O novo livro do sociólogo Jessé Souza promete despoletar bons debates. 'A Elite do Atraso: Da Escravidão à Lava Jato' vai na contramão do pensamento mainstream de grande parte da intelectualidade brasileira, intelectualidade que o próprio Jessé já a denominou de tola. Esta ainda continua a repetir o bordão que deriva os problemas da configuração social brasileira da herança portuguesa, mas, numa discussão criteriosa, não é levada a sério. Sobra-lhe apenas o ridículo, cada vez mais evidente no modo como ela se posiciona em relação à conjuntura latino-americana. Não custa lembrar que já foi dito que, no Brasil, não há propriamente direita e conservadores, dado o grau de ignorância reinante entre o que assim se colocam, e assumir a referida perspectiva demanda elaboração intelectual. É certo que, atualmente, cérebro é algo de uso escasso no país, e daí tenhamos os super-heróis do combate à corrupção de ontem abraçados com corruptos favoritos hoje, e sem serem incomodados. Em um ambiente assim, a ideia messiânica (e, portanto, não republicana e não democrática) de juízes e promotores como cavaleiros da redenção de uma nação atolada na corrupção pode, galopando na parcialidade, dar-se ao luxo de manter os privilégios da sua casta e recusar as tentativas de investigação dos casos de corrupção que nela ocorrem. A propósito, o caso das diárias anuais recebidas por procuradores da Lava Jata é paradigmático. Coisas que nem em sonho o povo brasileiro imagina para si. Vale a pena observar a reprodução aí abaixo referente ao recebimento só de diárias por procuradores, afora os altos salários e outros privilégios que o segmento desfruta. Enquanto isso, a bestialização prospera.