quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Existir é autopromover-se?


Extratos de um texto de Umberto Eco - curtos, mas significativos. 
Eco: risco da busca de notoriedade a qualquer preço 

Umberto Eco 

1. Já há algum tempo a ênfase na reputação cedeu lugar à ênfase na notoriedade. O que importa é ser “reconhecido” pelos outros. Não no sentido de estima ou de prêmios, mas no sentido mais banal de quando se é visto na rua podem dizer: “Olhem, é ele/a”. A chave está em ser visto por muita gente e a melhor forma de fazer isto é aparecer na TV. 

2. Pelo menos na Itália esses primeiros heróis foram os “papagaios de pirata” que na noite seguinte num bar ouviam: Vi você na TV, ontem. Mas a fama não durava muito tempo. De forma que gradualmente foi aceito que para poder fazer aparições frequentes e proeminentes, era necessário fazer coisas que, em épocas passadas, teriam arruinado a reputação de uma pessoa. 
3. Não é que não se aspire a ter uma boa reputação, mas é bastante difícil adquiri-la. É mais fácil converter-se em uma pessoa de interesse popular, especialmente, o que facilita, nas variedades mais mórbidas. Não estou brincando. Esses momentos de exposição e notoriedade bem valem até um tempinho na cadeia. 
4. Esse desejo frenético de ser visto, e de obter notoriedade a qualquer preço, mesmo que signifique fazer algo que antes era considerado vergonhoso, é porque se vai perdendo o sentido da vergonha, pois, atualmente, é mais importante ser visto, ainda que isso signifique o risco de cair em desgraça.
5. É tanto o valor que se dá ser visto, e assim converter-se em tema nas conversas, que pessoas estão dispostas a abandonar, sem temores, o que antes era chamado de decência (e até a proteção da própria privacidade).
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Fonte: http://cesarmaia.blogspot.com.br/

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