'Um fantasma ronda a universidade'. O fantasma do plágio. Ele tem assumido as mais diversas faces. Já há até quem aponte, por exemplo, a existência do 'plágio dublê' - quando alguém escreve no lugar de outro alguém, que, oficialmente, é o "autor" de determinado trabalho. Legislação para punir esse delito há. Punição no meio acadêmico também (onde inclui-se até mesmo a perda de títulos obtidos). Então é fazer vale a ética e combater rigorosamente o plágio. O que já vem acontecendo, conforme pode ser visto na reportagem abaixo. Afinal, o plágio é uma afronta à competência e ao mérito.
Plágio
virou 'praga' no meio acadêmico, diz especialista
Um caso de plágio em uma tese de doutorado derrubou
a ministra da Educação da Alemanha, Annette Schavan. Ela renunciou após
acusações de que teria copiado partes do texto de seu trabalho, defendido há 33
anos na Universidade Heinrich Heine, de Düsseldorf. Além do cargo, perdeu o
título de doutora. Casos desse tipo não são tão raros: em abril do ano passado,
Pál Schimitt renunciou à presidência da Hungria após perder o título de doutor,
também por plágio.
Com o uso das ferramentas online, esse tipo de
prática vem se tornando mais comum - e nem sempre é fácil detectá-la. O que a
internet fez foi facilitar o serviço, transformando o "Ctrl+C" e
"Ctrl+V" em vilão. "No meio acadêmico, em especial, o plágio se
tornou uma verdadeira praga", diz o diretor relator da Associação
Brasileira de Propriedade Intelectual (ABPI), Cláudio Lins de Vasconcelos.
Esta discussão não surgiu no embalo da internet. Muito antes, ainda na época do
Império Romano, o fantasma da cópia não autorizada já assombrava autores de
trabalhos artísticos e intelectuais. Mas não é só a cópia que caracteriza o
plágio. As citações em trabalhos científicos, por exemplo, reproduzem
exatamente o que o autor de um livro ou artigo escreveu, mas com a devida
referência. O problema está na apropriação de trechos, quando o aluno se faz
passar por autor de uma frase ou um pensamento que não é dele.
"Inspiração não é plágio, a menos que resulte
em uma obra idêntica ou quase idêntica à original, sem que a verdadeira fonte
seja citada", esclarece Vasconcelos. Nas pesquisas, o impacto dessa
conduta pode culminar inclusive no comprometimento da credibilidade dos dados
apresentados.
A legislação brasileira proíbe a cópia não autorizada de obras protegidas por
direitos autorais, com algumas exceções que visem a uma função social (como na
imprensa ou em estabelecimentos de ensino). Porém, a lei não trata
especificamente do plágio. Mesmo assim, é possível punir essa prática com
mecanismos da própria Lei de Direitos Autorais, bem como do Código Penal, que
consideram ilegal a cópia não autorizada em geral (a violação dos direitos pode
render uma pena de 2 a 4 anos de reclusão, além de multa).
Já se a cópia está mascarada com a troca de algumas
palavras, Vasconcelos alerta que a lei poderia não se aplicar. "Se o
plagiador obtiver alguma vantagem para si ou para outra pessoa, poderá ser
enquadrado por estelionato. Desde que a intenção de ludibriar os leitores fique
demonstrada", explica o diretor relator da ABPI.
Embora tanto o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) quanto o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) não tenham um levantamento de quantas ações tramitam
por plágio no País, uma das principais instituições de ensino superior
brasileiras já demitiu por este motivo. Em um dos casos mais recentes, no
início de 2011, Andreimar Martins Soares foi exonerado da Universidade de São
Paulo (USP) depois que pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) reivindicaram a autoria de imagens utilizadas em uma pesquisa da Faculdade
de Ciências Farmacêuticas da USP em Ribeirão Preto.
Na época, a ex-reitora Suely Vilela também foi
investigada, mas acabou inocentada pelo depoimento de Soares. Ele atribuiu a
cópia a um engano de sua ex-aluna Carolina Dalaqua Sant'Ana - que perdeu o
título de doutora. Soares até tentou contestar a decisão da universidade na
justiça, mas não teve êxito.
Programas e sites ajudam a identificar trechos copiados
Se, por um lado, as ferramentas online facilitam a cópia, por outro podem
ajudar a desmascarar os casos. Hoje os professores têm à disposição programas e
sites especializados em identificar plágios, que fazem uma varredura em todo o
trabalho. Para isso, existe até produção nacional, como o Agente de Busca de
Similaridades, criado pelo professor Fernando Campos de Macedo, da Universidade
Católica de Santos (UniSantos).
Mesmo sites de buscas podem ser aliados dos
docentes, caso eles desconfiem de plágio. Para Vasconcelos, depende do
"feeling" do professor. "Nos cursos de graduação, textos muito
acima do nível médio da turma costumam justificar uma rápida investigação.
As estatísticas sobre plágio no Brasil praticamente não existem, até porque
muitos casos são resolvidos administrativamente pelas instituições, analisa o
vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB-CE), Ricardo
Bacelar. Ele é autor de um documento que orienta as universidades sobre a
adoção de medidas como o uso de softwares para coibir a prática entre os
alunos.
A recomendação foi chancelada pelo Conselho Federal
da OAB, mas Bacelar ainda critica a falta de uma política contundente, o que
deixa o Brasil atrás dos países desenvolvidos nessa questão. "Tem de haver
um trabalho político e de conscientização. As universidades precisam criar rotinas
internas para investigar os casos", opina.
O combate a esta prática não deve começar na vida
acadêmica, mas sim no ensino básico, defende o advogado. Para Vasconcelos,
trata-se de um problema ético. "O plágio precisa ser combatido com
veemência, ou estaremos jogando uma sombra de desconfiança sobre boa parte da
produção científica de nosso tempo", afirma.
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