. Por outro lado, temos famílias abastadas, em que pais trabalham fora e são bem-sucedidos profissionalmente. Pela falta de tempo para lidar com os filhos, empurram toda a responsabilidade da educação para a escola, mas querem ditar as regras da instituição. Ou seja, eles querem que a escola eduque, mas não dão autonomia a ela.
Que tipo de comportamento dos pais irrita os professores? Acho que o ponto principal são as desculpas que os pais criam para livrar os filhos das punições que a escola prevê. Se um aluno tira nota baixa, por exemplo, ou deixa de entregar um trabalho, os pais vão à escola e descarregam todo tipo de desculpa: dizem que o filho precisava se divertir, que a escola é muito rigorosa ou que a criança está passando por um momento difícil. Ou, ainda, culpam os professores, dizendo que eles não são capazes de ensinar a matéria. Mas nunca culpam seus próprios filhos. É muito frustrante para os professores ver que os pais não querem assumir suas responsabilidades.
Problemas com notas são bastante frequentes? Sim. Certa vez tive uma aluna que estava indo mal em matemática. A mãe dela justificou-se dizendo que, na escola em que a filha estudara antes, ela só tirava boas notas, sugerindo, assim, que o problema éramos nós, os novos professores. Infelizmente, essa ideia se instalou na nossa sociedade. Se a nota é boa, o mérito é do aluno; se é baixa, o problema está com o professor. E quando as notas ruins surgem, os pais ficam furiosos com os professores. O resultado disso é que muitos profissionais estão evitando dar nota baixa para não entrar em rota de colisão com os pais, que nos Estados Unidos chegam a levar advogados para intimidar a escola.
Os pais poupam os filhos de lidar com fracassos? Hoje, existe uma preocupação grande com a autoestima da criança. Por isso, muitas pessoas se veem obrigadas a dizer aos pequenos que eles fizeram um ótimo trabalho e que são brilhantes, mesmo quando isso não é verdade. Essas crianças deixam de aprender que é preciso se esforçar muito para conseguir bons resultados. No futuro, elas não terão sucesso porque, em nenhum momento, exigiu-se excelência delas. Precisamos estar mais atentos à excelência acadêmica e menos preocupados com a autoestima das crianças.
Que conselho o senhor dá aos professores? É possível evitar que os pais surtem diante de notas ruins e do mau comportamento dos filhos se for construída uma relação de confiança. Em vez de só procurar os pais quando as crianças vão mal na escola, oriento que os professores conversem com os responsáveis também quando a criança vai bem. Na minha escola, procuro conhecer os pais de todos os meus alunos. Procuro encontrá-los com frequência e envio cartas a eles com boas notícias. Assim, quando tenho que dizer que a criança não está rendendo o esperado, eles me darão credibilidade e confiarão na minha avaliação.
É possível determinar quando termina a responsabilidade dos pais e começa a da escola? As duas partes precisam trabalhar em conjunto. Os pais precisam da escola e a escola precisa do apoio da família para realizar um bom trabalho. Um conselho que sempre dou aos pais é que nunca falem mal da instituição de ensino ou do professor na frente dos filhos. Se a criança ouve os próprios pais desmerecerem seus mestres, perde o respeito por eles. O contrário também é verdadeiro. Os professores precisam respeitar os pais, porque eles são parte fundamental na educação de uma criança.
Em algumas situações a discussão sobre responsabilidades da família e da escola surge com muita força. Em casos de bullying, por exemplo, pais e professores trocam acusações. Sobre quem recai a maior parte da responsabilidade nesses casos? A minha resposta novamente é que precisamos trabalhar em conjunto. Quando o bullying acontece na escola, é obrigação dos professores intervir imediatamente. Mas muitos não agem assim porque querem evitar conflitos com os pais. E isso é muito grave. O bullying está devastando nossas crianças. Precisamos combatê-lo. Para que os professores tenham liberdade para agir, precisam do apoio dos pais. Mas você sabe o que acontece? Muitas vezes, quando os pais são chamados na escola para serem alertados de que seu filho está praticando bullying contra um colega de classe, o que ouvimos é: "Mas qual o problema disso? Tenho certeza de que outros colegas também zombam do meu filho e ele não se sente mal por isso." Mais uma vez, vemos os pais se esquivando da responsabilidade.
