sábado, 10 de agosto de 2013

Sobre a paralisação das aulas no Campus IV/UFPB (Parte I)


Por Ivonaldo Leite

Após trinta dias de aulas paralisadas no Campus IV da UFPB, onde sou docente, é chegado o momento de fazer uma reflexão amadurecida a respeito. Historia Magistra Vitae. A devida compreensão de um fato não pode ocorrer de forma descontextualizada e nem fora de seu transcurso temporal. Entendamo-nos.
Diante das deficiências infraestruturais do CCAE e de problemas correlatos, que remontam ao período da sua criação, há um mês, os estudantes suspenderam a frequência às aulas e passaram a demandar soluções. Tiveram o mérito de colocar em discussão na ordem do dia, de forma efetiva, questões imprescindíveis ao funcionamento do Campus.
No decurso da valorosa iniciativa dos estudantes, um “quadro complexo” emergiu, agregando-se a ele, por exemplo, professores com perspectivas distintas, e surgindo até mesmo, recentemente, uma dissidência entre os próprios discentes, que reivindica o retorno imediato às aulas. Com diversos interesses em jogo, a situação é, digamos, “intrincada”.
 Falemos francamente: entender devida e sistematicamente a realidade social não é coisa para amadores, e nem tampouco é algo a ser alcançado no calor dos atos e das emoções. Se ‘aparência e essência fossem a mesma coisa, a ciência seria desnecessária’, conforme bem realça uma certa tradição da teoria social. Desta, recolhamos ainda dois axiomas: 1) por vezes, o propósito almejado por um ator (individual ou social) não é bem exatamente aquilo que ele expressa; 2) um propósito anunciado por um ator (individual ou social) pode ser o que parece; contudo, a intervenção de forças exógenas modifica o curso da ação, de modo qualitativamente diferente, redefinindo objetivos.
Tendo isso em conta, torna-se bastante “peculiar” a compreensão de alguns fatos derivados do “quadro complexo” que vive o CCAE. Por agora, cito apenas um: a tentativa de atribuir total responsabilidade à atual administração da UFPB pela situação problemática verificada no Campus IV, quando, na verdade, o atual Reitorado está em exercício há apenas oito meses, e assumiu sem que ocorresse o devido processo de transição.
Após trinta dias de paralisação das aulas, a maturidade no processo recomenda sobriedade. Considerados o mês de agora e os da greve do ano passado, caminhamos para contabilizar seis messes sem aula no Campus IV em um período correspondente a um ano. Contudo, paradoxalmente, o CCAE tem um semestre atrasado – ainda vive o semestre 2012.2.
Há que se chegar, portanto, a uma resolução com brevidade. Em negociações, abdicações e conquistas são faces de uma mesma moeda. Por vezes, quem tem o atributo de conceder reconfigura o modus operandi, refaz canais de interlocução; quem reivindica, deve ter presente que, numa mesa de negociação, a dimensão temporal vai além do imediato, tendo-se daí conquistas que são obtidas no momento e compromissos a serem honrados posteriormente. In medio stat virtus (a virtude está no meio, no meio termo).



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