No caminho do mundo, segundo Paulo Diniz: encanto ou desencanto da vida
Caminhos que me levam
Não têm Sul nem Norte
Mas meu andar é firme
Meu anseio é forte
Ou encanto a vida
Ou desencanto a morte
(Paulo Diniz, Vou-me Embora)
Paulo Diniz - canto de uma obra múltipla
Por Juareiz Correya
Nascido em Pesqueira, Agreste de Pernambuco, no dia 24 de janeiro de
1940, Paulo Lira de Oliveira perdeu o pai, Manuel Roque, ainda criança, e foi
criado com o sacrifício da mãe, dona Amélia, costureira pobre, que fez de tudo
para alimentar, vestir e educar o menino junto com a irmã, mais nova, Maria das
Dores. Depois da escola, o menino Paulo (quase foi registrado como Paulo
Cícero, por causa do desejo da mãe em sua religiosidade nordestina) se virava
como engraxate, na tentativa de ajudar a mãe e a irmã e, na escola da vida,
abria mais os olhos, a mente e o coração para além da Serra do Ororubá, luz e
norte de Pesqueira.
Ainda jovem, Paulo iniciou a carreira de radialista na sua
cidade natal, trabalhando na Rádio Difusora Pesqueira. Mudou-se para o Recife,
foi locutor na Rádio Jornal do Commercio e trabalhou ainda como locutor em
rádios do Ceará. Foi o jovem radialista Paulo Oliveira que chegou ao Rio de
Janeiro, em 1964, para trabalhar na Rádio Tupi, Rádio Mayrink Veiga, e
ingressar na emissora que liderava a audiência popular na capital carioca : a
Rádio Globo.
Trabalhando na Globo, cantarolando
algumas coisas nas horas vagas, o pernambucano fez uma composição de
brincadeira, e um amigo radialista, de quem era parceiro, no seu programa, em
tom descontraído, dizia : "E então, seu Diniz ? Está triste ou está feliz
?" O bordão servia como introdução para tocar a "brincadeira
musical" do cantor inédito Paulo Diniz (assim lançado com o compacto
simples da sua composição "O chorão"). A tal brincadeira, sucesso
antecipado no Programa Luiz de Carvalho, estourou nas rádios de todo o País
(chegou na época a tocar/vender mais do que Roberto Carlos). Paulo faturou
shows em todos os Estados brasileiros, sem obra definida, na base do compacto
simples, e bastava "cantar só um lado" que era o que o povo queria.
Do fulminante sucesso do compacto lançado pela Discos Copacabana
em 1966, o cantor, que havia desistido de seguir a carreira de radialista,
viveu um tempo amargo de dureza e mergulhou na vida boêmia do Rio de Janeiro em
busca dele mesmo, da sua identidade como homem e como artista. Cantava em bares
para sobreviver. Violonista autodidata, músico intuitivo, criador inquieto e
aberto para a profusão de idéias e criações do seu tempo, Paulo Diniz enveredou
pelo caminho sem fim do rico e inesgotável cancioneiro popular brasileiro. E,
com a sua música simples, marcada por uma interpretação personalíssima, em
companhia de um letrista carioca, tão sofrido quanto ele, compôs e lançou um
elepê com as suas canções e do parceiro Odibar : QUERO VOLTAR PRA BAHIA (Odeon,
Rio, 1971), produzido pelo amigo e radialista Adelzon Alves, lançado com
sucesso, firmou o nome de Paulo Diniz na emblemática constelação da MPB. A
história desse disco, em particular, merece um instigante capítulo à parte na
biografia de Paulo Diniz e na história do nosso cancioneiro moderno.
O criador inquieto e insatisfeito, como todo artista verdadeiro,
não se "aquietava" mesmo com o sucesso. E lia, de cambulhada, o que
lhe chegava às mãos e o que o seu coração descobria nas andanças e outras
harmonias do mundo. Drummond, vivo, dizia, turbilhonando a sua cabeça : E
agora, José ? E agora, Paulo ? E agora você ?
Quando musicou e lançou o poema "José", fazendo com
que o maior poeta brasileiro vivo fosse cantado, de norte a sul do País, por
crianças de 8 a 80 anos, Paulo Diniz surpreendeu muita gente e até provocou
preconceito no meio jornalístico que, desrespeitosamente, não o considerava
"capaz" de musicar a poesia de Drummond. Era muita ousadia...
Pois é. Ele ousou e fez. Ao longo
de sua carreira - mais de 100 canções, de sua autoria e com alguns parceiros, gravadas
em 15 elepês e CDs, Paulo Diniz já compôs e interpretou composições, além de
Drummond, com a poesia de Manuel Bandeira("Vou-me embora pra Pasárgada"),
Ferreira Gullar ("Bela bela"), Jorge de Lima ("Essa Nega
Fulô", Gonçalves Dias ("Canção do Exílio"), Gregório de Matos
("Definição do Amor"), Augusto dos Anjos ("Versos Íntimos")
e Adélia Prado ("Amor Feinho"). E tem ainda poemas musicados inéditos
de Ascenso Ferreira, Jayme Griz, Zé da Luz, e mais Adélia e mais Drummond.
Todos os poemas musicados serão reunidos na edição especial de um CD - PAULO
DINIZ E O SENTIMENTO DO MUNDO - que será lançado em breve.
Nos seus 70 anos de música e poesia, Paulo Diniz continua o mesmo
compositor e músico intuitivo com a sua criatividade antenada com a leitura do
"sentimento do mundo", aliando a sua voz à interpretação da palavra
mais humana de notáveis poetas brasileiros.
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