sábado, 7 de outubro de 2017

Na solidão que te acompanha, a verdade do vento do tempo é a tua companhia


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Por Leont Etiel

Nas portas que se toca, está escrito: “não abras nenhuma se, depois, não conseguires fechar qualquer uma delas.” É do hinduísmo, o que, no Ocidente,  é percebido como mito,  sendo que o que não é e a promessa do que não vai ser, no reverso, coloniza as mentes que pretendem ser.
A viagem era com Freud e Jung, e o assunto - com pequenas, médias e grandes modelações – pousava sobre os sonhos. Eles viajaram juntos durante quase dois meses. E puseram a análise do que sonhavam sobre a mesa. Freud, contudo, temendo o descenso da sua autoridade,  recusou a Jung a análise do seu sonho. Este, de sua parte, revelando o que a mente falava, enquanto os seus olhos fechavam, tinha um sonho complexo. Tratava-se de uma casa com vários andares e porões, os quais ele percorria até aportar a um espaço imensamente profundo que era uma caverna cavada numa rocha. Nela, o confronto era com duas caveiras. Freud ali via uma pulsão de morte; do contrário, Jung, tinha a percepção que a questão era de “inconsciente coletivo”.
Do que, na noite, se sonha e do que a mente pensa e deseja, há pouco a falar e muito a pensar. E muito a interpretar. E revelar o que está escondido por palavras ditas, que são ditas para não dizer, ocultar, o que, por trás delas, constitui o que é. Na estrada que se caminha,  sem pensar, quase sempre se concebe a “verdade” antes do primeiro passo. O que vai ser, é já o que é.
O universo que tanto torna cada um minúsculo. O céu estrelado que me habita. A corrida do tempo que fará com que cada um, numa idade surrealisticamente mal percebida, seja remetido ao ridículo e, afundando-se, ao nada.  Nos corredores, há sinais dispersos; na vida, há sinais enigmáticos. Na dispersão do tempo, as passagens da vida são não passagens de uma vivência que se desperdiça no que poderia ser, no que não foi, no que pode ser, no que há de ser, no que não vai ser.

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A cauda do cometa do romantismo insistente: o surrealismo. Na solidão que te acompanha, a verdade do vento do tempo é a tua companhia. Para onde se vai, é o sentimento não dito em palavras fáceis. É do cerne guardado. A casa distante e próxima que acolhe. Os ares que dizem flores. Segue-se, assim, a via da alta serra, desenhada em cruz, numa cruz da serra, numa imagem distante, numa fotografia próxima, numa vida vivida, numa casa de histórias e segredos, numa idade que olha para tudo e diz: “continua”; numa existência que pretende seguir buscando apoio naquilo que o tempo, surpreendendo, apresenta. 
O porto que abriga é quase sempre um caminho para dentro de si próprio. Contemplado de uma morada situada em um alto horizonte indecifrável.