Ao lermos os textos acadêmicos de Fernando Henrique Cardoso após os seus dois mandatos presidenciais e a sua 'retirada política', calha-nos duas impressões: primeira, que, aos 82 anos, ele reencontrou-se com a arguta verve analítica que o projetou como cientista social; a segunda, que deveria ter usado (ou pelo menos usado mais) tal verve no exercício da Presidência da República. O seu novo livro, Pensadores que Inventaram o Brasil (Companhia das Letras, 329 págs.), embora em significativa medida constituído de ensaios anteriores (mas reapreciados), constitui-se, por certo, uma obra de referência para aqueles que querem entender autores clássicos do pensamento social brasileiros, sendo, portanto, a meu ver, um livro imprescindível às novas gerações. De Joaquim Nambuco a Sérgio Buarque de Holanda, de Gilberto Freyre a Florestan Fernandes, de Caio Prado Júnior a Celso Furtado, de Antonio Cândido a Raymundo Faoro, dentre outros, Cardoso passa em revista com notável poder de síntese. O que não é surpresa para aqueles que conhecem os seus trabalhos acadêmicos (e um registro: muitas críticas políticas que lhe foram - e são - dirigidas, talvez decorram do fato de não se ter lido sequer um trabalho escrito por ele). Por via do estudo de Florestan Fernandes, comecei a ler o autor de Dependência e Desenvolvimento na América Latina - e a dada altura, quando vivia fora do Brasil, cheguei mesmo a escrever um trabalho a seu respeito, com foco numa política setorial da sua administração, que recebeu como título: Brazilian Educational Policy during the Cardoso Administrations (1995-2001), acolhido como publicação por Ted Goertzel/Rutgers University/USA (crab.rutgers.edu/~goertzel/LeiteEducation.doc). Pois bem, o Fernando Henrique, cientista social, está na ativa, e defendendo a tese do 'intelectual público'. Abordarei essa tese em outra postagem.
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