Por Cláudia Eloi e Suetoni
Souto Maior
Prédio com tijolos e mobília
requintada, ao gosto da arquitetura e da decoração germânicas, combinadas com
uma grande bandeira com a suástica, estrategicamente colocada na área central
de uma das paredes da sala. No local, uma concorrida reunião do Partido
Nazista, iniciada com a tradicional saudação “heil Hitler”, numa referência ao
Terceiro Reich. Nos planos, a expansão da ideologia nazista no Brasil e na
América Latina.
Apesar de a descrição acima sugerir um encontro na distante e
fria Berlin, na Alemanha, o local fica bem mais próximo: o palacete pertencente
à família Lundgren, em Paulista (PE), região metropolitana do Recife. O
casarão, assim como a fábrica, era usado como uma espécie de “quartel general”
pelos integrantes do Partido Nazista em Pernambuco.
Os encontros ocorreram de 1932 a 1938, quando a existência do
movimento foi proibida em solo brasileiro. A partir daí, eles passaram à
clandestinidade e foram acompanhados de perto, na época, pelo serviço de
espionagem brasileiro. O governo federal queria estar a par de qualquer
movimentação, e cada passo dos alemães era cuidadosamente registrado.
Oficialmente, os alemães foram a Pernambuco para trabalhar na
Fábrica de Tecidos Paulista, que deu origem à rede de lojas Casas Pernambucanas,
de propriedade dos Lundgren. Mas algumas reuniões, de acordo com os arquivos do
Departamento de Ordem Política e Social (Dops), tinham como propósito difundir
entre os “espiões nazistas” a propagação da ideologia de Hitler, os planos de
expansão do regime e os preparativos para a Segunda Guerra Mundial.
Com a mudança de lado do ex-presidente Getúlio Vargas, que
passou de simpatizante a inimigo do nazismo, em 1942, já com a guerra em curso,
por pressão do governo americano, diversos alemães foram levados ao campo de
concentração batizado de Chã de Estevam, em Araçoiaba, antigo distrito de
Igarassu. “O Dops de Pernambuco, além de caçar comunistas, teve forte atuação
na perseguição dos supostos espiões nazistas. Não eram apenas os funcionários
da fábrica. Muitos deles atuavam como empresários, em instituições financeiras,
no comércio e na indústria”, explicou o chefe de apoio técnico do Arquivo
Público do Estado, Roberto Moura.
-------------------------
Fonte: http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/50686