No filme Meia Noite em Paris, o ator Owen
Wilson, ao se perder pelas ruas da cidade, transforma-se em um viajante do
tempo, de volta ao passado. Regressar a passados distantes vividos ou
imaginados talvez seja um desejo acalentado por muitos e muitos em toda parte.
Mas só na memória isso é possível, porque a mente é eterna-mente. Viagem
memorial por paisagens que, assim, na mente, se afiguram como se o viajante as
observasse de um belevedere temporal.
Tal como pretender uma viagem ao tempo que já se foi tem uma nuance de
melancolia, olhar o tempo como que interrogando o porvir parece ser um ato misto de encanto e desencanto. Porque ‘a
cor do tempo quando passa’ revela tonalidades que descolorem a existência. Perante o registro fotográfico, a criança lança um olhar fixo
atravessando os ares do ambiente em que está e que vai imbuído de uma
inquietação posta para além da ideia dos pais de parar aquele momento, em foto,
para mostrá-lo no futuro. Mas, lembra Walt Whitman, “quão diferente é o
cheiro do meio dia do da meia noite, o cheiro do outono do cheiro do inverno, o
de um momento de brisa de outro de calma.”
Falava Nietzsche que a criança
está para além do bem e do mal, e que, com
a força do seu olhar intelectivo e da sua penetração, cresce a distância (e, de
certo modo, o espaço) que circunda o homem: o seu mundo torna-se mais profundo,
avistam-se continuamente novas imagens e novos enigmas. Não sabemos até que
ponto. É provável que nunca saibamos. Mas deve ser colocada a hipótese segundo a qual,
no registro fotográfico, a criança, numa atitude similar à da Física Clássica,
fita o escoar do tempo que constitui tal momento indagando-se sobre o
significado do registro que está a ser feito. Olhos do crescimento na
observação do tempo: encanto e desencanto juntos. Nietzsche novamente: talvez
em tudo aquilo que, um dia, o olhar exercitou - desde cedo - a sua sagacidade e
profundidade venha a ser a razão da volta ao ponto inicial. A ideia de eterno
retorno.