Por Ivonaldo Leite
Após
trinta dias de aulas paralisadas no Campus IV da UFPB, onde sou docente, é
chegado o momento de fazer uma reflexão amadurecida a respeito. Historia
Magistra Vitae. A devida compreensão de um fato não pode ocorrer de
forma descontextualizada e nem fora de seu transcurso temporal. Entendamo-nos.
Diante
das deficiências infraestruturais do CCAE e de problemas correlatos, que
remontam ao período da sua criação, há um mês, os estudantes suspenderam a frequência
às aulas e passaram a demandar soluções. Tiveram o mérito de colocar em
discussão na ordem do dia, de forma efetiva, questões imprescindíveis ao
funcionamento do Campus.
No
decurso da valorosa iniciativa dos estudantes, um “quadro complexo” emergiu,
agregando-se a ele, por exemplo, professores com perspectivas distintas, e
surgindo até mesmo, recentemente, uma dissidência entre os próprios discentes,
que reivindica o retorno imediato às aulas. Com diversos interesses em jogo, a situação
é, digamos, “intrincada”.
Falemos francamente: entender devida e sistematicamente
a realidade social não é coisa para amadores, e nem tampouco é algo a ser
alcançado no calor dos atos e das emoções. Se ‘aparência e essência fossem a
mesma coisa, a ciência seria desnecessária’, conforme bem realça uma certa tradição
da teoria social. Desta, recolhamos ainda dois axiomas: 1) por vezes, o
propósito almejado por um ator (individual ou social) não é bem exatamente aquilo
que ele expressa; 2) um propósito anunciado por um ator (individual ou social) pode
ser o que parece; contudo, a intervenção de forças exógenas modifica o curso da
ação, de modo qualitativamente diferente, redefinindo objetivos.
Tendo
isso em conta, torna-se bastante “peculiar” a compreensão de alguns fatos derivados
do “quadro complexo” que vive o CCAE. Por agora, cito apenas um: a tentativa de
atribuir total responsabilidade à atual administração da UFPB pela situação
problemática verificada no Campus IV, quando, na verdade, o atual Reitorado está
em exercício há apenas oito meses, e assumiu sem que ocorresse o devido
processo de transição.
Após
trinta dias de paralisação das aulas, a maturidade no processo recomenda
sobriedade. Considerados o mês de agora e os da greve do ano passado, caminhamos
para contabilizar seis messes sem aula no Campus IV em um período
correspondente a um ano. Contudo, paradoxalmente, o CCAE tem um semestre
atrasado – ainda vive o semestre 2012.2.
Há
que se chegar, portanto, a uma resolução com brevidade. Em negociações,
abdicações e conquistas são faces de uma mesma moeda. Por vezes, quem tem o atributo
de conceder reconfigura o modus operandi,
refaz canais de interlocução; quem reivindica, deve ter presente que, numa mesa
de negociação, a dimensão temporal vai além do imediato, tendo-se daí
conquistas que são obtidas no momento e compromissos a serem honrados
posteriormente. In medio stat virtus
(a virtude está no meio, no meio termo).
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