Já foi dito 'que quando o extraordinário se faz cotidiano, isto é revolucionário'. A dimensão simbólica desta compreensão me veio à mente exatamente ao rever um vídeo de 'Capitães de Abril', filme de Maria de Medeiros, sobre a Revolução dos Cravos Portuguesa. Talvez aqui pelos trópicos nunca tenha sido bem apreendido o significado histórico do 25 de Abril de 1974 em Portugal (inclusive para a oposição brasileira à ditadura militar, que para lá mandou exilados). "Daqui a pouco", contudo, quadro décadas nos vão separar da insubmissão dos capitães e do movimento popular português, que pôs termo a cerca de meio século da ditadura fascista implantada por Salazar. Parece-me a mim ser uma altura oportuna, deste lado de cá do Atlântico, para recuperar o significado histórico da Revolução dos Cravos. O momento retratado pelo vídeo é emblemático. É certo que, hoje, em território luso, as perspectivas que foram descortinadas pelo 25 de Abril constituem-se numa imagem distante. O 25 de Novembro de 1975, com Mário Soares à cabeça, mudou o rumo dos coisas. Mas, efetivamente, entre o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro, Portugal terá vivido o seu "momento Comuna de Paris" - o que levou o saudoso Francisco Rodrigues fazer vir a lume um livro sugestivamente denominado 'O Futuro era Agora'. Como as coisas mudaram de rumo, Francisco depois escreveu 'Abril Traído'. Ele bem sabia do que falava, figura histórica que foi no seio do marxismo português, e de uma franqueza/coerência política que, durante mais de uma década em que privei da sua amizade, poucas vezes vi em alguém. No Brasil, o único texto sobre Francisco Rodrigues e sua obra foi produzido pelo meu amigo Alder Júlio/UFPB (disponível aqui: http://www.consciencia.net/ francisco-martins-rodrigues- um-militante-atipico-na- rotina-esteril-dos-pcs/ ). Ler Francisco, assistir o filme Capitães de Abril e ouvir Zeca Afonso, com a sua música-símbolo do 25 de Abril - passos para recuperar o significado histórico da Revolução dos Cravos.
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