Abaixo, extratos de uma
intervenção de António Nóvoa, autor com vasta obra e pesquisa nas Ciências da
Educação sobre a problemática educativa, e também, atualmente, Reitor da
Universidade de Lisboa. Os extratos são de uma intervenção sua no âmbito de uma
atividade da FENPROF (a principal
Federação dos Professores Portugueses). Como ele próprio tem realçado ultimamente,
é chegado o momento de se fazer um debate claro e direto sobre a educação, situando
de modo objetivo, por exemplo, o que se requer da escola e o papel do trabalho
docente. É chegado o momento de
ultrapassar o excesso de discursos, as “espumas de palavras”, as citações
inócuas, os textos que muito falam, mas nada dizem. Pode ser que leve tempo,
mas é chegado o momento. Conceber a escola no que lhe é específico (assegurar a
aprendizagem), é a melhor forma de se “carimbar um passaporte” para a inclusão –
e o contrário: não o é transformá-la numa espécie de instituição de prevenção/assistência
social, em detrimento da aprendizagem, sobrecarregando os professores com
funções que não são da sua responsabilidade.
Fonte: http://www.fenprof.pt
"Estamos
a assistir, nos últimos anos, a um regresso dos professores e à afirmação da
profissão docente, depois de quase quatro décadas de relativa
invisibilidade", começou por referir António Nóvoa, que retomou e
actualizou no auditório da Secundária de Camões os "desafios" da
conferência que realizou a pedido da União Europeia, em Setembro de
2007.*
"É certo que a sua importância, dos professores e do seu trabalho, nunca
esteve em causa, mas os olhares viraram-se para outros problemas e
preocupações: nos anos 70, foi o tempo da racionalização do ensino, da
pedagogia por objectivos, do esforço para prever, planificar, controlar;
depois, nos anos 80, assistimos a grandes reformas educativas, centradas na
estrutura dos sistemas escolares e, muito particularmente, na engenharia do
currículo; nos anos 90, dedicou-se uma atenção especial às organizações
escolares, ao seu funcionamento, administração e gestão", lembrou o Reitor
da Universidade de Lisboa, que caracterizou aqueles períodos como momentos de
diminuição da capacidade de intervenção da profissão docente e de substituição
dos professores por "novas ferramentas".
Entretanto,
no início deste século XXI, realça Nóvoa, começa a notar-se a necessidade de
"dar uma nova centralidade à profissão docente".
"Quatro ideias muito simples"
apontadas à
valorização da profissão
Mais adiante, o prestigiado investigador deixou à apreciação da assistência
"quatro ideias muito simples" apontadas à valorização da profissão
docente.
A primeira: "é preciso
passar a formação de professores para dentro da profissão", é preciso
reforçar "a intervenção da profissão na formação dos seus
profissionais".
A segunda: "é preciso promover novos modelos
de organização da profissão". Nóvoa destacou a importância da cultura
profissional e afirmou, a propósito, como exemplo, que a profissão integra mal
os jovens profissionais na profissão ("por vezes, são para eles os piores
horários, as piores turmas e as piores escolas"). Realçou a importância do
trabalho de equipa, observando a dado passo:
"Grande
parte dos discursos torna-se irrealizável se a profissão continuar marcada por
fortes tradições individualistas ou por rígidas regulações externas,
designadamente burocráticas, que se têm acentuado nos últimos anos. A
colegialidade, a partilha e as culturas colaborativas não se impõem por via
administrativa ou por decisão superior. Mas, a exemplo de outras profissões,
como os médicos, os engenheiros ou os arquitectos, pode inspirar os
professores. O modo como construíram parcerias entre o mundo profissional e o
mundo universitário, como criaram formas de integração dos mais jovens, como
concederam uma grande centralidade aos profissionais mais prestigiados ou como
se predispuseram a prestar contas públicas do seu trabalho são exemplos para os
quais vale a pena olhar com atenção."
Segundo o Reitor da UL, há, entre os professores, "uma forte identidade
sindical", mas a cultura profissional "é ainda frágil". Matérias
fundamentais como a nova concepção de escola, a cultura colaborativa, capaz de
introduzir dinâmicas de diferenciação, e as referências profissionais marcaram,
nesta fase, a intervenção de António Nóvoa, atentamente seguida pelo auditório.
A terceira:
é a avaliação, abordada na perspectiva de elemento central, pilar da afirmação
das profissões, relacionado com os itens de confiança, credibilidade e
prestígio. Nóvoa deixou, nesta matéria, uma crítica contundente às
"práticas empobrecedoras" de avaliação. Depois de caracterizar três
formas possíveis de avaliação (inter-pares, como sucede no Ensino Superior;
externa, realizada pelos "experts"; e de mecanismos hierárquicos), o
Reitor da Universidade de Lisboa manifestou-se a favor da primeira, afirmando a
propósito: "Devem ser os professores a ocupar este espaço. Se não, serão
outros a fazê-lo".
A quarta: é preciso reforçar a
presença pessoal e pública dos professores. "Há que dinamizar a capacidade
de intervir publicamente", sublinhou António Nóvoa. "É ainda frágil a
intervenção dos professores no debate sobre as questões da Educação".
Depois, deu um exemplo significativo e deixou um desafio:
Nos
jornais "fala-se muito das escolas e dos professores. Falam os
jornalistas, os colunistas, os universitários, os especialistas. Mas há uma
ausência dos professores, uma espécie de silêncio de uma profissão que perdeu
visibilidade no espaço público. É necessário que os professores também marquem
presença, é necessário que os professores também aqui intervenham mais".
A força de uma profissão define-se, em grande parte,
pela sua capacidade
de comunicação com o público
"Hoje, impõe-se uma abertura dos professores ao exterior. Comunicar com a
sociedade é também responder perante a sociedade. Possivelmente, a profissão
tornar-se-á mais vulnerável, mas esta é a condição necessária para a afirmação
do seu prestígio e do seu estatuto social. Nas sociedades contemporâneas, a
força de uma profissão define-se, em grande parte, pela sua capacidade de
comunicação com o público", observou.
Nos momentos finais da sua intervenção, Nóvoa associou a revalorização da
cultura escolar e a redefinição da escola a uma visão de futuro e destacou a necessidade de construir uma escola centrada
na aprendizagem: não basta estar na escola, é preciso que todos aprendam na
escola!
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