sexta-feira, 25 de abril de 2014

'O Novo Tempo do Mundo'

O mais recente livro de Paulo Arantes (USP) promete ser daqueles que, analiticamente, não deixam pedra sobre pedra. Uma boa novidade por estas paragens, tão na mesmice acadêmica dos lugares comuns.  Chama-se 'O Novo Tempo do Mundo'. Abaixo, uma breve apreciação da obra. 


 
Pedro Rocha de Oliveira  
O que há de comum entre o extermínio colonial, os campos de concentração, a destruição nuclear mútua assegurada, e a criminalização da pobreza? Resposta: a sociedade moderna, com seu regime de guerra civil permanente e a “máquina de moer gente” da produção de mercadorias. Essa sociedade, que nasceu falando de sua própria novidade, nasceu também contando o tempo que –  quando o que está em jogo é o controle do trabalho – é dinheiro. Inventou a promessa do desenvolvimento perpétuo, a inclusão social total a perder de vista, o projeto civilizatório de uma felicidade-depois como paga do sofrimento-agora.
Mas na época em que o próprio dinheiro, no cassino geral do capitalismo especulativo, também virou coisa do futuro; em que a supostamente dourada aliança entre welfare state e corrida armamentista internacional deu lugar à combinação de neoliberalismo e militarização do quotidiano; em que a mercadoria colonizou a vida privada até o último pelo pubiano; em que o horizonte de contagem do tempo é a catástrofe ambiental, o colapso urbano, a emergência militar e a crise econômica; na época, enfim, do que Paulo Arantes há tempos já chama de “fuga para a frente”, o próprio adiamento, a relativização da vida, a espera, se transformou em fim-em-si-mesmo, espelhando e explicitando com fulgor sinistro a lógica circular da modernização-acumulação capitalista.Desde o Estado que combina agenciamento do sub-emprego e promoção do microcrédito à prática descarada da exceção, até as empresas que, através de violência econômica e extra-econômica, chantageiam povos inteiros, as típicas construções sociais modernas estão com os dentes de fora, mostrando a quê vieram, para quem quiser ver. E Paulo Arantes não desvia o olhar.
Lançando mão ocasional do seu sutil humor de cadafalso – procedimento de distanciamento que não tira ninguém do sufoco, mas devolve a ele com vitalidade renovada para a crítica do existente – o autor analisa a economia de guerra, a indústria dos presídios, os campos de extermínio, as revoltas nos guetos, o golpe militar, e promove a experiência conceitual cuidadosa e radical desse tempo novo que dá a sensação de que a novidade morreu, mostrando o enraizamento dessa sensação na pré-histórica história catastrófica do capitalismo, defrontando o leitor com a necessidade de rejeitar urgentemente sua continuidade tediosa, trabalhosa, patogênica, destrutiva – rejeitar seus escombros, que persistem em se manter de pé.
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Fonte: http://www.boitempoeditorial.com.br/v3/titles/view/o-novo-tempo-do-mundo3



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