quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Entrando numa bolha

Na Folha de São Paulo (versão online para assinantes), Mark Weisbrot, Diretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas de Washington, volta a tratar da 'questão das bolhas'. Desta feita, tendo como foco a situação do câmbio/dólar na Venezuela. Embora seja focado num caso específico, o artigo tem significativo valor para o entendimento do problema das bolhas, e assim é útil para entender o que tem sido realçado, como advertência,  para o Brasil, no tocante ao setor imobiliário. A seguir, o texto. 


Por Mark Weisbrot

As bolhas de ativos são tão antigas quanto o mercado. Podem ter origens e especificidades históricas diferentes, mas a dinâmica fundamental é relativamente simples.
As pessoas compram algo porque seu preço está subindo e elas acreditam que subirá mais. Isso empurra o preço ainda mais para cima e convence mais pessoas a comprar pela mesma razão. Até a realidade se impor, e a bolha desabar.
Os Estados Unidos tiveram as duas maiores bolhas de ativos da história mundial nas duas últimas décadas: a bolha do mercado de ações, que estourou em 2000-2002, e a bolha imobiliária, que se desfez em 2006. As duas tiveram consequências graves: ambas provocaram recessões ao estourar, tendo a bolha imobiliária desencadeado a Grande Recessão, nossa pior recessão desde a Grande Depressão.
As bolhas foram especialmente dolorosas para as pessoas que compraram os ativos quando estavam no pico ou perto dele. Milhões de pessoas perderam suas casas quando a bolha imobiliária estourou.
Olhemos agora para a bolha de ativos do momento: na Venezuela, vê-se uma bolha do mercado negro de dólares. De acordo com informações disponíveis, a cotação já chega a 59 bfs (bolívares fortes) por dólar, sendo que, em janeiro, era 18 bfs. A taxa de câmbio oficial é 6,3 bfs por dólar, e há outra taxa de câmbio determinada em leilões do governo e que estaria em torno de 12 bfs.
A que se deve essa alta recente tão rápida no preço do dólar no câmbio negro? A razão principal é que as pessoas preveem que o dólar continue a subir, assim como, em 2006, os americanos previam que os preços dos imóveis residenciais nos Estados Unidos continuariam a crescer.
Mas não há razão digna de crédito para que isso aconteça. É verdade que a inflação subiu no último ano, mas a alta não está ficando acelerada, nem mesmo é consistente. A inflação chegou ao pico em maio, a 6,1% no mês, e, em agosto, já tinha caído para 3%. Desde então, voltou a subir, chegando a 4,4% em setembro e 5,1% em outubro, mas é evidente que não se trata de um cenário de hiperinflação.
O governo diz que não tem planos de desvalorizar o bolívar forte, mas, mesmo que deixasse a moeda venezuelana flutuar livremente em relação ao dólar, ela nunca se estabilizaria a um nível que nem sequer chega perto da taxa no mercado negro.
Assim, um venezuelano que adquire dólares no câmbio negro agora porque pensa que é um ativo de valor ou uma proteção contra a inflação está comprando ativos de uma bolha. Seria como comprar no Nasdaq, nos Estados Unidos, quando estava a 5.050, em março de 2000. Em outubro de 2002, o Nasdaq caiu para 1.140 e ainda hoje, mais de dez anos depois, está em 3.860.
É claro que todas as bolhas têm explicações populares que justificam que se entre na onda. Quem não se lembra da "nova economia" nos Estados Unidos, usada para justificar preços que não guardavam relação alguma com a realidade no mercado de ações? Na Venezuela, muitas pessoas pensam que, ao comprar dólares, estão fazendo uma aposta na qual não têm como sair perdendo. Elas vão se surpreender quando a bolha estourar.
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