A que o senhor atribui o sucesso do artigo que estourou no Facebook? Eu escrevi o que todos os professores tinham vontade de dizer aos pais, mas não podiam dizer, porque isso os enfureceria. O que eu fiz foi dar voz a milhões de profissionais. Fiquei sabendo que muitas escolas imprimiram o texto e enviaram uma cópia a cada família. Na internet, pessoas de outros países também compartilharam a minha mensagem.
O senhor criou uma escola modelo, a Ron Clark Academy. Como é a relação de seus professores com os pais? Procuramos estabelecer uma relação próxima. Como eu disse, estamos constantemente em contato com os pais, nos bons e nos maus momentos. Também promovemos encontros semanalmente, nos quais ofereço aos pais a oportunidade de assistir a uma aula na escola, destinada exclusivamente a eles, para que acompanhem o que está sendo ensinado a seus filhos. Ou seja, trabalhamos muito para conquistar uma relação harmônica. Não estou dizendo que é fácil lidar com os pais. Alguns deles podem ser bem malucos.
O senhor, na sua escola, recebe professores de diversas partes dos Estados Unidos e também de outros países, como o Brasil. Além dos problemas de relacionamento com os pais, do que mais professores de todo o mundo reclamam? As avaliações tiram o sono dos professores. Não sei exatamente como funciona no Brasil, mas nos Estados Unidos os professores são constantemente cobrados a melhorar o desempenho de suas escolas em testes padronizados. E todo o processo educacional passa a girar em torno de algumas provas. Isso é massacrante, para os alunos e para os professores. Os professores precisam de mais diversão na sala de aula.
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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Das ideias fora do lugar à falsificação da cópia
Da pena de Roberto Schwartz saíram argutas páginas do que ele, analisando o consumo de formulações intelectuais importadas, viria a denominar de ideias fora do lugar. Trata-se este de um debate constante entre os críticos da cultura na América Latina. Além de Schwartz, outros teóricos da literatura brasileira, como Antônio Cândido, trataram do assunto. Ideias fora do lugar. Machado de Assis, como assinala Schwartz, fez sutilmente a crítica a este estado de coisas e a sua novelística se desenvolve num mundo do “como se”. Ora bem, lembrei desta discussão ao receber um post de um leitor que, ao fazer uma espécie de hermenêutica de uma entrevista que concedi há cerca de seis anos ao Jornal (agora Revista) portuguesa A Página da Educação, saiu a terreiro para, digamos, uma peculiar “polêmica retroativa”. A entrevista está disponível aqui http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=156&doc=11549&mid=2, e o que o leitor, com “ares de oficialismo governamental”, põe em causa é a tese segundo a qual o descenso dos movimentos sociais, no Brasil, tem relação com o fato de dirigentes seus se terem incorporado à esfera estatal, ocupando cargos na máquina governamental. Muito bem, apenas duas notas: 1) ter relação, claro está, não significa ser a causa única; 2) querer negar a realidade por conta de uma opção política, tem nome: manipulação ideológica. Colocar ideias fora do lugar. Mais ainda: dizer de modo inverso a configuração da realidade é algo como falsificar uma cópia. Ora, não é necessário um esforço analítico de maior fôlego para demonstrar, por exemplo, que o sindicalismo brasileiro transforma-se, cada vez mais, num aparato burocratizado sustentado pelo Estado. A propósito das bases teóricas e ideológicas nas quais esta situação assenta-se, eu já as enfoquei em outro lugar, num texto em parceira com o meu amigo Carlos Machado (Universidade Federal do Rio Grande/RS), e pondo em realce a perspectiva de Robert Michels, aqui: http://www.rebelion.org/hemeroteca/izquierda/040224ms.htm
domingo, 11 de dezembro de 2011
Qual Rosto de Natal?
