quarta-feira, 28 de março de 2012

Jornalismo na blogosfera: política, história e poder

 

Em terras potiguares, por vezes, utiliza-se a expressão ‘jornalismo desejoso’ para designar jornalistas que querem misturar o curso dos fatos com desejos pessoais.  A expressão calha bem. Não obstante as virtudes da circulação da notícia no âmbito da blogosfera, o jornalismo aí feito tem os seus problemas. Como bem revela uma sociologia da comunicação, a instantaneidade , não raro, tende a atropelar o bom jornalismo, a checagem das fontes, a investigação. Já para não se falar das dificuldades para as grandes reportagens, que demandam tempo. Daí não ser surpresa que, utilizando um jargão da área, as ‘barrigas’ abundem. Ora bem, por estes dias, sempre que o tempo me permitiu, andei dando uma vista de olhos em blogs de PE e da PB, tendo como foco exatamente o mesmo fenômeno: a cobertura em relação à definição do candidato petista à Prefeitura de João Pessoa e Recife. Pela PB, os exemplos do dito ‘jornalismo desejoso’ pululam. Em relação à capital pernambucana, chamou-me bastante a atenção, além da existência do referido jornalismo, a “inconstância editorial”. Canta-se a notícia como, parece, se gostaria que ela fosse, para depois,  sendo-se atropelados pelos fatos, ficar o dito pelo não dito. Estranho também que se reproduza a informação segundo a qual o prefeito João da Costa (Recife), se não for candidato a reeleição, passará a história como o primeiro executivo do PT a viver  essa situação – o que é mostrado como um golpe ou cassação de direito.  Ora, se fosse considerada a história do tempo presente, como diz o historiador Eric Hobsbawm, saber-se-ia muito bem que isso não é verdade. O então governador petista do Rio Grande do Sul Olívio Dutra, em 2002, não só se submeteu a prévias como, não as vencendo, não disputou a reeleição e apoiou o vencedor da consulta interna, Tarso Genro. Como já foi afirmado, assim como os historiadores são sociólogos do tempo passado, os jornalistas, de certa forma, também são 'historiadores' do tempo presente. É lamentável, portanto, que estrangulem os fatos.

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