domingo, 31 de março de 2013

O Dia que Durou 21 Anos


A propósito do conhecimento histórico, escreveram Marx e Engels que 'conheciam apenas uma ciência, a ciência da história'. Se for tomada de forma acrítica, esta afirmação pode levar ao equívoco de se abonar, por exemplo, o historicismo conservador (com Ranke, Droysen, Sybel, dentre outros, à frente). Mas há que se continuar a ressaltar que a 'luz do conhecimento histórico' é condição para outros conhecimentos. Neste sentido, o documentário o Dia que Durou 21 Anos, sobre o Golpe Civil-Militar de 1964 no Brasil, é um exemplo paradigmático. Abaixo, uma reportagem a respeito do mesmo, realizada pela Folha de São Paulo (edição do dia 29/03/2013) 


Documentário 'O Dia que Durou 21 Anos' busca papel dos EUA no golpe de 1964

PATRÍCIA BRITTO

Diálogos do presidente dos Estados Unidos revelados em gravações da Casa Branca, uma frota naval com um porta-aviões e navios torpedeiros parte da costa norte-americana em direção ao Brasil e um plano de contingência prevê detalhes de um golpe de Estado no maior país da América Latina.
Essas cenas não são de um filme de ficção. Elas estão no documentário brasileiro "O Dia que Durou 21 Anos", que estreia hoje nos cinemas -- às vésperas do aniversário de 49 anos do golpe militar de 1964.
Com direção de Camilo Tavares, o filme destaca o papel dos Estados Unidos para a criação de um ambiente que resultaria no golpe para derrubar o presidente João Goulart, dando início aos 21 anos da ditadura militar no Brasil.

O então presidente dos EUA, John F. Kennedy, e o então embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, na Casa Branca em abril de 1962
O então presidente dos EUA, John F. Kennedy, e o então embaixador
dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, na Casa Branca

A origem da pesquisa para o filme coincide com a busca pela origem de sua própria história, diz Camilo, que nasceu no México, onde seus pais viviam exilados, em 1971, no auge da ditadura militar.
Camilo é filho de Flávio Tavares, um dos 15 presos políticos libertados em troca do embaixador norte-americano sequestrado, Charles Elbrick.
"Queria entender por que sequestraram um americano. A gente tem pouca noção de quanto os Estados Unidos interferiram [no golpe]. Então o filme foi uma busca por essa resposta", disse à Folha.
Resultado de uma pesquisa que durou mais de três anos, o documentário usa como fonte gravações de diálogos da Casa Branca de 1962 a 1964, recentemente tornadas públicas.
Entre elas, uma de junho de 1962 em que "o embaixador dos EUA no Brasil Lincoln Gordon expõe ao então presidente John F. Kennedy a necessidade de uma infiltração nas Forças Armadas brasileiras", conta Flávio Tavares, pai de Camilo e que também participou da produção.
Telegramas do Departamento de Estado dos EUA e arquivos de ex-presidentes norte-americanos também são usados como fontes e revelam "ordens expressas para uma infiltração nas Forças Armadas brasileiras", diz Flávio.
Segundo relatos no filme, a interferência seria consolidada pelo embaixador Gordon e pelo general Vernon Walters, adido militar dos EUA no Brasil de 1962 a 1967.
Os documentos detalham a operação Brother Sam, deflagrada em 31 de março de 1964 e que consistia em uma frota naval vinda dos EUA em direção ao Brasil --que invadiria o país caso não fosse bem sucedida a derrubada do presidente João Goulart.

Comício na Central do Brasil, no Rio, em 1964, em que o presidente João Gourlart pede apoio para as reformas de base
Comício na Central do Brasil, no Rio, em 1964, em que o presidente João Gourlart pede apoio para as reformas de base

O apoio logístico da Marinha dos EUA contava com porta-aviões, navios petroleiros, torpedeiros, aviões-caça e munição. Com a confirmação do golpe, a operação foi desativada, quando se encontrava no mar do Caribe.
O filme traz ainda detalhes de um plano de contingência que previa as etapas do golpe. Entre elas, um Estado deveria se declarar contra o governo de Jango, como fez Minas Gerais, e os EUA deveriam reconhecer um presidente constitucional antes de um militar, como ocorreu com o então presidente da Câmara, deputado Ranieri Mazzilli.
"Foi chocante encontrar esse plano, porque ele previu exatamente o que aconteceu", disse o historiador Carlos Fico, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), um dos entrevistados no filme de Camilo Tavares.

O DIA QUE DUROU 21 ANOS
DIREÇÃO Camilo Tavares
PRODUÇÃO Brasil, 2012
ONDE Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca 4 e Reserva Cultural 1
CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1254117-documentario-o-dia-que-durou-21-anos-busca-papel-dos-eua-no-golpe-de-1964.shtml

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