Peter Chimbos é um sociólogo da Universidade
de Western, Canadá. Realizou uma notável pesquisa sobre o ciúme, envolvendo
cerca de 1.300 casos. O estudo traz à baila as diversas manifestações que
habitam esse sentimento. Aliás, a
atenção a esse tema é algo que vem de longe. Certa vez disse Shakespeare:
‘De torturas infernais padece aquele [e aquela] que, amando, duvida, e,
suspeitando, adora’. Assim ele dizia tendo com referência a obra Otelo, O Mouro de Veneza, que trata
marcadamente do ciúme – e daí os psiquiatras tiraram a expressão Síndrome de Otelo para designar o ciúme transformado em patologia. Na obra, o vilão Iago, um alferes que sente inveja
do general Otelo, resolve atacá-lo em sua maior fraqueza: a insegurança em
relação à sua mulher, Desdêmona. Insinua Iago que ela tem um caso com um
subordinado de Otelo, chamado Cássio. E então a alma do general sucumbe em
terrível tormento, e a sua imaginação transforma simples fatos banais em provas
cabais da traição. Ao ver, por exemplo, Desdêmona com as mãos úmidas, logo
conclui que é decorrência de ela esconder algo – mas, na verdade, ela estava
ansiosa. Sem mais palavras, o desfecho da história foi trágico. Dentre as
diversas contribuições da pesquisa sociológica de Peter Chimbos sobre o ciúme,
está a de mostrar a face obscura dessa manifestação, o pathological jealousy, e, ao mesmo
tempo, introduzir racionalidade num terreno que, exalando subjetividade, tende
a promover a cegueira da fúria e a desprezar a razão.
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