quarta-feira, 11 de junho de 2014

Igor Leite - 'No Veneno da Bala'

Igor Leite é delegado em Pernambuco, e está a anunciar a escrita do livro de ficção 'No Veneno da Bala'. A seguir, reproduzo um breve trecho da primeira parte.

Igor Leite: Ficção, bala e veneno 
Depois dos tracejados vermelhos e enfumaçados, um estrondo contínuo e ensurdecedor. O céu tinha testemunhado a fúria de um míssil, que cruzou o oceano e a tarde, atingindo em cheio a Penitenciária de Segurança Máxima da cidade. Foi o primeiro ataque dos Estados Unidos da América (EUA) ao Brasil. Ninguém poderia imaginar. Seria o início de uma guerra de proporções e consequências inimagináveis?
Difícil dizer. De início, ao observar o céu, ninguém sequer entendeu coisa alguma. Parecia um desastre aéreo. Não seria a primeira vez em Pernambuco. Minutos depois e uma chamada urgente nos canais de televisão dava conta da realidade. Um repórter, em choque, narrava cenas de terror, apontando o local onde caíra o míssil e onde antes ficava a penitenciária. Agora não passava de um aterro de escombros.  Poeira cinzenta ainda escurecia o quarteirão, formando uma névoa onde apenas se viam pedras e alguns bombeiros em transe, revirando os escombros. O repórter, ainda confuso, dizia que o alvo seria um posto militar avançado da inteligência. Na penitenciária? Em Pernambuco? Ninguém entendeu muita coisa. Nem mesmo aquele jornalista, que vomitava as notícias em descrença.
O fato é que nada restou. O resultado foi a morte imediata de aproximadamente seis mil presos, uma dezena de carcereiros, oito policiais militares e uma quantidade de visitantes e advogados ainda desconhecida. Apenas vizinhos foram ainda socorridos, com lesões leves e sequelas psicológicas irrecuperáveis (...).
Era o caos. E o delegado Aguiar, assim como o resto da população, tomava conhecimento das notícias pela imprensa. Aguiar estava em sua sala, folheando uma investigação, quando ouviu o estrondo. Correu da sala com a arma em punho, sem saber o que esperar. Não viu mais nada no céu. A coisa toda foi muito rápida. Ouviu então apenas o relato dos transeuntes, que viram o jogo de fogo e som que cortou o céu (...).  


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