quinta-feira, 16 de outubro de 2014

'Democracia representativa esgotada'

Do meu amigo José Francisco de Melo Neto (UFPB), ou simplesmente Zé Neto, de tantas caminhadas na 'estrada do tempo', recebo o texto aí abaixo, com foco nos atuais dilemas da democracia representativa. Leitura de um debate atual. 



José Francisco de Melo Neto
Prof. Titular - UFPB

            Vivem-se tempos cruciais para a democracia representativa que são os momentos de escolhas das individualidades. Um pacote de siglas se apresenta às pessoas que irão escolher os representantes desse modo político de vida, um tipo  peculiar de democracia. Siglas que, hoje, pouco ou quase nada expressam. Esforços para se compreender essas ideias, de nada valem. Afinal, de que ideologias estão a dizer? Não será a ausência total delas mesmas, diante de seus rearranjos? Dessa forma, é difícil propor qualquer tipo de análise que se sustentem ou que se justifiquem os resultados. Impossível é a compreensão da lógica de um "eleitorado". Os analistas estão perplexos com os resultados das eleições no país. Os esforços de compreensão, em busca de qualquer sentido, caem por terra.  Os candidatos à presidência, mais da metade deles, contando com a Dilma, vem de um mesmo "campo" ideológico. A eleição se tornou uma mera disputa do PT versus PT, isto no primeiro turno.
            Mas, o que parece dizer esse resultado eleitoral? Primeiro é a incompreensão das pessoas encarregadas de escolherem seus representantes quanto às suas diferenças. Tudo parece muito plastificado, confundindo-se a escolha e comprometendo o seu resultado. Outro aspecto é o pouco distanciamento daquilo que propõem os candidatos. Candidatos à presidência estão distanciados um do outro por aparentes diferenciações circunstanciais, como no primeiro momento. No segundo momento, essas aproximações estão presentes, ainda fortemente, mesmo que reduzidas as siglas para um PT que defende um socialismo, à moda brasileira, e pouca empiria para sua demonstração, podendo, inclusive, ser atendido pela formulação do outro partido que defende a social democracia brasileira. Como formulação teórica política, esse socialismo pode coincidir em ambas estratégias políticas. Além disso, a diferença entre essas formulações permanece muito distante da compreensão das pessoas eleitoras, apesar dos tempos de ambas agremiações em governos. A não educação política do povo é a marca de ambas constelações partidárias.
            Mas, não fica só em formulações da teoria de sociedade ou tipos de socialismo. As aproximações entre candidata e candidato, no segundo tempo eleitoral, estão em suas ações já vividas em governos anteriores. Praticamente estão empatados em suas propostas quanto à simplificação tributária, ao transporte urbano, infraestrutura, saúde, banco central e programas sociais, como exemplos. Já temáticas como reforma política, comércio exterior, ensino médio e inflação pouco se distanciam e pouco serão compreendidas pela maioria que irá votar.
            A promoção petista de ampliação da classe média parece, agora, voltar-se contra si mesmo, quando essas classes defendem suas próprias intenções ou desejos e fugindo da ideia de uma democracia de maioria. Estão em cheque as ideologias a partir das estapafúrdias coligações, comprometendo este modelo de democracia.
            Os tempos podem estar pedindo outro modelo de democracia como a democracia direta. Aí, com todas as contradições que advirão pela total inexperiência dessa prática social. O processo eleitoral em curso aponta mesmo que a democracia representativa se apresenta esgotada

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