Por Daniel Jelin
Disputas eleitorais não são feitas só da análise fria de
propostas, currículos, números e fatos históricos. Como bem sabem os
marqueteiros, o fator emocional joga um papel decisivo na definição do voto. E
um novo ramo de pesquisa científica, que explora o comportamento político com
as ferramentas da neurologia, explica por que são as metáforas, os slogans, as
imagens fixadas pelos candidatos que orientam o voto.
Escolhas
políticas são "viscerais", escreve o neurocientista americano Drew
Westen em "O Cérebro Político", que lançou em 2007 e rapidamente
entrou para a literatura básica do marketing eleitoral. O livro é um puxão de
orelha no seu próprio partido, o Democrata. Nele, Westen escarnece dos
marqueteiros que menosprezam os fatores emocionais em favor das estatísticas e
dados históricos. É o que chama, ao compilar desastrosas campanhas democratas,
de "apego irracional à racionalidade". Westen mergulha no jogo complexo
de emoções a que os eleitores estão sujeitos, condicionadas ao funcionamento de
regiões do cérebro que há apenas pouco tempo os cientistas começaram a
entender, como a amígdala, parte do sistema límbico, a nossa "central de
emoções". À amígdala é atribuído o rápido processamento de estímulos,
mesmo os subliminares, e o desencadear de emoções como o medo e a ansiedade. É
um jogo complexo, mas a dedução é bastante simples: "O cérebro político é
um cérebro emocional", diz Westen. "Se não sentimos, não prestamos
atenção."
Também
americano, também democrata, o neurolinguista George Lakoff alerta há anos para
a importância do componente passional das eleições. Em uma passagem de seu
"A Mente Política", outro puxão de orelha no partido, ele escreve:
"a emoção apropriada é racional". "Há uma teoria antiga segundo
a qual emoção atrapalha a razão". "Em geral, isso é falso. Se não sentimos
emoção, gostar ou não gostar não significam nada, e as decisões se tornam
aleatórias". Lakoff aponta uma falsa expectativa entre democratas de que
bastaria ao eleitor conhecer a "verdade" dos números para aderir ao
candidato do partido. Mas, como um sem-número de derrotas ensinou, os eleitores
simplesmente não se comportam desta maneira.
Lakoff
localiza a força de uma campanha no campo simbólico - as cenas, as metáforas,
os slogans. Para o linguista, estas representações testam os princípios morais
do eleitorado. "Tudo na política é moral", diz. Daí a importância de
certas questões que, a princípio, dizem pouco sobre o futuro de um país. O
aborto, por exemplo. Pode-se discutir os aspectos jurídicos da legalização do
aborto ou especular sobre o momento determinante do início da vida e até contar
o número de procedimentos de curetagem tabelados pelo SUS, mas ao eleitor médio
o que interessa na hora do voto é saber: "Este candidato pensa como eu?”
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