O que, a partir de um ponto de vista laico, poder-se-ia dizer sobre o Natal? Ao que parece, o poeta e ensaísta português Ruy Belo procurou aportar uma resposta, com Um Rosto de Natal, que a seguir reproduzo.
UM ROSTO DE NATAL - Ruy Belo
(In :Todos os Poemas II. Lisboa: Assírio Alvim, 2004, pág. 176 e 177) .
Caiu sobre o país uma cortina de silêncio
a voz distingue o homem mas há homens que
não querem que os demais se elevem sobre os animais
e o que aos outros falta têm eles a mais
no dia de natal eu caminhava
e vi que em certo rosto havia a paz que não havia
era na multidão o rosto da justiça
um rosto que chegava até junto de mim de Nicarágua
um rosto que me vinha de qualquer das indochinas
num mundo onde o homem é um lobo para o homem
e o brilho dos olhos o embacia a água
Caminhava no dia de natal
e entre muitos ombros eu pensava em quanto homem morreu por um deus que nasceu
A minha oração fora a leitura do jornal
e por ele soubera que o deus que cria
consentia em seu dia o terramoto de Manágua
e que sobre os escombros inda havia
as ornamentações da quadra de natal
Olhava aquele rosto e nesse rosto via
a gente do dinheiro que fugia em aviões fretados
e os pés gretados de homens humilhados
de pé sobre os seus pés se ainda tinham pés
ao longo de desertos descampados
Morrera nesse rosto toda uma cidade
talvez pra que às mulheres de ministros e banqueiros
se permita exercitar melhor a caridade
A aparente paz que nesse rosto havia
como que prometia a paz da indochina a paz na alma
Eu caminhava e como que dizia
àquele homem de guerra oculta pela calma:
se cais pela justiça alguém pela justiça
há-de erguer-se no sítio exacto onde caíste
e há-de levar mais longe o incontido lume
visível nesse teu olhar molhado e triste
Não temas nem sequer o não poder falar
porque fala por ti o teu olhar
Olhei mais uma vez aquele rosto era natal
é certo que o silêncio entristecia
mas não fazia mal pensei pois me bastara olhar
tal rosto para ver que alguém nascia
sábado, 10 de dezembro de 2011
Cliff: Do ver claramente agora
O jamaicano Jimmy Cliff talvez seja o menos compreendido dos grandes nomes do reggae. Artisticamente, contudo, parece ser um dos mais criativos. Sempre procurou renovar a sua música, o que lhe valeu a acusação de abandonar as raízes suas rastas - o que, de par com a sua aproximação ao islaminismo, valeu-lhe insulto público na sua Jamaica. Daí, Cliff partiu para a Inglaterra e abriu portas para o reggae na Europa e no resto do mundo. No Brasil, dentre outros artistas, pisou palcos com Gilberto Gil - sucesso absoluto. Possivelmente (será?) Cliff seja o único nome do reggae influenciado pela MPB. Há quem diga que I Can See Clearly Now reflete isso. Vejamos então. Look straight ahead, there's nothing but blue skies - até porque o sábado na capital paraibana começa assim.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Os Contextos Locais em evidência
Decorrerá em Buenos Aires, em Agosto do próximo ano, um Fórum da ISA (Associação Internacional de Sociologia) subordinado ao tema Justiça Social e Democratização. Idiomas para apresentação de trabalhos: inglês, francês e espanhol. No evento, destaque para o GT Relações entre o Local e o Global - abaixo, reproduzo as suas diretrizes.
Working Group on Sociology of Local-Global Relations, WG01
Programme Coordinator
Nataliya VELIKAYA, Russian State University for the Humanities, Russia, natalivelikaya@gmail.com
WG01 Liaison in Argentina
Sebastián Pereyra, CONICET and Universidad Nacional de San Martín, sebpereyra@gmail.com
Number of allocated sessions including Business meeting: 12.
Deadlines
· On-line abstract submission will be open from August 25 to December 15, 2011.
