quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Arrogância na derrota



Por Rogério Getile 

Após uma eleição esquizofrênica em que o governo o tempo todo prometeu mudanças ("mais mudanças") e a oposição ficou repetindo que ia manter isso ou aquilo, as explicações do PSDB para a derrota de domingo surpreendem pela falta de senso crítico.
Os tucanos até agora formularam duas grandes justificativas complementares. A primeira, expressa por FHC, atribui o resultado ao tom agressivo da campanha de Dilma, como se isso tivesse sido uma prerrogativa do PT. Não foi, obviamente.
O PSDB também bateu duro nos adversários. A diferença é que Aécio, embora político com muito mais traquejo do que Dilma, caiu na armadilha presidencial. A petista atacava o tucano no debate da Bandeirantes, citava seus familiares, quando o ex-governador levantou o dedo e lascou um "leviana", achando que poderia repetir com a presidente a mesma virulência que usara no primeiro turno com Luciana Genro. Não podia.
Muito bem explorado pelo PT e por Lula nos palanques, o adjetivo voltou-se contra Aécio como um bumerangue. O candidato, que estava numericamente à frente de Dilma nas pesquisas, começou a perder apoio de parte do eleitorado, sobretudo o feminino, o que lhe foi fatal.
A segunda explicação do PSDB para a derrota beira a arrogância, a mesma que motivou tucanos, duas semanas antes da eleição, a tratarem da montagem do eventual governo Aécio como se a vitória fosse apenas uma questão de tempo. Não era.
Desde domingo, aliados de Aécio reclamam que "Minas falhou com um grande estadista" e que os "mineiros não quiseram ter um presidente na linha de JK". O PSDB, que esperava obter 2 milhões de votos a mais do que Dilma no Estado, perdeu em 608 das 835 cidades, em várias delas por mais de 80% dos votos.
Ou seja, para os tucanos, a derrota não foi motivada por erros do candidato ou do partido, tampouco ocorreu por mérito da adversária. A culpa, ora bolas, é do eleitor.
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