O Casamento, único romance que Nelson Rodrigues assinou com o próprio nome, sintetiza o seu pensamento, segundo a Folha de São Paulo, ao noticiar a montagem da peça teatral inspirada na obra. Tenho dúvidas. Mas o que importa é o fato de um dos principais cronistas e dramaturgos brasileiros conseguir, enfim, ter o seu devido reconhecimento, mesmo que só agora, tardiamente. A peça está no Teatro Tuca, na capital paulista. A seguir, uma breve referência a Nelson e ao livro.
O Casamento (Nelson Rodrigues)
Tão criticado quanto incompreendido. Tão amado
quanto odiado. Para uns, um pervertido, para outros um reacionário. Em se
tratando de Nelson Rodrigues, impossível mesmo é ficar indiferente à sua obra,
seu talento e sua personalidade. Tanto que a história tratou de colocá-lo em
seu lugar de direito, como um dos maiores cronistas e dramaturgos brasileiros.
Com seu estilo trágico e passional, em sua
segunda peça, Vestido de Noiva,
encenada em 1942, praticamente reinventou o gênero, dando início ao moderno
teatro brasileiro. Batizou, assim, as peças carregadas de tragédias burguesas,
que desvendam a hipocrisia existente no seio da tradicional família brasileira:
histórias rodrigueanas.
Fruto de uma vida marcada por dramas pessoais, o
texto de Nelson é doído, rasgado, irônico, descarado. Escancara o que não se
diz, penetra os pensamentos mais recônditos e coloca às claras o que a
sociedade – daquele tempo e dos dias de hoje - insiste em esconder: a esposa
adúltera, o pai pervertido, o padre hipócrita, a adolescente maliciosa.
Colocando em cheque crenças e valores, põe na boca de seus personagens aquilo
que ele, Nelson, tem vontade de bradar aos quatro cantos. "Se todos
conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém se
cumprimentaria."
Publicado em 1966, "O Casamento" foi o
único romance do autor escrito para ser publicado diretamente em livro e não em
crônicas de jornais. Bem ao estilo de Nelson Rodrigues, nada melhor do que uma
instituição sagrada para servir de palco para uma história arrebatadora de
desencontros, traumas, hipocrisia e tabus. Pouco tempo depois de lançado o
livro seria censurado pelo Ministro da Justiça do Governo Castelo Branco, por
ser considerado um "atentado" contra a "organização da
família". A essa altura, porém, já alcançara grande sucesso entre os
leitores. (...).
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