· All Forum participants (presenters, chairs, discussants, etc.) need to pay the early registration fee by April 10, 2012 in order to be included in the programme. If not registered, their names will not appear in the Programme or Abstracts Book.
· On-line registration will open on August 25, 2011.
Call for papers
We invite all the members of the WG and all scholars and researchers in the broad field of political sociology and political sciences to participate and to send your papers for session topics.
Proposed sessions
in provisional order
Only abstracts submitted through ISA website platformwill be considered.
Session A
Local-global relations after Rio+20
Chair
Krzysztof OSTROWSKI, Pultusk Academy of Humanities, Poland, krzysztof@ostrowski.waw.pl
ISA Forum will take place right after Rio+20 UN Summit on Sustainable Development. It should be expected that this summit will expand, re-write or re-schedule some of important provisions of Earth Summit 1992 and such key documents as Brutland report or Agenda 21. Summit in 2012 is planned in an innovative way, opening not only debates but also preparation of documents to Member States, UN system and representatives of nine major groups having crucial importance in shaping local-global relations: Business and Industries, Children and Youth, Farmers, Indigenous People, Local Authorities, NGOs, Scientific and Technological Community, Women, Workers and Trade Unions. Contribution fromconcerned groups are expected by 1 November 2011. The papers presented at ISA Forum session will address issues raised in those preliminary contributions and will comment on the results of the summit as will as the prospects of sustainable development in different regions and countries.
Session B
Political culture and political actors: Socialization, recruitment, and values of the local political class
Chair
Flaminia SACCA, University of La Tuscia, Italy, sacca@unitus.it
Over a century has gone by since Gaetano Mosca’s definition of a political class, focused on the fact that in any society in history a minority governs and a majority is governed. Regardless of the political system and of the way consensus is sought after. Almost fifty years have passed since Almond and Verba’s first theorizations on political culture and its influence on a Country’s democratic basis. Although many authors have pointed out the limits of its first version (the liberal point of view, the limits of the political culture of citizens disregarding their actual behavior, or the economic and political system in which political processes take place), the innovation in the approach to social studies of political processes is still topical.
In this session we aim at analyzing the political culture of what represents a relevant part of the political bone-structure in many countries: the local political class. Of course juridical and economic factors define the role and relevance of local administration and politics but if they are at the turning point between citizenship, territory and national politics, what is their contribution (real or potential) to democratic policy making in times of globalization? Can we still speak of a political class at a local level? How is it recruited, what is the background and, most importantly, what political culture does it express in the different Countries? Is its decision making process challenged by the general globalization of politics, leadership, agenda, key words, communication and, of course, economy?
Session C
Post-Soviet societies: 20 years of tortuous transformation
Chair
Olga GUZHVA, V.N. Karazin Kharkiv National University, Ukraine, guzhva.olga@gmail.com
The purpose and the main focus of this panel will be the transformations that the post-Soviet societies were undergoing since the break-up of the Soviet Union.
Twenty years of these changes have produced mixed results: In some states, the new institutions tend to work more or less efficiently, and society seems to be generally normalized. In some other states one finds today a situation of high degree of political and economic instability leading to serious social problems. We would like to launch the discussion on whether the post-Soviet transformations have produced a new kind of “failing state” that requires a serious conceptual elaboration. This panel offers the possibility of a debate on transformation in politics and policies, in economics, international relations, in culture and identities of the post-Soviet countries. We need to address these developments by raising a number of serious and stimulating questions: What are the structural and functional problems of Post-socialist polities? What are the stabilizing factors for these societies? How to explain the variety of transformation models in these countries after the initial enthusiasm for marketization and democratization? What is so peculiar about cultural changes and national identity building?
We will focus on the reality of post-socialism and try to raise and answer the questions that require a systematic and multi-dimensional analysis of the political, socio-economic and cultural problems of Post-Soviet societies. We highly encourage the papers that would combine multi-disciplinary, comparative and case-study approaches.
