segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Paralisação das atividades no Campus IV/UFPB (Parte III)


Por Ivonaldo Leite
Dos fatores que desvirtuam o comportamento humano, três, por certo, sobressaem logo de imediato: os de caráter ontológico, os de agregação massificada e os de ideologias.  
No primeiro caso, o ser humano pode ser tomado por três elementos que têm a propensão de gerar três tipos de violência: 1) a competição, que gera o ataque aos outros; 2) a desconfiança, que origina a violência para se defender; 3) o desejo de glória, nutrindo-se bastante da vaidade, que faz emergir a violência (simbólica ou não) por causa de ninharias, de coisas pequenas - a pequenez. 
No segundo caso, temos as massas, o comportamento de grupos, multidões. As respostas em relação ao que consiste a diferença entre o comportamento de indivíduos e de grupos são diversas, mas podem ser congregadas sinteticamente, até porque as distinções são mais de grau do que de natureza. Se o medo, a alegria e a raiva são três emoções humanas fundamentais, quando relacionadas às multidões, elas se tornam, respectivamente, pânico, júbilo e hostilidade. O comportamento de massa pode levar as pessoas a fazer o que elas provavelmente jamais fariam se estivessem sozinhas. Evidentemente que a agregação coletiva é um meio imprescindível para obtenção de conquistas, mas não se deve perder de vista que os limites entre a "sabedoria" e a "loucura" das multidões é tênue, e isso envolve grandes riscos – nesse sentido, basta lembrar em que resultou a ação extasiada das massas nazi-fascistas ou de regimes, em “princípio bem intencionados”, como o do Khemer Vermelho no Camboja.  
No terceiro caso, estamos diante do conceito de ideologia. Visão social de mundo, falsa consciência, visão invertida da realidade, a ideologia tem sido uma formulação polissêmica. Dessa polissemia, importa reter que a absolutização de pontos de vista, o apego férreo a um conjunto de ideias, a incapacidade de fazer autocrítica, etc., alimenta a ideologia. Assim, as ideias passam a ter “vida própria”, sobrepondo-se ao que de fato a realidade é, levando então os seus portadores ao erro constante.
Neste artigo, o terceiro da série que tenho vindo a escrever sobre a paralisação das atividades no Centro de Ciências Aplicadas e Educação (CCAE)/Campus IV/UFPB, coloco em realce, preliminarmente, a abordagem a respeito dos referidos três fatores tendo em conta exatamente os últimos acontecimentos. Descontada a alta voltagem de ocasiões como as de uma paralisação de atividades, é chegado o momento da busca da razão, do bom senso e de se reconhecer como efetivamente os fatos são. É chegado o momento de se evitar o desvirtuamento de comportamento.
A cultura democrática não se fortalece quando, sobretudo numa universidade (que deve ser um exemplo para a sociedade), a comunicação cede lugar a meios que negam a interação e corroem a transparência e o respeito entre as partes.  Quando não se reconhece os passos processuais da negociação, e se constroem versões que desqualificam esses. Nesse sentido, não tem amparo na realidade a versão segundo a qual o diálogo esteve zerado desde a deflagração da paralisação, e que só no último dia 16/08 foi que ele ocorreu pela primeira vez. Por que negar que encontros anteriores aconteceram com a presença da própria Reitora e de representantes da sua equipe, de onde resultou, por exemplo, a abertura do RU de Rio Tinto? Dizer que o diálogo esteve zerado durante todo esse tempo não tem sustentação na realidade, e nem tampouco contribui para a resolução da situação e o encerramento da paralisação.
Em seu Ensaio Sobre a Lucidez, o escritor lusitano José Saramago afirma que, às vezes, determinada questão pode ser relevada, mas nunca o será se houver maneira de a usarem como pretexto. Que, nos próximos dias, sem desvirtuamentos, a paralisação das atividades no CCAE seja cessada, como resultado da negociação, e por inexistência de pretexto.





Um comentário:



  1. De modo particular, difícil pensar na realidade desses fatos e não pensar em literatura...
    A situação que se vive em face dessa paralisação, em alguns aspectos, faz-me lembrar de Orwell com o magistral “A Revolução dos Bichos”. Sobretudo, do grito da massa em virtude de qualquer oposição: “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”. Numa intensa tentativa de “convencer” a todos os bichos dessa ideia. Em consequência, não importa quem seja do grupo das “quatro patas”, ou das pernas... Todos são bons e todos são ruins, respectivamente. O desenrolar dos fatos, parece-me, revela a fraqueza e cretinice de algumas ações e posições por parte de quem, em nome do justo, age com injustiça. O que me lembra, também, Saramago: “Quantos cegos serão precisos para fazer uma cegueira.” (?) - Ensaio Sobre a Cegueira.
    Enfim, aguarda-se o desenrolar dos capítulos.




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