Por Leont Etiel
Nas portas
que se toca, está escrito: “não abras nenhuma se, depois, não conseguires
fechar qualquer uma delas.” É do hinduísmo, o que, no Ocidente, é percebido como mito, sendo que o que não é e a promessa do que não
vai ser, no reverso, coloniza as mentes que pretendem ser.
A viagem era
com Freud e Jung, e o assunto - com pequenas, médias e grandes modelações –
pousava sobre os sonhos. Eles viajaram juntos durante quase dois meses. E
puseram a análise do que sonhavam sobre a mesa. Freud, contudo, temendo o
descenso da sua autoridade, recusou a
Jung a análise do seu sonho. Este, de sua parte, revelando o que a mente
falava, enquanto os seus olhos fechavam, tinha um sonho complexo. Tratava-se de
uma casa com vários andares e porões, os quais ele percorria até aportar a um
espaço imensamente profundo que era uma caverna cavada numa rocha. Nela, o
confronto era com duas caveiras. Freud ali via uma pulsão de morte; do
contrário, Jung, tinha a percepção que a questão era de “inconsciente
coletivo”.
Do que, na
noite, se sonha e do que a mente pensa e deseja, há pouco a falar e muito a
pensar. E muito a interpretar. E revelar o que está escondido por palavras
ditas, que são ditas para não dizer, ocultar, o que, por trás delas, constitui
o que é. Na estrada que se caminha, sem
pensar, quase sempre se concebe a “verdade” antes do primeiro passo. O que vai
ser, é já o que é.
O universo
que tanto torna cada um minúsculo. O céu estrelado que me habita. A corrida do
tempo que fará com que cada um, numa idade surrealisticamente mal percebida,
seja remetido ao ridículo e, afundando-se, ao nada. Nos corredores, há sinais dispersos; na vida,
há sinais enigmáticos. Na dispersão do tempo, as passagens da vida são não
passagens de uma vivência que se desperdiça no que poderia ser, no que não foi,
no que pode ser, no que há de ser, no que não vai ser.
A cauda do
cometa do romantismo insistente: o surrealismo. Na solidão que te acompanha, a
verdade do vento do tempo é a tua companhia. Para onde se vai, é o sentimento não dito
em palavras fáceis. É do cerne guardado. A casa distante e próxima que acolhe.
Os ares que dizem flores. Segue-se, assim, a via da alta serra, desenhada em
cruz, numa cruz da serra, numa imagem distante, numa fotografia próxima, numa
vida vivida, numa casa de histórias e segredos, numa idade que olha para tudo e
diz: “continua”; numa existência que pretende seguir buscando apoio naquilo que
o tempo, surpreendendo, apresenta.
O porto que
abriga é quase sempre um caminho para dentro de si próprio. Contemplado de uma
morada situada em um alto horizonte indecifrável.