Session D
Social challenges in developing countries as consequences of globalization
Chair
Aigul ZABIROVA, Eurasian National University, Kazakhstan, zabirova@hotmail.com
Much of the preceding discussion in social sciences can be subsumed under a positive meaning of globalization processes and results. Obviously, globalization has a positive meaning due to removing barriers to free trade and promotes an economic integration; globalization has the potential to improve quality of life for deprived social groups. Simultaneously, globalization can led to adverse environmental changes, corrupted political structures, and cultural lag in developing countries as a result of rapid economic changes. The focus of this session is the social challenges and consequences faced by local groups under the force of globalization. We will address following principal questions. First, how has globalization affected inequality among and within developing countries? We will try to investigate this problem deeper than in has been done by pessimists and optimists of globalization and suggest some answers to the question of whether globalization is good for employment, poverty alleviation and income redistribution within the developing/transitional countries. Secondly how are local groups and communities responding to global risks and challenges? The risk response mechanisms that countries and entire regions have in place are often not able to deal with the complex problems that confront the world. Growing unemployment is an example.
Session E
Local development and local democracy: Problems of social justice
Chair
Arvydas Virgilijus MATULIONIS, Lithuanian Social Research Centre, Lithuania, matulionis@ktl.mii.lt
Social injustice/social justice can be evidently seen at the local level. Different duties of municipalities and different forms of local authorities can transform municipalities from bodies solving social problems to the bodies pursuing theirs own selfish ends. We are going to examine experience of local communities, their problems, success and failures from different countries and regions all over the world. Motivation and activities of local elites, local staffs and local deputies can be described as well as public opinion about local power and its representatives.
The main questions of the session are the following: What are the different approach of local elites to the problems of social justice? What is the difference between considering social justice in old capitalist countries and in developing countries? What are national and territorial peculiarities of perception of social justice? How might social justice be encouraged in developing/transitional countries? How social has been transforming during global economic crisis? How does social justice depends on economic and political level of development of different communities and on level of democracy in the country? What s the role of civil initiatives, NGO and political organizations in the public discourse about social justice?
Session F
Global cultural centers and development of local cultures
Chair
Nataliya VELIKAYA, Russian State University for the Humanities, Russia, natalivelikaya@gmail.com
Globalisation affected cultural processes in a total way. Homogenization of culture in modern world obviously has been following by the so called localization of the culture which have different manifestations: from archaization to self-isolation and from macdonaldization to simplification. This process has both positive and negative consequences.
So centers of globalization dictate and determine cultural consumption and main cultural tendencies in the world. On the other hand this process clash with contrary tendencies. Local cultures have to adapt to the needs of new cultural market or to close themselves and to conserve themselves excluding development.
We are going to focus on tendencies of cultural process connected with globalization on local, regional and sub-regional levels, to consider different points of cultural interventions to provinces and to peripheries and to estimate some of results of that, to find our if globalization makes deeper cultural gap between different communities and provokes new forms of inequality in modern world or on opposite it destroys cultural barriers and create common cultural space?
Session G
Panel session: Protest movement in globalizing world
Chairs
Husein ISAEV, EuroAsian Universtity, Kyrgyzstan, kusein@elcat.kg
Larissa VDOVICHENKO, Russian State University for the Humanities, Russia, vdlarissa45@yandex.ru
Globalism as a policy includes different elements in the common melting pot of the new order, reproduces inequality and discrimination, provide bureaucratic management on the different levels. On the other hand new social forces appear which cant accept new order (M. Hardt, A. Negri, Empire). This groups act not only in new developing countries exclkuded from the world economic system but also in the old capitalists countries, where we can see increasing of movements agains reducing social rights. Sustainability of social states mainly depends on the striving of social groups to defend and to keep their rights.
As for developing countries social rights there are directly linked with the way to democracy and with the political regimes. One can remember events in post-socialist countries (so called orange revolutions and colored revolutions) or Arab spring.
It would be expedient to examine different protest movements, their social bases in different social and political systems as well as to estimate activity of so called global civil society, which are becoming the most significant actors of political changes.
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