Reproduzo, a seguir, um artigo de Thomaz Wood Jr., Professor da Fundação Getúlio Vargas e colunista da Revista Carta Capital, a propósito de um tema caro ao mundo acadêmico hoje: a necessidade de o mesmo 'internacionalizar-se', o imperativo de a universidade brasileira sair do provincianismo, que, infelizmente, predomina em determinados segmentos seus. Que os universitários e os pesquisadores que estão a iniciar a sua caminhada tenham isso em conta.
Recentemente, um colega estrangeiro solicitou a este escriba
participação em uma investigação sobre padrões de cooperação internacional na
ciência. Objetivo: entender por que acadêmicos latino-americanos buscam
cooperar com norte-americanos e europeus mais do que com seus próprios
vizinhos, na atividade de desenvolvimento e publicação de trabalhos
científicos.
Não faltam hipóteses. Europa e América do Norte ainda concentram parte considerável da
produção científica mundial. Os mais renomados institutos de pesquisa, as
principais universidades e as revistas de maior impacto encontram-se em países
dessas regiões. O clube prima pela meritocracia, porém, é frequentemente
acusado de elitista. Ali e acolá, a porosidade vem aumentando. O centro vem
atraindo contingentes crescentes de asiáticos e eslavos.
Enquanto isso, a periferia
tropical mantém um sistema caro e ineficiente de pesquisa, algumas ilhas de
excelência cercadas de mares estagnados pela indolência e pelo corporativismo.
Sua insularidade é garantida por um sistema de autoavaliação que garante
pequenas benesses mediante reduzidos esforços.
Matéria veiculada pela
revista Nature, no fim de
maio, trata do mesmo tema da cooperação internacional em pesquisa. Jonathan
Adams, o autor, argumenta que a atividade de pesquisa, essencial para sustentar
o avanço econômico e a qualidade de vida, progrediu em três eras: a individual,
a institucional e a nacional. Agora, segundo o especialista, estamos iniciando
a quarta era, caracterizada pela colaboração internacional entre grupos de
elite. Nesta nova era, as instituições de pesquisa que não estabelecerem
parcerias internacionais podem se tornar irrelevantes.
Adams conduziu uma
pesquisa que incluiu cerca de 25 milhões de artigos científicos, publicados de
1981 a 2012. Foram analisados seis países desenvolvidos – Estados Unidos, Reino
Unido, Alemanha, França, Holanda e Suíça – e cinco países em desenvolvimento –
China, Índia, Coreia do Sul, Brasil e Polônia. Nos países desenvolvidos, a
produção científica total cresceu, mas a parte dessa produção exclusivamente
doméstica manteve-se estável. Portanto, o crescimento foi consequência de
parcerias internacionais.
Nos países emergentes, ao contrário, o rápido crescimento registrado deveu-se
essencialmente ao aumento de trabalhos gerados internamente. Em 1981, esses
países publicavam menos do que 15 mil artigos científicos. Hoje publicam mais
de 300 mil. Porém, aproximadamente, três quartos da produção científica da
China, do Brasil, da Índia e da Coreia do Sul ainda são domésticos.
Adams também constatou que o impacto dos estudos assinados por
autores de mais de um país supera aquele dos trabalhos exclusivamente
domésticos. Além disso, essa diferença parece aumentar ao longo do tempo. O
impacto, ou fator de impacto, indica quanto o trabalho de um pesquisador é
citado por outros pesquisadores, ou seja, revela a importância do trabalho no
campo de conhecimento. O autor chama a atenção para o caso inglês. No reino de
Elizabeth II, as instituições com as maiores taxas de trabalhos colaborativos
internacionais atingem maior impacto e concentram parcela substantiva das
verbas para pesquisa.
O fenômeno pode se repetir globalmente, com a criação de duas classes de
instituições de pesquisa: um grupo de elite produtor de ciência em um sistema
de colaboração internacional, e um grupo periférico, que produz ciência com
foco doméstico. A segregação viria somar-se a outra, já existente, entre
grandes instituições de pesquisa, que atraem os melhores talentos e os maiores
recursos, e instituições periféricas, menos capazes de aglutinar esses
preciosos recursos.
Atentas às mudanças e tendências, muitas instituições em todo o mundo
incentivam a construção de redes internacionais de cooperação. O caminho é
árduo: compatibilizar interesses, agendas e egos exige doses maciças de
tolerância e paciência. Adams cita como exemplo de mobilidade e cosmopolitismo
científico a Holanda, que, segundo ele, atinge patamares invejáveis de
excelência, apesar de recursos financeiros limitados. Miremos os Países Baixos!
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