Aí está, às vezes, o mal causado pelas conclusões/certezas precipitadas não tem retorno. Só o tempo faz ver, a quem se precipitou, o erro cometido. Os povos latinos costumam atribuir o 'sangue quente' a uma suposta característica universal do ser humano. Talvez seja melhor atribuí-lo a uma "característica universal de determinados seres humanos latinos". O certo é que não são poucos os males causados pelas certezas precipitadas, na esfera amorosa, profissional e de convivência em geral, como é realçado no texto abaixo. Ao modo oriental, é de se dizer que o silêncio faz brotar frutos prósperos ao longo do tempo. Certo estava Aristóteles ao falar da reflexão do sensato.
Por Robson Fernando de Souza
Um
dos grandes motivos das brigas de casais, das desavenças entre as pessoas e da
intolerância contra as diferenças é a certeza precipitada. É tomar a priori como certo um acontecimento ou
característica que não se sabe se realmente condiz com a realidade ou é apenas
uma crença infundada. É, aliás, transformar meras crenças factuais em certezas
absolutas que resultarão em conflitos muitas vezes desnecessários.
Por
exemplo, quando a diretoria da empresa pune um empregado que acabou impedido de
ir ao trabalho e avisar a tempo por que não pôde comparecer, como se
considerasse de antemão que a falta teria sido por “vagabundagem” ou
descompromisso com a missão da companhia. Ou então quando alguém, diante de uma
catástrofe natural, arroga que “foi castigo de Deus” sem ao menos saber as
causas geológicas ou climáticas por que tal cataclismo aconteceu.
A certeza precipitada também parece
ser a força motriz da opinião de conservadores que acreditam, por exemplo, que
os pobres o são porque “são preguiçosos” ou todos os criminosos o são por serem
“intrinsecamente maus”, sem nem mesmo terem o interesse de verificar se suas
crenças constituem a verdade. Assim como impele a polícia a prender um
indivíduo que, do alto de sua miséria, furtou do supermercado alguns pacotes de
arroz, como se tal furto tivesse sido indiscutivelmente movido por um “instinto
criminoso” a ser implacavelmente combatido com a força da lei.
Da mesma forma, é o impulso que move
todos os preconceitos. Racial, quando brancos racistas acreditam que negros,
pela cor da pele, tendem à bandidagem ou à incapacidade de vencer na vida.
Religioso, quando, por exemplo, cristãos intolerantes prejulgam ateus como se sua
descrença os fizesse ser pessoas más e infelizes. Homofóbico, quando um
intolerante crê que uma pessoa amar outra do mesmo sexo a predispõe a ser
sedenta de sexo homoerótico a todo momento e em qualquer lugar. Entre tantos
outros casos em que certezas infundadas rotulam minorias como se fossem “ruins”
por sua(s) característica(s) que as torna(m) minoritárias, ou um indivíduo
prejulga outro por características físicas ou de personalidade.
Graças a esse comportamento infeliz,
brigas movidas por ciúme destroem relacionamentos, vítimas das injustiças
sociais são tratadas como bandidos, o preconceito desgraça a vida de inúmeras
pessoas, políticas sociais são desdenhadas e desvalorizadas, entre tantas
outras consequências perniciosas que poderiam ser evitadas com uma reflexão
humana sobre a precipitação em dar uma certeza apriorística.
Para evitar tal mal, é necessário
questionarmos firmemente toda e qualquer crença precipitada que apareça em
nossa mente, antes que ela se firme como uma certeza a motivar brigas, preconceitos
e demais injustiças. Por exemplo, antes de acreditarmos que nosso(a)
namorado(a) estava nos traindo, vamos verificar se isso é verdade ou é apenas
uma impressão infeliz nossa.
Antes de acharmos que pobres são
preguiçosos e “vagabundos”, procuremos estudar as causas (não só individuais,
mas também sociais) de sua pobreza. Antes de julgarmos uma minoria como se
fosse dotada de uma característica odiosa, vamos conhecer de verdade essa
minoria, em seus costumes e crenças, antes de darmos qualquer julgamento
precipitado sobre ela. Antes de pensarmos que veganos são subnutridos por não
consumirem nada de origem animal, leiamos sobre nutrição vegetariana primeiro.
Antes que as certezas precipitadas nos
levem a cometer injustiças muitas vezes irreversíveis, adotemos para nossas
vidas a filosofia por trás do seguinte ditado atribuído a Aristóteles: “O
ignorante afirma. O sábio duvida. O sensato reflete.” Ao invés da certeza a priori, vamos dar lugar à dúvida sobre se aquela
crença que nos tenta a uma conclusão apressada condiz com a realidade, se a
impressão que temos sobre algo ou alguém representa uma verdade ou é só uma
impressão preconceituosa.
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Fonte: http://consciencia.blog.br/2013/04/o-mal-das-certezas-precipitadas.html#.UvUP-GJdVrn
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