Do meu amigo José Francisco de Melo Neto (UFPB), ou simplesmente Zé Neto, de tantas caminhadas na 'estrada do tempo', recebo o texto aí abaixo, com foco nos atuais dilemas da democracia representativa. Leitura de um debate atual.
José Francisco de Melo Neto
Prof. Titular - UFPB
Vivem-se tempos cruciais para a
democracia representativa que são os momentos de escolhas das individualidades.
Um pacote de siglas se apresenta às pessoas que irão escolher os representantes
desse modo político de vida, um tipo peculiar de democracia. Siglas que, hoje,
pouco ou quase nada expressam. Esforços para se compreender essas ideias, de
nada valem. Afinal, de que ideologias estão a dizer? Não será a ausência total delas
mesmas, diante de seus rearranjos? Dessa forma, é difícil propor qualquer tipo
de análise que se sustentem ou que se justifiquem os resultados. Impossível é a
compreensão da lógica de um "eleitorado". Os analistas estão perplexos
com os resultados das eleições no país. Os esforços de compreensão, em busca de
qualquer sentido, caem por terra. Os
candidatos à presidência, mais da metade deles, contando com a Dilma, vem de um
mesmo "campo" ideológico. A eleição se tornou uma mera disputa do PT
versus PT, isto no primeiro turno.
Mas, o que parece dizer esse
resultado eleitoral? Primeiro é a incompreensão das pessoas encarregadas de
escolherem seus representantes quanto às suas diferenças. Tudo parece muito
plastificado, confundindo-se a escolha e comprometendo o seu resultado. Outro
aspecto é o pouco distanciamento daquilo que propõem os candidatos. Candidatos
à presidência estão distanciados um do outro por aparentes diferenciações
circunstanciais, como no primeiro momento. No segundo momento, essas
aproximações estão presentes, ainda fortemente, mesmo que reduzidas as siglas
para um PT que defende um socialismo, à moda brasileira, e pouca empiria para
sua demonstração, podendo, inclusive, ser atendido pela formulação do outro
partido que defende a social democracia brasileira. Como formulação teórica
política, esse socialismo pode coincidir em ambas estratégias políticas. Além
disso, a diferença entre essas formulações permanece muito distante da
compreensão das pessoas eleitoras, apesar dos tempos de ambas agremiações em
governos. A não educação política do povo é a marca de ambas constelações
partidárias.
Mas, não fica só em formulações da
teoria de sociedade ou tipos de socialismo. As aproximações entre candidata e
candidato, no segundo tempo eleitoral, estão em suas ações já vividas em governos
anteriores. Praticamente estão empatados em suas propostas quanto à
simplificação tributária, ao transporte urbano, infraestrutura, saúde, banco
central e programas sociais, como exemplos. Já temáticas como reforma política,
comércio exterior, ensino médio e inflação pouco se distanciam e pouco serão
compreendidas pela maioria que irá votar.
A promoção petista de ampliação da
classe média parece, agora, voltar-se contra si mesmo, quando essas classes
defendem suas próprias intenções ou desejos e fugindo da ideia de uma
democracia de maioria. Estão em cheque as ideologias a partir das estapafúrdias
coligações, comprometendo este modelo de democracia.
Os tempos podem estar pedindo outro
modelo de democracia como a democracia
direta. Aí, com todas as contradições que advirão pela total inexperiência
dessa prática social. O processo eleitoral em curso aponta mesmo que a democracia representativa se apresenta
esgotada.
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