quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Eleição, ciência e emoção


Por Daniel Jelin
Disputas eleitorais não são feitas só da análise fria de propostas, currículos, números e fatos históricos. Como bem sabem os marqueteiros, o fator emocional joga um papel decisivo na definição do voto. E um novo ramo de pesquisa científica, que explora o comportamento político com as ferramentas da neurologia, explica por que são as metáforas, os slogans, as imagens fixadas pelos candidatos que orientam o voto.
Escolhas políticas são "viscerais", escreve o neurocientista americano Drew Westen em "O Cérebro Político", que lançou em 2007 e rapidamente entrou para a literatura básica do marketing eleitoral. O livro é um puxão de orelha no seu próprio partido, o Democrata. Nele, Westen escarnece dos marqueteiros que menosprezam os fatores emocionais em favor das estatísticas e dados históricos. É o que chama, ao compilar desastrosas campanhas democratas, de "apego irracional à racionalidade". Westen mergulha no jogo complexo de emoções a que os eleitores estão sujeitos, condicionadas ao funcionamento de regiões do cérebro que há apenas pouco tempo os cientistas começaram a entender, como a amígdala, parte do sistema límbico, a nossa "central de emoções". À amígdala é atribuído o rápido processamento de estímulos, mesmo os subliminares, e o desencadear de emoções como o medo e a ansiedade. É um jogo complexo, mas a dedução é bastante simples: "O cérebro político é um cérebro emocional", diz Westen. "Se não sentimos, não prestamos atenção."
Também americano, também democrata, o neurolinguista George Lakoff alerta há anos para a importância do componente passional das eleições. Em uma passagem de seu "A Mente Política", outro puxão de orelha no partido, ele escreve: "a emoção apropriada é racional". "Há uma teoria antiga segundo a qual emoção atrapalha a razão".  "Em geral, isso é falso. Se não sentimos emoção, gostar ou não gostar não significam nada, e as decisões se tornam aleatórias". Lakoff aponta uma falsa expectativa entre democratas de que bastaria ao eleitor conhecer a "verdade" dos números para aderir ao candidato do partido. Mas, como um sem-número de derrotas ensinou, os eleitores simplesmente não se comportam desta maneira.
Lakoff localiza a força de uma campanha no campo simbólico - as cenas, as metáforas, os slogans. Para o linguista, estas representações testam os princípios morais do eleitorado. "Tudo na política é moral", diz. Daí a importância de certas questões que, a princípio, dizem pouco sobre o futuro de um país. O aborto, por exemplo. Pode-se discutir os aspectos jurídicos da legalização do aborto ou especular sobre o momento determinante do início da vida e até contar o número de procedimentos de curetagem tabelados pelo SUS, mas ao eleitor médio o que interessa na hora do voto é saber: "Este candidato pensa como eu?”


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