ANALFABETO
DE PENSAMENTO
Por José Francisco de Melo Neto
Há um
tipo de analfabeto, pouco divulgado, que é aquele promovido pela própria escola
institucionalizada, presente na escola fundamental e no ensino médio, na escola
universitária, inclusive, no seu mais elevado nível acadêmico, os cursos de
doutoramento. Ele sabe ler, escrever, usa a informática, trabalha, ensina e
pesquisa, mas não aprendeu a pensar e buscar o novo. É o analfabeto de pensamento, de ideias.
A
escola, desde a alfabetização, procura inserir a criança nas linguagens e
códigos da língua materna. Nesse momento, exercita-se o aprendizado das letras,
escrita e falada, considerado correto, tanto em forma como em conteúdo. Essa
caminhada continua em nível das séries seguintes, até o nono ano. No ensino
médio, continua o seu estudo na matemática e suas tecnologias, nas ciências naturais
e suas tecnologias, nas linguagens e códigos e suas tecnologias, além das
ciências humanas e suas tecnologias. Aceitável se faz entender que esse nível
escolar seja mesmo aquele que assegure a aprendizagem dos conhecimentos
existentes, desejando que eles se tornem senso comum para toda a população. A
pedagogia da repetição é a técnica por excelência de todo esse processo. Tal
recurso invade ainda os cursos técnicos com o enfático discurso de que
importante é o saber fazer, priorizando
unicamente uma competência técnica, mesmo que o mundo esteja a cobrar uma
competência ampla para a vida. Na universidade, permanece a não preocupação
para com a produção do conhecimento novo, mesmo em cursos como o doutoramento,
cuja função principal é a busca desse algo. O percurso escolar, dessa maneira,
torna-se um permanente exercício de mera reprodução do conhecimento dominante, em
todos os níveis da educação no país e em todos os campos do conhecimento, com poucas
contradições.
Tal
pedagogia tem levado à falta da inovação em todos os setores das ciências e
tecnologias, no empreendedorismo, no campo econômico, e, no campo político, à falta
de políticos e de projetos políticos que possam alavancar estados com menor
força econômica ao cenário nacional. Sem terem aprendido a pensar algo
diferente, sem procurar alternativas, convertem-se em meros mendigos da
política nacional. E, no campo da qualidade da educação, pode-se assistir a
queda da média nas ciências e suas tecnologias, em provas do ENEM, como neste
último ano. Acarreta um desleixo para com a redação nesta mesma prova,
deixando-a de lado nas contagens técnicas das médias das escolas e dos alunos.
Nos programas
de pós-graduação, particularmente mestrado e doutorado, os docentes engalfinham-se
no malabarismo geral de uma burocracia crescente, em busca de melhores conceitos
avaliativos, esquecendo-se da sua meta principal - a produção do conhecimento novo. Claro é que não se trata de se
descobrir permanentemente a roda. Vive-se a mais renhida competitividade,
conduzindo-os a uma dedicação muito maior à ocupação de responderem relatórios
e questionários solicitados por órgãos públicos (Capes, CNPq e outros) do que
mesmo ao seu trabalho específico de pesquisa e ensino. Estabelece-se uma
produção acadêmica a qualquer custo, a pedagogia da
repetição, para atender aos ditames desses órgãos, pois isto lhes assegurará
mais bolsas ou menos bolsas e o conceito do programa. É a produção desenfreada
de mais livros, artigos para revistas internacionais, relatórios de pesquisas, nenhuma
produção local, pois o local não pontua, busca de revistas indexadas, curtos
prazos de conclusão de pesquisa tanto no mestrado como no doutorado,
significando tudo isto a qualidade do trabalho acadêmico.
O País
também precisa aparecer bonito no ranqueamento mundial da corrida acadêmica, mesmo
que tudo isto não passe de mera reprodução de conhecimento. As construções das
monografias, sejam dissertações ou teses, do ponto de vista de incentivo ao
pensamento novo, estão formando muito mais uns “baitas” técnicos em citações de
pensamentos alheios, sumindo da construção do seu próprio pensamento – o exercício da crítica.
Como
se vê, bacana é o professor ser um doutor no pensamento de fulano ou de sicrano,
mesmo que seja isto importante. Ficando apenas nisto, contudo, perde-se definitivamente
a capacidade de também se tornar um pensador. Deste, há no país uma grande
necessidade: é urgente o repensar a atividade docente em todos os níveis da
escola, procurando superar esse ensino e essa pesquisa sem novidade para o
conhecimento que a transformou em mera fazedora de analfabetos sem ideias
novas, sem pensamento novo.
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